Relator exclui novo imposto de exportação de proposta para combustíveis
Na proposta de criação de uma conta de estabilização de preços dos combustíveis, que tramita no Senado, o uso de imposto de exportação como fonte de recurso foi retirado do texto
Carolina Riveira
Publicado em 23 de fevereiro de 2022 às 12h22.
Última atualização em 23 de fevereiro de 2022 às 18h43.
A criação de um novo imposto sobre exportação de petróleo foi retirada da proposta de conta de estabilização dos preços dos combustíveis , que tramita no Senado.
A mudança veio em nova versão de parecer do senador Jean Paul Prates (PT-RN), que relata o projeto conjuntamente com o PLP 11, que muda o modelo de cobrança do ICMS dos combustíveis (veja abaixo os detalhes da proposta para o ICMS). Os dois projetos tramitam em conjunto e há uma expectativa de que possam ser votados nesta semana.
O objetivo da conta de estabilização (PL 1.472/2021) é amortecer impactos da alta de preços de combustíveis no mercado internacional, que fez o preço dos combustíveis ao consumidor brasileiro subir mais de 40% em 2021. A conta acumularia saldo durante períodos de preços em baixa, valor que depois seria utilizado para não repassar todos os aumentos ao consumidor nos momentos de alta.
Como começaria a funcionar com petróleo em alta, a conta precisaria de aportes iniciais da União para ser criada, e é nesta frente que estão os questionamentos sobre a fonte de recursos.
A proposta indica inicialmente como fontes as participações da União no petróleo e não vinculadas a outros gastos, como royalties (sem incluir os pagos a estados) e dividendos recebidos pelos lucros da Petrobras. Essas fontes foram mantidas no último parecer.
"Ficaram as fontes relacionadas diretamente com a alta do preço do petróleo", disse Prates em entrevista coletiva na terça-feira.
O imposto sobre exportação de óleo cru seria outra das fontes inicialmente propostas. Mas foram apresentadas nove emendas para que o imposto fosse retirado do texto, e diante da falta de consenso, a exclusão foi confirmada em novo parecer de Prates divulgado na manhã desta quarta-feira. "Não passaria o projeto em geral se a gente não tivesse colocado outras fontes", disse o relator ontem.
A conta de estabilização e o novo modelo do ICMS, discutidos nos dois projetos no Senado, não envolvem cortes diretos de impostos. Em embate com governadores, o governo federal tem defendido o corte de tributos federais e do ICMS estadual para os combustíveis. Prates defendeu que a tramitação dos projetos deixa claro que há alternativas para além de desonerar combustíveis, o que retiraria receita de estados e municípios destinadas a outros serviços públicos.
O mecanismo da conta de estabilização também não altera a Política de Paridade de Importação (PPI) usada desde 2016 pela Petrobras, que segue os preços internacionais. Os recursos para criação da conta, se aprovada, viriam somente da União, e depois seriam acumulados com a variação dos preços.
Com base nas métricas de hoje, o relator estima que, para uma redução de R$ 0,50 no diesel nas refinarias (o que poderia levar a um impacto de R$ 1,50 a R$ 2,00 ao consumidor final) e de R$ 10 a R$ 15 no botijão de gás de cozinha, seriam usados R$ 25 bilhões da conta de estabilização.
Como funcionava o imposto
Na proposta anterior, o imposto de exportação só incidiria sobre o montante acima de US$ 45 por barril (e não sobre o preço total da venda dos exportadores). Havia ainda previsão de que produtores que destinassem o petróleo bruto a refino interno no Brasil pudessem ter alíquotas diferenciadas.
"Para se ter uma ideia do peso do Imposto de Exportação, no valor atualizado de US$ 75 por barril, um carregamento exportado resultaria no pagamento de US$ 0,75 a US$ 2,25 por barril, ou seja, 1% a 3% do valor faturado. Esse percentual é bem inferior, por exemplo, à diferença entre as cotações do petróleo Brent (referência) e a maioria dos petróleos exportados precificados pela ANP no Brasil", dizia o parecer acerca da proposta anterior.
Em fala sobre o tema na semana passada, Prates defendeu que a alíquota, por incidir só sobre os ganhos extras do barril, estava tendo rejeição por um efeito muito mais "psicológico" do que prático, mas que havia desafios para o consenso a respeito.
O imposto sofreu resistência de bancadas importantes no Congresso, como PL, PSD e MDB. Para a indústria, há o temor de que o aumento da carga tributária pode prejudicar a atração de investimentos do setor privado em extração de petróleo no Brasil. A extração tem batido recordes com a descoberta do pré-sal e leilões, sendo o Brasil hoje um dos dez maiores produtores de petróleo do mundo.
Na outra ponta, o uso principal de outras fontes que não o imposto para bancar a conta de estabilização é criticado por se valer de recursos da União que poderiam ir para outras frentes de serviços públicos.
Em entrevista àEXAMEnesse fim de semana, o autor original do projeto, senador Rogério Carvalho (PT-SE), criticou o fato de o imposto - que originalmente manteria a conta de estabilização - estar perdendo espaço. “Querem proteger o interesse do exportador de óleo cru, mas precisam proteger é a economia do Brasil”, disse.
Nos últimos 12 meses até janeiro, a alta dos combustíveis passou de 40% no IPCA, principal índice inflacionário brasileiro.
O aumento está muito acima da inflação geral no mesmo índice, de 10,38% no período. E o cenário tende a continuar difícil em 2022, diante de elevadas tensões geopolíticas, pressão na demanda com a reabertura econômica e flutuações do dólar.
Proposta para o ICMS
Além da conta de estabilização, tramita no Senado, também sob relatoria de Prates, o PLP 11, que muda o modelo de cobrança do ICMS dos combustíveis, tornando os preços menos voláteis na fatia que diz respeito ao imposto.
A alíquota do ICMS hoje varia de estado para estado, sendo em média quase 30% do valor total da gasolina e 15% do diesel.
A última versão da proposta no Senado é baseada na chamada cobrança monofásica do ICMS, isto é, em uma única fase da cadeia e sem o que o setor chama de "efeito cascata", com cobranças em várias frentes. A monofasia é vista com bons olhos pelo setor privado por potencialmente reduzir sonegação e simplificar a complicada tributação atual.
Na última versão da proposta entregue ao Senado, Prates inclui no relatório um período de transição para estados se adequarem à monofasia.
Também foi incluído o querosene de aviação entre os combustíveis participantes, somado a diesel, biodiesel, gasolina, etanol anidro (componente da gasolina), GLP (usado no gás de cozinha) e GLGN.
Outro ponto da proposta é sobre alterar o modelo de cobrança para um percentual fixo por volume vendido (o chamado ad rem ). Hoje, a alíquota é aplicada sobre o valor vendido ( ad valorem ), de modo que o tributo coletado também sobe quando o preço sobe — o que ajudou estados a terem sua maior arrecadação em duas décadas em 2021.
A proposta também abriria caminho para que cada combustível passasse a ter uma alíquota nacional, a ser decidida no âmbito do Conselho Nacional de Política Fazendária, órgão formado por secretários estaduais e pelo Ministério da Economia. Embora não signifique uma isenção de impostos, essa é uma das questões mais sensíveis, já discutida também nas propostas de reforma tributária.