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Bússola Poder: não existe ministro da Fazenda fraco

Há governo sem força para sinalizar perspectiva positiva para o ambiente produtivo

Fernando Haddad, ministro da Fazenda (Ton Molina/NurPhoto/Getty Images)

Fernando Haddad, ministro da Fazenda (Ton Molina/NurPhoto/Getty Images)

Márcio de Freitas
Márcio de Freitas

Analista Político - Colunista Bússola

Publicado em 14 de junho de 2024 às 17h00.

A economia saudável e em crescimento é pilar fundamental para sustentar presidentes populares, e o responsável pela área tem prestígio se a gestão vai bem. Caso contrário, tanto presidente quanto ministro correm o risco de naufrágio dentro do mesmo barco.

Mesmo em tempos de radicalização política, se o bolso dos cidadãos for atingido, governantes têm dificuldades substanciais para conseguir apoio nas ruas. A boca que xinga precisa antes se alimentar para brigar pelas suas causas ideológicas. A fome mata muitos ideólogos no café da manhã.

A realidade pode desfazer mitos e desconstruir fantasias, como a de que pautas religiosas e de costumes comandam a motivação política das ruas. O preço nas gôndolas dos mercados pode ser um ingrediente tóxico nas relações entre o eleitor e os políticos. Quando isso acontece, candidatos vinculados ao governo podem ser canibalizados no processo eleitoral.

É importante essa compreensão para avaliar os riscos de um governo no sistema democrático. A rotatividade no poder pode ser contida pelo sucesso em satisfazer eleitores, desde a mais elementar necessidade básica até os mais elaborados e caros sonhos de consumo.

A inflação corrói a moeda, diminui o poder de compra dos salários e reduz a capacidade de planejamento dos atores produtivos na economia. Funciona até certo ponto para uma acomodação nas contas do governo, mas traz danos colaterais piores ao longo do tempo.

Governos sem dinheiro buscam sempre empréstimos, que financiam no mercado de títulos. É uma conta normal e conhecida. A capacidade de rolar a dívida é fundamental para os governos. O risco de perder o controle desse processo afeta o valor da moeda, que se desvaloriza em relação a outras moedas (dólar, que é referência internacional) e aos preços de produtos cotados no mercado internacional. Assim caminha o processo de retroalimentação de desvalorização dos salários e produtos produzidos no país.

O governo Lula III optou por uma gestão diferente de seu primeiro mandato, onde o pragmatismo o fez elevar as metas de superávit, estipulou corte de despesas e reformas para sinalizar controle de gastos. Criou um ambiente econômico que atraiu investimentos, estimulou exportações, gerou divisas e crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) acima das expectativas. Lula III escolheu gastar, como se o único caminho para a retomada do crescimento fosse pela via governamental do orçamento público. Receita que teve resultado contrário ao pretendido em Dilma I e Dilma II, este último de curta duração.

Nada sinaliza uma crise das mesmas proporções à sucessora de Lula. Mas a insegurança sobre o receituário está precipitada na elevação do dólar e na queda das bolsas verificada nesta semana. O temor está no mercado. Especulação, sim. Prevenção, sim. Incerteza, óbvio. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, foi fragilizado. E com certeza o governo não está mais forte com esse movimento.

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