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Elis, Raul, Legião: parceria entre marcas e músicos falecidos resultam em sucesso

Com auxílio da tecnologia, campanhas nostálgicas ganham notoriedade

A Volkswagen criou um comercial com a presença da Elis Regina (Wikimeia Commons/Wikimedia Commons)

A Volkswagen criou um comercial com a presença da Elis Regina (Wikimeia Commons/Wikimedia Commons)

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Publicado em 18 de julho de 2023 às 13h00.

Por Denis Zanini Lima e Kelly Pinheiro*

O fato do mês – talvez do ano – no mundo da publicidade brasileira foi a propaganda comemorativa dos 70 anos da Volkswagen no Brasil. O comercial, que causou as mais diferentes emoções e reações do público e dos especialistas, trouxe, por meio da inteligência artificial, Elis Regina (falecida em 1982) de volta para um dueto com a filha Maria Rita.

Bom… isso você já sabe e, muito provavelmente, já tenha se inteirado da repercussão e até tomado um partido. Sobre o uso da inteligência artificial, o quanto ganhou a família da cantora e do autor da música, se a letra da música é ou não compatível com a história da montadora do Brasil, muito já se discutiu e é bem possível que não haja uma conclusão sobre nenhum desses temas.

Mas é inegável que a campanha prestou um grande serviço à marca Elis Regina, apresentando a cantora gaúcha - considerada por muitos a maior da história do Brasil - a gerações que não tinham conhecimento do seu repertório e seu talento. Quem sabe, nem da sua fisionomia.

A partir dessa propaganda, a Pimentinha (como era conhecida a cantora) passou a figurar entre os temas mais comentados e pesquisados da internet. Numa pesquisa rápida no Google, as quatro primeiras sugestões foram: "comercial Elis", "comercial Elis Regina", "comercial Volkswagen" e "comercial Kombi". Talvez isso seja um bom indicativo não apenas do sucesso da peça publicitária, mas do quanto o interesse do público se voltou para a artista.

Certamente, essa onda também reverberou no Spotify, onde a música da campanha aparece como melhor resultado para a busca da artista. A canção tema chegou a mais de 71 milhões de audições, perdendo apenas para "Águas de Março", parceria com Tom Jobim, com 141 milhões. Por tabela, a ação publicitária foi capaz de jogar holofotes também em Belchior (o compositor de "Como os nossos pais").

Mas não é de hoje que marcas e artistas falecidos fazem uma dobradinha de sucesso, em uma sinergia que dá projeção a ambos.

Parceria com figuras eternas

Em 2011, a Vivo produziu uma das primeiras campanhas virais da publicidade brasileira, usando o YouTube e outras redes sociais para divulgar a peça do Dia dos Namorados da operadora com a música "Eduardo e Mônica", a história de amor mais cantada do Brasil, composta por Renato Russo – já falecido na época – e eternizada pela Legião Urbana.

Com a criação da Africa e produção da 02 Filmes, o vídeo de 4 minutos é como um clipe – que nunca existiu – para a música, contando a jornada do casal mais famoso da música brasileira. Além da internet, a campanha foi veiculada nos cinemas e na televisão, em uma versão mais resumida. A Vivo chegou a criar perfis no Facebook para os artistas que interpretavam o Eduardo e a Mônica, contando os bastidores da produção.

Pelo gatilho emocional embutido na música tema, a repercussão foi estrondosa, sendo o assunto mais comentado nas redes por dias e dias e, claro, serviu para que os mais jovens conhecessem mais sobre a famosa banda de Brasília que seus pais amam.

Em 2017, a Skol convidou a filha do cantor Raul Seixas, Vivi Seixas, para comandar um coro coletivo de "Metamorfose Ambulante" com centenas de sósias e músicos para participar da homenagem. O objetivo da campanha foi convidar as pessoas para se unirem por uma vida sem preconceitos e mostrar que a Skol prefere ser uma metamorfose ambulante a ter as mesmas ideias quadradas do passado.

Em seu novo posicionamento, a marca revolucionou o mercado da categoria intensificando em todas as suas ações a necessidade de romper com preconceitos, sem julgamentos de estereótipos. De quebra, apresentou o eterno Maluco Beleza para uma geração que não o conhecia.

Rita Lee nos deixou há pouco, mas não seria nada estranho se daqui algum tempo marcas voltassem a usar suas músicas e sua imagem. Afinal, além de ser a Rainha do Rock brasuca, ela era a Rainha da Publicidade.

Para citar alguns exemplos, em 1983 a música "Felicidade" (Lupicínio Rodrigues), interpretada por Rita, deu o tom a uma publicidade da Rider. A mesma marca escalou Marina Lima para interpretar "Nem luxo, nem lixo", de Rita e Roberto, tempos depois. Em 1985, foi a All Star que convidou a dupla para estrelar uma peça comercial. E em 2021, a cantora fez a narração do anúncio de lançamento de uma nova fragrância da Natura, com trechos da sua música "Jardins da Babilônia".

Voltando ao caso da campanha dos 70 anos da Volks, do ponto de vista de branding, os filhos de Elis e a montadora acertaram em cheio. Fizeram com que antigos fãs se lembrassem da cantora, apresentaram a mãe às novas gerações e, de quebra, fizeram o mesmo pela marca "Maria Rita".

Quanto tempo esse movimento na web vai continuar, não se sabe, mas ele pode ser muito bem aproveitado e prolongado. A agência AlmapBBDO – responsável pela peça - não escolheu mãe e filha como "garotas-propaganda" da montadora à toa. Mas a excelência do filme também proporcionou a elas uma grande visibilidade e oportunidade de valorização das obras (e marcas) de Elis, Belchior e Maria Rita.

*Denis Zanini Lima é diretor da Ynusitado Marketing Digital Intelligence e Kelly Pinheiro é jornalista e fundadora e sócio-diretora da Mclair Comunicação

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