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Quem não quer Kátia Abreu na Agricultura, e por quê

Desde a indicação da senadora para o ministério, diversos grupos se manifestaram contra a escolha, dentre eles estão parte do PT, o frigorífico JBS e até o PMDB

Kátia Abreu (Divulgação/Agência Senado)

Kátia Abreu (Divulgação/Agência Senado)

Mariana Desidério

Mariana Desidério

Publicado em 2 de dezembro de 2014 às 09h54.

São Paulo – A senadora Kátia Abreu deve ser a nova ministra da Agricultura do governo Dilma. Convidada em meados de novembro, a ruralista aceitou a proposta da presidente. No entanto, desde que a notícia se espalhou, não faltou quem criticasse a escolha.

Kátia Abreu se aproximou de Dilma nas eleições de 2010, quando ainda estava no DEM, partido de oposição ao governo. Segundo o Correio Braziliense, na época a ruralista enviou uma carta a Dilma desejando “força” para enfrentar um câncer.

Desde então, Kátia Abreu deixou o DEM, passou pelo PSD e recentemente se filiou ao PMDB, da base aliada do governo petista. Porém, a aproximação não acabou com antigas divergências entre a senadora e parte dos apoiadores de Dilma.

Os grupos que já se manifestaram contra a nomeação de Kátia Abreu formam um espectro amplo que vai desde movimentos sociais, abarca parte do PT, passa por grupos ruralistas e chega ao frigorífico JBS, gigante produtor de carnes e maior doador de campanha nessas eleições.

O próprio PMDB, legenda que hoje abriga a senadora, já mostrou descontentamento com sua indicação ao ministério.

Veja a seguir por que esses atores não querem Kátia Abreu no Ministério da Agricultura:

JBS

De acordo com o jornal O Estado de S.Paulo, o empresário Joesley Batista, um dos donos do grupo JBS, esteve na quarta-feira em reunião reservada com o chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, com quem tratou sobre a indicação para o Ministério da Agricultura. 

O lobby do maior frigorífico do mundo explicita uma guerra nos bastidores. Como representante dos pecuaristas, a senadora assumiu uma posição de ataque à empresa de Batista.

Os criadores de gado temem a concentração de mercado que a empresa exerce cada vez mais, influenciando no valor da carne vendida por eles.

O grupo JBS é responsável por cerca de 20% do abate bovino no País. O peso do frigorífico na formação de preço é uma das explicações para a acidez da senadora contra a empresa.

O clima entre Kátia e Batista ficou ruim depois que a senadora acusou de antiética a campanha publicitária do JBS sobre a segurança sanitária representada pela Friboi. Em discurso no Congresso, em agosto de 2013, a senadora protestou: "Vá e diga que a sua carne é boa, que tem boa qualidade, que é produzida em frigoríficos de primeira. Mas não diga que é a única que o povo brasileiro pode comer."

PT

Para parte dos petistas, pode representar um retrocesso na política agrária do país, no que diz respeito aos pequenos agricultores e à reforma agrária. Kátia é presidente da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil). Setores do partido criticaram a indicação da senadora para o ministério. Kátia Abreu atuou na oposição ao governo e é vista como representante dos ruralistas.

Em seu site, a corrente petista Articulação de Esquerda divulgou nota que diz: “A indicação ministerial de Joaquim Levy e a possível indicação de Katia Abreu, por sua vez, indicam concessões desnecessárias e equivocadas ao campo conservador que foi derrotado nas últimas eleições”.

PMDB

O partido que acolheu a senadora Kátia Abreu também não é muito favorável à sua indicação como ministra. Novata na legenda, Kátia ainda é vista como uma estranha no partido e não tem o apoio de seus principais dirigentes.

Considerou-se, inclusive, que Kátia Abreu não integraria a cota do PMDB no governo Dilma. De acordo com a colunista Vera Magalhães, da Folha de S.Paulo, este foi um dos motivos para o adiamento do anúncio oficial da nova ministra.

Segundo a coluna, o presidente quis evitar que o PMDB alegasse que a senadora será parte da equipe econômica e pedisse outras cinco pastas na Esplanada.

Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST)

O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) chegou a ocupar uma fazenda no Rio Grande do Sul em protesto contra a indicação de Kátia Abreu para o Ministério da Agricultura.

Na ação ocorrida em 22 de novembro, cerca de 2 mil membros do MST e outros movimentos camponeses invadiram a propriedade rural. 

“Katia Abreu é símbolo do agronegócio, que tem como lógica a terra para produção de mercadorias, com uso intensivo de agrotóxicos e sementes transgênicas destruindo os recursos naturais e a saúde dos trabalhadores e de toda a população”, disse Raul Amorim, da coordenação da juventude do MST.

União Democrática Ruralista (UDR)

A indicação de Kátia Abreu não é unanimidade nem entre os ruralistas. Após as notícias de que a senadora integraria o governo, produtores rurais do interior de São Paulo iniciaram a formação de uma Frente Nacional da Produção para tentar derrubar Kátia Abreu da presidência da CNA.

"Ela é uma traidora do setor produtivo, perdeu a credibilidade dos produtores rurais, por isso, precisa renunciar rapidamente ao cargo de presidente da CNA", afirmou em Araçatuba (SP) o presidente da União Democrática Ruralista (UDR), Luiz Nabhan Garcia.

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