STF retoma hoje julgamento sobre correção das contas do FGTS; Veja efeitos para o trabalhador
Governo Federal é contra a mudança porque o FGTS é usado para financiar programas sociais, como o Minha Casa, Minha Vida, cujos imóveis podem ficar mais caros
Agência de notícias
Publicado em 27 de abril de 2023 às 07h40.
Última atualização em 27 de abril de 2023 às 09h23.
O Supremo Tribunal Federal ( STF ) retoma nessa quinta-feira o julgamento da ação que discute a constitucionalidade da correção do FGTS , hoje feita pela Taxa Referencial (TR). Na semana passada, o ministro Luís Roberto Barroso, relator do processo, propôs a substituição desse índice de correção pelo rendimento da caderneta de poupança e foi acompanhado pelo ministro André Mendonça. O julgamento foi interrompido com o placar de 2 a 0.
Caso o plenário do STF decida pela correção da poupança, os trabalhadores cotistas do FGTS teriam uma rentabilidade maior. Para o governo, no entanto, a medida seria uma derrota. Aumentaria os custos do financiamento de políticas habitacionais, como o Minha Casa Minha vida, e obras de saneamento.
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Na avaliação do ministro relator, a TR não corrige de forma adequada os depósitos do FGTS e, por isso, a remuneração não pode ser inferior à da caderneta de poupança, "sob pena de confisco de apropriação ilegítima de um direito do trabalhador".
A correção dos depósitos nas contas do FGTS foi questionada no STF em 2014 pelo partido Solidariedade. Segundo a legenda, a TR é inconstitucional porque corrói o patrimônio dos trabalhadores ao não repor as perdas inflacionárias. O partido, no entanto, defendia o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).
Atualmente, as contas do FGTS rendem a TR, mais 3% por ano. Já a poupança rende 6,17% ao ano.
Diante da falta de margem no Orçamento da União, os recursos do Fundo são utilizados para financiar políticas públicas, como o Minha Casa Minha Vida e obras de saneamento básicos em convênios com estados e prefeituras.
O que muda para o trabalhador a decisão do STF?
Se o STF decidir por uma remuneração mais alta para os cotistas, isso exigiria também aumentar os juros dos contratos de financiamento dessas obras habitacionais e de infraestrutura para evitar descasamento das contas do FGTS. Além disso, o Fundo concede subsídios, descontos a fundo perdido, nos contratos habitacionais para famílias de baixa renda.
Segundo um integrante do governo, a linha adotada pelo ministro Barroso livra o Fundo de um eventual pagamento retroativo, o que é positivo. Porém, pode comprometer os juros dos financiamentos e o volume de contratos habitacionais futuros.
As estimativas de impacto da mudança no Minha Casa Minha Vida ainda estão sendo levantadas. Mas, segundo cálculos preliminares, o aumento da correção das contas do FGTS pode afetar 105 mil famílias por ano, o que representa 29% da meta. São famílias que já assumiram o financiamento com o máximo da capacidade de pagamento possível.
A mudança também reduziria o volume de subsídios concedidos pelo FGTS em R$ 3,5 bilhões, o que afetaria 155 mil famílias por ano. Os subsídios são uma forma de permitir que a prestação caiba no orçamento familiar.
Os beneficiários do programa Minha Casa Minha Vida nem sempre são cotistas do FGTS. Mas eles têm acesso à moradia, que é financiada pelo resultado do FGTS, uma parte do lucro que é destinada ao programa habitacional.