Metaverso ganhou força no final de 2021, quando Mark Zuckerberg anunciou a mudança do nome do Facebook para Meta (Divulgação/Divulgação)
Bússola
Publicado em 17 de março de 2022 às 11h35.
Por Andrea Fernandes*
Você certamente já ouviu falar sobre o metaverso. O tema ganhou força no final de 2021, quando Mark Zuckerberg anunciou a mudança do nome do Facebook para Meta. Mas o fato é que muita gente já está de olho nesse universo há mais tempo.
E o fundador do T.group e da Clearsale, Pedro Chiamulera, é um deles.
Essa semana, ele está na SXSW, evento que acontece em Austin, Texas, reunindo conferências e festivais que celebram a convergência de tecnologia, cinema, música, esporte, educação e cultura.
Apaixonado por pessoas e por tecnologia, Pedro acredita que o metaverso vai ser um divisor de águas em nossas vidas. E tive a ideia de bater um papo com ele aqui na coluna, para dividir com mais gente, experiências e informações sobre esse mundo novo. O resultado você vê a seguir:
1) Pedro, o metaverso é um tema super fascinante e todos nós estamos de olho no mundo de possibilidades que ele pode vir a proporcionar. Na sua visão, como o metaverso vai mudar nossas vidas?
Pedro Chiamulera: Vai ser uma grande revolução. Hoje, temos as redes sociais e somos reféns delas. No metaverso, vai ser completamente diferente. A pessoa vai poder ser um avatar daquilo que quer ser, vai ter um avatar que a deixe mais confortável. E aí a confiança vai ser algo fundamental, porque a pessoa só vai entrar em um ambiente no qual ela confia. Isso será a chave para acolher as pessoas. Será também um ambiente de responsabilidade e que terá uma rastreabilidade. Você vai ser uma pessoa lá, um indivíduo. Vou poder entrar e sentir se aquele metaverso está me respeitando, se é um ambiente transparente. E a partir daí, vamos ter outros relacionamentos, outros tipos de trabalho e outro tipo de remuneração.
2) A confiança é uma das bases do e-commerce. Como o metaverso pode contribuir para fortalecer essa percepção?
Pedro Chiamulera: Acredito que veio para revolucionar a economia da confiança, a trust economy. Quando você fala de metaverso, você fala também de blockchain, bitcoin, cada metaverso pode ter sua própria moeda. As relações financeiras também vão mudar. Por isso que falo da confiança, que é um valor de percepção, um valor de relacionamento, um valor humano, que poderá ser monetizado. A pessoa que tem coerência e é consistente neste mundo, vai poder também ter mais valor, mais voz. Metaverso e confiança vão andar de mãos dadas.
3) Você já teve experiências no metaverso e tem trazido isso para o cotidiano da Clearsale e do T.group. Conta um pouco para gente como isso vem acontecendo.
Pedro Chiamulera: A minha experiência de metaverso começou há uns três anos, quando um empreendedor, Marco Carvalho, me convidou para participar de um projeto de parques de realidade virtual. Mas, com a pandemia, tivemos que fechar o projeto. No final de 2020, Marco me procurou para falar justamente sobre um projeto voltado para saúde mental, porque havia a percepção de que as pessoas estavam cansadas de interagir só com esse mundo bidimensional das telas.
Falamos sobre a falta de um ambiente imersivo, colaborativo, tridimensional. E aí teve uma história muito legal que, um dia, estava super cansado, com dor de cabeça, e o Marco me chamou para entrar no metaverso. Entrei e comecei a brincar, correr, a usar os dedos e aí eu senti a beleza do metaverso. E minha dor passou.
Com o Marco, nasceu o Headoffice.space, que prevê a construção do ambiente de trabalho no metaverso, e tem sido uma jornada de muito aprendizado. Já temos um escritório da Clearsale e também estamos construindo um para o T.group. A ideia é ir montando e conquistar esse novo mundo. Está sendo uma experiência muito legal.
4) No SXSW, você participou de um painel que discutiu as mudanças que o metaverso vai causar no mundo do trabalho. O que vem por aí?
Pedro Chiamulera: Vai mudar o jeito que as pessoas trabalham e será uma nova fonte de jeitos de trabalhar. Novos trabalhos surgirão no metaverso. Neste novo mundo, a propriedade é da pessoa. Agora, com o modelo híbrido, não vai ter mais o “vou voltar para o escritório”. O escritório tem que ser uma coisa que seja tanto online quanto offline e o metaverso possibilita isso, que essa pessoa possa trabalhar, ainda que esteja longe, e que tenha uma interação como se fosse no mundo físico.
O metaverso terá empresas do mundo offline, as empresas “antigas”, que vão se relacionar e gerar uma nova economia. Mas também vai ter empresas que vão surgir dentro do metaverso e pessoas que vão trabalhar lá 100% imersas nesse universo. É o começo ainda, mas o mundo do trabalho vai ser outro. E digo isso até porque a geração que está vindo aí, ela já está imersa. Nossos filhos já usam Minecraft, Roblox.
As possibilidades são infinitas para um novo mundo. Outra coisa bem interessante é que o metaverso vai distribuir a riqueza. As pessoas vão poder entrar lá, ganhar dinheiro, sem ter uma expertise tecnológica.
5) Por mais tecnologia que tenhamos, e por mais que estejamos em um ambiente virtual, não podemos perder de vista que estamos sempre falando de pessoas. E acho que esse é um receio que se pode ter com o metaverso, da tecnologia se sobrepor às relações. Como ser people centric no metaverso?
Pedro Chiamulera: Mais que people centric, o metaverso nasce trust centric. Se não houver confiança, esse ambiente não vai sobreviver. É um ambiente onde as pessoas vão perceber se as empresas são confiáveis ou não. Empresas como o Facebook, que já teve problemas de ética, com questões de uso de dados, são empresas da velha economia, onde os dados da pessoa e a pessoa são o produto. No ambiente do metaverso, o foco é ser people centric, trust centric, gerar confiança contínua nas pessoas, com relacionamentos transparentes.
*Andrea Fernandes é CEO do T.Group
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