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Três perguntas de ESG para Feliciano Almeida, da Michelin

CEO do gigante francês na América do Sul fala de descarbonização de frotas e da busca pelo pneu 100% sustentável

Feliciano Almeida, CEO da Michelin (Marcos Pinto/Reprodução)

Feliciano Almeida, CEO da Michelin (Marcos Pinto/Reprodução)

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Publicado em 23 de setembro de 2022 às 16h57.

Última atualização em 23 de setembro de 2022 às 17h35.

Por Renato Krausz

1) O foco da descarbonização das frotas está no combustível, mas a questão vai além disso. O que a indústria tem feito rumo ao net zero para a mobilidade?

A descarbonização na mobilidade vai muito além da eletrificação de frotas e envolve uma série de iniciativas que visam desde formas alternativas de transporte até a fabricação de componentes com matérias-primas mais sustentáveis e que emitam cada vez menos CO2 na atmosfera.

No caso da indústria de pneus, temos realizado importantes avanços na produção e também sobre a origem da borracha natural. Estamos no caminho de fazer com que nossos produtos cheguem ao ponto de venda com emissões líquidas zero. Em 2021, apresentamos ao mercado a nossa visão “Tudo Sustentável”, que orienta a nossa estratégia de negócio, com uma primeira etapa para 2030. Daqui até lá, estipulamos 12 ambições de ESG, formando o “Michelin em Movimento”.

Para ter uma ideia, hoje, 28% do nosso pneu é feito de material renovável ou reciclado. Nossa meta é chegar a 40% em 2030 e, até 2050, entregar ao mercado um pneu 100% sustentável. Na produção, por exemplo, além da borracha natural obtida de maneira sustentável, os nossos pneus já contam com componentes como óleo de girassol, casca de laranja e pinus, que proporcionam performance, conforto e segurança, com menor impacto ambiental. Outros componentes sustentáveis, como a sílica de origem vegetal, também integram a produção.

Vale também destacar que todos os pneus produzidos em nossas unidades industriais de Campo Grande e Itatiaia, no Rio de Janeiro, já saem de fábrica com o Selo Nacional da Agricultura Familiar (Senaf), concedido pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, por ter em sua composição borracha natural, beneficiada na Bahia e no Espírito Santo. Além disso, a Fundação Michelin e a WWF firmaram a parceria “Juntos pelo extrativismo da borracha na Amazônia”, por meio da qual, ao apoiar a estruturação e o fortalecimento da cadeia de produção da borracha nativa na Amazônia, temos o objetivo de fortalecer a bioeconomia dos 15 municípios envolvidos, uma vez em que o projeto gera renda para as populações locais, ao mesmo tempo que preserva a floresta por meio da valorização da sociobiodiversidade.

Indo ainda além de nossos produtos, três de nossos principais complexos industriais, localizados no Rio de Janeiro e em São Paulo, adotam um modelo de produção industrial mais sustentável, com 100% da energia elétrica consumida gerada de fontes renováveis, garantindo mais eficiência energética e preservando recursos naturais. Desde janeiro de 2021, quando aderimos à energia renovável, já reduzimos as emissões de CO2 dessas unidades produtivas em 40%.

Além dos componentes e estruturas mais sustentáveis, contamos com quatro alavancas que nos ajudaram a alcançar nosso objetivo de ser net zero até 2050: reduzir, reutilizar, reciclar e renovar. Não estamos reinventando a roda, mas estamos fazendo com que os 4R’s tão conhecidos realmente sejam aplicados de ponta a ponta em nosso negócio. E como parte desse processo, seguimos investindo continuamente em inovação para buscar formas de tornar os pneus cada vez mais sustentáveis, com maior durabilidade e com menores emissões de gases de efeito estufa.

2) Como garantir que o uso da borracha natural não cause passivos socioambientais?

Todo nosso desenvolvimento é voltado para uma produção mais sustentável, e isso vem resultando em pneus menos poluentes, com alta performance e maior vida útil. Na Michelin embasamos a estratégia global "Tudo Sustentável" em uma tríade de Pessoas, Planeta e Performance Financeira, que, resumidamente, significa que vamos cuidar do Planeta, para que ele cuide das pessoas; as pessoas cuidam dos negócios; e os negócios cuidam do planeta e das pessoas.

Mas entendemos que apesar de todos nossos esforços internos, também precisamos monitorar toda nossa a cadeia produtiva, para efetivamente reduzirmos nossa pegada socioambiental. Pensando nisso, contamos com o RubberWay para realizar uma auditoria e verificar se nossos fornecedores estão em conformidade com as normas e leis socioambientais, bem como se suas práticas são aderentes aos nossos valores e ao que acreditamos.

A tecnologia Rubberway é uma ferramenta de monitoramento geográfico que avalia a atividade de nossos fornecedores quanto a práticas como desmatamento ilegal, sobreposição a terras indígenas e a áreas de proteção, bem como condições de trabalho daqueles que estão no dia a dia do campo. Somente em 2021, 96% das compras de borracha natural foram realizadas com fornecedores mapeados pela tecnologia no Brasil. Nossa meta é cobrir 100% das grandes plantações até 2025 e todos os pequenos produtores até 2030.

3) Como a Michelin investe em inovação para a sustentabilidade e aproveita as oportunidades de novos negócios para impulsionar seu crescimento? E o que esperar para a mobilidade sustentável no futuro, no Brasil e no mundo?

Acreditamos que inovação e sustentabilidade são palavras que caminham lado a lado para o desenvolvimento do nosso negócio no Brasil e no mundo. O que temos observado é que as tendências em mobilidade pós-covid e o crescimento acelerado do mercado de veículos elétricos são oportunidades para o grupo, que desenvolveu tecnologia incomparável no design e fabricação de pneus projetados especificamente para este tipo de modal. Já no segmento dos pesados, como transporte rodoviário, o grupo focará seletivamente na criação de valor, enquanto em Mineração, Movimentador de Terra, Agrícola, Aeronáutica e outros pneus especiais, a Michelin pretende se manter como referência, capitalizando a diferenciação de seus produtos e serviços.

Olhamos sempre para a evolução do pneu, mas não nos fixamos somente nele. Queremos crescer nesse segmento, mas em torno e além dele também. Por isso, colocamos toda a nossa experiência para impulsionar uma forte expansão em cinco segmentos de negócios e outros territórios, como serviços e soluções, compostos flexíveis, dispositivos médicos, impressão 3D de metal e mobilidade de hidrogênio.

Todas as nossas ações estão voltadas para a força da marca Michelin e para a inovação em produtos, serviços e soluções com foco em nossos clientes, assim como consideramos a análise constante de nossa pegada ambiental e do ciclo de vida dos produtos. Temos a certeza de que a corrida para a mobilidade sustentável será mais rápida a cada ano, e que a demanda global por soluções mais verdes trará oportunidades inéditas para a criação de novas tecnologias e produtos que aliem eficiência operacional, economia, neutralidade de emissões e segurança.

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