O que veio primeiro, o ESG ou a reputação? (chee gin tan/Getty Images)
Head da Beon - Colunista Bússola
Publicado em 27 de junho de 2023 às 20h30.
Última atualização em 13 de outubro de 2023 às 20h42.
Dada a alta correlação entre os temas, é comum que perguntem o que vem primeiro: o ESG ou a reputação?
Para responder essa questão é preciso antes de tudo entender o que chamaremos de reputação. O conceito tem a ver com o que pensam de nós. Que por sua vez tem influência direta em como somos tratados e nas decisões que as pessoas tomam em relação às nossas empresas e a nós mesmos.
Abraham Lincoln, Sócrates e Warren Buffett são três nomes pouco usuais de se imaginar juntos, mas tem algo em comum: todos se debruçaram sobre o tema da reputação, com uma conclusão parecida: reputação é valiosa, construída aos poucos e pode ser perdida em instantes.
Para Lincoln, o caráter é como uma árvore e reputação é sua sombra. Ou seja, a percepção reflete o mundo real. Gostamos de sombras frondosas, mas nem sempre estamos dispostos a nutrir, adubar, irrigar e proteger a árvore – ou o caráter – de modo que possamos crescer, no melhor sentido da palavra, como pessoas ou instituições.
Warren Buffett, investidor que é um dos grandes personagens do capitalismo global, parece concordar com o 16º presidente dos EUA. Para ele, “são necessários 20 anos para construir uma reputação e cinco minutos para destruí-la.” Talvez hoje em dia os cinco minutos sejam alguns segundos, o que evidencia ainda mais a sensibilidade deste ativo tão fundamental e crítico. Como várias outras ideias, estas também não são exatamente novas. O filósofo Sócrates já dizia que “a maneira de se conseguir boa reputação é se esforçar para ser aquilo que deseja parecer”.
Enfim, acho que agora está colocado que independente do seu viés ideológico e premissas filosóficas, reputação é um reflexo da verdade, que deveria pautar nossas ações, reflexões e comunicações. É algo que parece muito básico de se dizer e podemos até argumentar que se trata de uma questão de valores humanos. O ponto agora é que mesmo na mais pragmática das abordagens também vale a pena adotar essa postura.
Tudo isso é importante para nossas organizações, mas também para o planeta. Porque os desafios do momento atual são gigantescos. Para prosperar, a agenda da sustentabilidade depende profundamente de mudanças de comportamento em larga escala.
Se a forma como percebemos o mundo está na raiz do nosso comportamento, as informações e análises recebidas são o começo deste processo tão profundo. Especialmente no tempo em que vivemos, marcado pela hiperconectividade, ativismo e demanda crescente por transparência, na medida em que a sociedade se educa sobre os riscos das fake news e campanhas de manipulação informativa.
Nesse sentido, nossas organizações têm um papel relevante, como fontes de confiança para nossos diversos públicos de relacionamento. Temos visto via pesquisas como as empresas são interlocutoras vistas como mais confiáveis por diversos públicos, especialmente seus funcionários, muitas vezes à frente de imprensa e governo.
Ativo raro nos dias atuais, mas fundamental para o próprio funcionamento da sociedade, a confiança é a base de equipes produtivas e engajadas. É por causa da confiança que escolhemos bons investimentos - outra frase que poderia ser dita por Warren Buffett. É na confiança que estabelecemos boas relações pessoais, profissionais e institucionais.
Confiança se constrói com consistência. Promessa, entrega, promessa, entrega. Quando o ciclo se quebra, a confiança se abala. Relações mais antigas permitem o benefício da dúvida, mas quem é percebido como “devedor” não tem esse privilégio. Aqui o futebol serve de referência, como podemos ver cotidianamente no caso do melhor técnico do mundo, mas rotineiramente injustiçado Abel Ferreira.
Para construir confiança, é preciso vencer o viés e a tentação das promessas de longo prazo, que são atraentes pelo benefício imediato que podem trazer. Quando faço uma promessa grandiosa com prazo de 30 anos, fico com o benefício imediato de ser percebido como alguém com ambição e coragem, mas provavelmente deixo para quem vier depois o custo de entregar a promessa.
A escolha inteligente, para quem quer jogar de fato o jogo do desenvolvimento sustentável, é estabelecer um senso de direção claro, definir o ponto de chegada desejado e o plano de voo para chegar até lá. Claro que alguns ajustes de rota serão necessários ao longo da jornada, mas é preciso que a intenção se mantenha, em oposição ao vagar perdido de quem se deixa levar por ondas passageiras.
De qualquer forma, seja pela reputação, valor de marca, engajamento com audiências e até impacto comercial, vale a pena engajar sua empresa em causas e se comunicar sobre isso, desde que seja feito com consistência e que o compromisso seja uma verdade dentro da organização.
Para isso, as palavras chave são confiança, consistência e engajamento. Assim poderemos trilhar juntos a jornada até um futuro sustentável e com boa reputação junto às gerações que nos sucederem.
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