CPI da Covid: nesta quinta, será ouvido Francisco Maximiano (Marcos Oliveira/Agência Senado)
Alessandra Azevedo
Publicado em 19 de agosto de 2021 às 06h00.
Última atualização em 19 de agosto de 2021 às 10h18.
A CPI da Covid continua focada em investigar os problemas no contrato do Ministério da Saúde para a compra da vacina indiana Covaxin. É com esse objetivo que os senadores ouve nesse momento Francisco Maximiano, sócio-administrador da Precisa Medicamentos, empresa que representou no Brasil a Bharat Biotech, fabricante do imunizante.
Maximiano, empresário de 48 anos, está na mira da CPI há dois meses, desde que surgiram as denúncias de irregularidades no contrato da Covaxin. Em 25 de junho, o deputado federal Luis Miranda (DEM-DF) e o irmão dele, Luis Ricardo Miranda, servidor do Ministério da Saúde, relataram à comissão pressão atípica na pasta para que fosse autorizada a importação da vacina.
Os irmãos disseram ter denunciado o caso ao presidente Jair Bolsonaro, que agora é investigado pelo crime de prevaricação, por não ter tomado providências. O contrato em questão, que foi cancelado pelo Ministério da Saúde, previa a compra de 20 milhões de doses da Covaxin, ao preço de 1,6 bilhão de reais. Cada dose custaria 15 dólares.
O senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) pediu que Maximiano fosse ouvido para esclarecer os termos das tratativas entre a Precisa e o governo e apurar "eventual beneficiamento ilícito". O requerimento apresentado por ele foi aprovado em 15 de junho, mas só agora, passados mais de dois meses, o empresário comparecerá à CPI.
O colegiado marcou a oitiva pela primeira vez para 23 de junho. Os advogados de Maximiano, no entanto, desmarcaram porque ele estava de quarentena, após uma viagem à Índia. Depois, a comissão desistiu de ouvi-lo na segunda data, 1º de julho, após o empresário conseguir um habeas corpus no Supremo Tribunal Federal (STF).
Também houve a intenção de ouvi-lo em 14 de julho, com a diretora-técnica da Precisa, Emanuela Medrades, mas os senadores entenderam que seria complicado ouvir os dois no mesmo dia. Por fim, em 4 de agosto, na última data marcada para a ida de Maximiano à CPI, ele estava novamente na Índia.
Até agora, Maximiano se comunicou com a comissão por meio dos advogados. As poucas informações que os senadores têm sobre ele são que ele é casado e, em tese, vive em Barueri, São Paulo. O endereço informado à comissão, no entanto, é o da sede da Precisa Medicamentos, não o residencial.
O empresário nasceu em Mandaguari, no interior do Paraná. Hoje, ele tem mais de 10 empresas de consultoria e intermediação de negócios. Maximiano atua na área farmacêutica há pelo menos uma década e, em várias ocasiões, negociou com o governo.
Em julho, depois que o caso Covaxin veio à tona, a Bharat Biotech rompeu com a Precisa o contrato fechado em fevereiro. Mas não é a primeira vez que Maximiano faz negócios com o ministério e também não é a primeira vez que eles acabam em investigação. O governo já tratou de outros assuntos com a Global Gestão em Saúde, outra empresa dele.
A Global é investigada por um caso ocorrido em 2017, quando Maximiano fechou um contrato de 20 milhões de reais com o Ministério da Saúde para fornecer remédios para doenças raras, mas não fez as entregas previstas. À época, Ricardo Barros (PP-PR), o atual líder do governo na Câmara, era ministro da Saúde.
Barros nega proximidade com Maximiano. A CPI não tem certeza sobre isso. Os senadores querem saber até que ponto o empresário mantém relações com integrantes do governo e qual é a dimensão das irregularidades nas tratativas em torno da Covaxin.