Brasil precisa de potência para evitar falta de energia, diz especialista
Crise hídrica segue provocando movimentos em Brasília, e ministro de Minas e Energia anuncia plano de desconto e leilão para enfrentar o cenário
Bússola
Publicado em 29 de agosto de 2021 às 14h00.
Na última quarta-feira, 25, o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, anunciou um plano de descontos para os consumidores que estão no chamado ambiente regulado – todos aqueles que têm seu consumo vinculado às distribuidoras de energia elétrica. A ideia é estimular clientes residenciais e empresariais que, voluntariamente, proponham-se a economizar energia. A medida deverá entrar em vigor em setembro, com condições ainda em detalhamento.
Uma semana antes, o MME anunciou novidades em uma iniciativa cujos resultados serão percebidos no longo prazo: o leilão de reserva de capacidade.
A ação agendada para o fim deste ano busca priorizar as usinas térmicas a gás natural já existentes, uma vez que elas já contam com infraestrutura e estão ligadas à rede de suprimento de gás. O leilão está cumprindo deliberação do Congresso Nacional com a aprovação da Medida Provisória 998, sancionada em março deste ano no Planalto.
“Esse certame é importante porque, na realidade, é um leilão de potência”, diz o sócio-diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), o economista Adriano Pires.
“Essas térmicas só vão despachar para atender a ponta. Estamos vendo agora, com a crise hídrica, que o Brasil tem problemas de potência, o que pode causar blecautes em determinadas regiões do país, porque quem dá potência ao sistema são as hidrelétricas com reservatórios e como elas estão vazias, a gente tem esse problema de atender aos horários de pico. Esses horários não são atendidos nem por hidrelétricas a fio d’água, nem por solar ou por eólica, que são fontes mais intermitentes”, afirma o sócio-diretor.
Para o economista, estava existindo confusão sobre este leilão de potência com outro agendado para o primeiro trimestre do ano que vem e a diferença entre ambos é de finalidade. “O leilão deste ano é de potência, não de energia”, diz.
No leilão de potência, as usinas irão operar apenas nos horários de pico, onde há maior necessidade de fornecimento energético.
“Por isso, foi estabelecido o CVU (custo variável unitário) em R$ 600 por MWh. Elas não irão operar o tempo inteiro”, declara o consultor.
Já no leilão agendado para o próximo ano, as usinas térmicas ficarão ligadas pelo menos 70% do tempo, operando na base do sistema, isto é, de modo praticamente contínuo. Nesse caso, elas vão gerar energia e menos potência. Por isso, o CVU terá contratação a um preço mais baixo, a R$ 340 por MWh.
De acordo com o economista, o governo poderia adotar uma mudança de paradigma, despachando a energia das usinas hidrelétricas com reservatório apenas nos horários de ponta, quando a energia é mais cara.
“Esses dois leilões vão permitir que no futuro não tenhamos o sufoco que temos vivido este ano, com ameaça de blecaute ou mesmo de racionamento de energia”, afirma Pires.
Demanda térmica
Com a falta de água nos reservatórios das hidrelétricas, o Brasil tem ampliado o despacho de usinas movidas a gás natural. Dados da Abegás, a Associação Brasileira das Empresas Distribuidoras de Gás Canalizado, mostram que o consumo de gás para térmicas teve uma alta de 61,8% no primeiro semestre deste ano frente aos números dos seis meses iniciais de 2020.
Isso significa que o consumo de gás para térmicas saltou de 19,5 milhões para 31,6 milhões de metros cúbicos por dia, em média.
Na avaliação do presidente executivo da Abegás, Augusto Salomon, a alta do despacho termelétrico é um sinal de que o gás natural poderia estar sendo utilizado há mais tempo, o que, segundo ele, teria contribuído para minimizar a gravidade da crise hídrica.
“Isso corrobora a necessidade de uma integração entre o setor de gás e o setor de energia elétrica”, afirma Salomon.
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