SUS sempre foi pior avaliado por quem não usa o serviço. (Marcello Casal Jr/Agência Brasil)
Da Redação
Publicado em 17 de junho de 2021 às 17h47.
Por André Jácomo*
Na complexidade de divisões de tarefas entre União, Estados e Municípios são poucos os que entendem de fato como os entes dividem suas responsabilidades para lidar com os problemas da população.
Na questão da saúde pública, ela é especialmente problemática. Quem é responsável por fornecer os recursos financeiros necessários? Quem é o responsável para contratar médicos e enfermeiros? Quem resolve o problema do atendimento no posto de saúde? Essas questões não são claras para o brasileiro médio, tampouco para o brasileiro mais bem informado.
De fato, a arquitetura institucional extremamente complexa, porém necessária, atrapalha a forma com a qual as pessoas acabam avaliando e opinando sobre a qualidade do serviço público no país.
A insatisfação dos brasileiros com a qualidade do serviço público de saúde não é um desses fenômenos pandêmicos. De 2009 até 2015, as pesquisas de opinião mostravam que a saúde era vista como o principal problema do país para os brasileiros. Em 2019, pesquisa realizada pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), com uma amostra representativa, apontou que 55% da população avalia a saúde no Brasil como “ruim” ou “péssima”; 34%, como “regular”; e apenas 10%, como “ótima” ou boa”.
Entretanto, todas as pesquisas de opinião que mensuraram a avaliação da saúde pública mostraram um dado parecido. O serviço público de saúde é pior avaliado por quem não a consome. Em outras palavras, o usuário de planos de saúde avalia o serviço de saúde pública de forma mais crítica do que o usuário do SUS.
Isso não significa que o brasileiro que depende do SUS está satisfeito com o seu serviço, como se aqui fosse uma Dinamarca. Ao contrário. Mas mostra um importante déficit de imagem que o Sistema Único de Saúde sempre teve no país, independentemente da qualidade do serviço ofertado.
Em geral, os cidadãos tendem a criar suas percepções sobre os serviços públicos, e também os privados, tanto a partir de suas experiências efetivas, do dia-a-dia, quanto a partir da imagem que eles passam nos meios de comunicação.
Atualmente, é bem possível que a assimetria entre experiência e imagem do SUS seja menor. Há mais pessoas experimentando a saúde pública agora do que nos últimos anos, seja nos atendimentos médicos, no agendamento para a vacinação ou mesmo nas redes sociais, onde as manifestações de apoio ao SUS nunca foram tão altas.
Ao final da pandemia, é bem possível que a saúde pública brasileira seja um grande case de instituição que conseguiu mudar sua imagem.
*André Jácomo é diretor do Instituto FSB Pesquisa
Siga a Bússola nas redes: Instagram | Linkedin | Twitter | Facebook | Youtube