Importante abandonar ideia de que crédito é sempre algo ruim (Maskot/Getty Images)
Bússola
Publicado em 30 de junho de 2022 às 13h40.
Última atualização em 30 de junho de 2022 às 14h07.
Por André Wetter*
O modelo de captação de recursos usando crédito e aumento de capital social já é uma prática comum em outros países. Existem, inclusive, diversas parcerias entre fundos de venture capital, de dívida e até mesmo de startups revenue-based-finance para estruturar a solução. Nesse contexto, quando falamos especialmente do segmento de startups, podemos usar como exemplo os Estados Unidos: o Silicon Valley Bank tem uma longa parceria com a Lighter Capital, especializada em crédito para empresas de tecnologia. No formato, a Lighter faz linhas de crédito específicas para as empresas que estão recebendo recursos de rodadas desse parceiro.
No Brasil, a prática de negócio ainda é pouco comum, especialmente quando falamos de startups early stage, ou seja, em estágio inicial — justamente o momento em que o negócio pode ser mais beneficiado pelo modelo, conseguindo crédito para desenvolver o negócio. Nesta fase, esses negócios têm dores muito particulares por estarem construindo e testando suas hipóteses para buscar um modelo de negócios consistente e, nesse momento, é interessante que o empreendedor tenha acesso a esse tipo de crédito.
Por isso, muitas vezes o empreendedor ainda está aprendendo sobre como avaliar o seu valor no mercado, qual é o momento ideal para a tomada de crédito, como funciona o modelo de venture capital e, especialmente, como aplicar o dinheiro recebido sem diluir tanto a empresa. Geralmente, a startup acaba pegando o crédito e também pega o equity (capital privado), separadamente, sem uma comunicação entre as instituições. Mas o que poucos falam é do benefício para o empreendedor de fazer a negociação de forma colaborativa.
Quando a empresa de crédito tem acesso à informação sobre a captação para trabalhar em conjunto, é possível atuar de forma mais eficiente, com melhores condições de crédito, menores taxas, um período maior de carência, um valor maior, justamente pelo fato da startup estar sendo avaliada por outro investidor, com outro viés, que vai profissionalizar-lá e ajuda-lá com smart-money — quando o conhecimento agrega tanto quanto o dinheiro. Além disso, a chegada do crédito como capital de giro para aquele empreendedor também agrega mais segurança para os próprios investidores de Venture Capital.
Quando analisamos o cenário macro, existe uma série de motivos e benefícios pouco explorados para que o empreendedor brasileiro utilize o modelo de crédito como um coinvestimento, ou seja, agregar valor juntamente com a sua rodada de captação. Como exemplo, podemos citar a diminuição do custo do capital, alongar o runway (tempo até que a startup encerre as atividades, assumindo que suas receitas e despesas permaneçam constantes), separar o uso dos diferentes recursos (caso seja necessário), equalizar o giro financeiro da empresa e capitalizar a empresa para determinados projetos com taxa de retorno conhecida, entre outros diversos benefícios.
No Brasil, o crédito ainda está muito atrelado a algo ruim, uma dívida, uma urgência ou uma necessidade. Fintechs e empresas do mercado financeiro não tradicional vêm trabalhando para mudar esse mindset e mostrar que, para o empreendedor que está em busca de expandir o seu negócio, o crédito nada mais é do que um investimento que ajudará a potencializá-lo. E a disseminação de um modelo de negócios baseado em parcerias entre empresas de crédito e ventures dapital para uma capitalização vem para reforçar esse novo papel do crédito na jornada desse empreendedor.
*André Wetter é CBO e cofundador da a55 & Acácia Morena, Ecossistema e Novos Negócios na a55
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