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'Prioridade é acelerar investimentos e universalizar até 2029': Natália Resende analisa nova Sabesp

Para a secretária de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística de São Paulo, a desestatização foi "um sucesso": "o que fizemos foi uma política de estado"

Natália Resende: “o preço de tela da ação só chegou aonde chegou pelo processo bem-sucedido”  (Leandro Fonseca/Exame)

Natália Resende: “o preço de tela da ação só chegou aonde chegou pelo processo bem-sucedido” (Leandro Fonseca/Exame)

Lucas Amorim
Lucas Amorim

Diretor de redação da Exame

Publicado em 23 de julho de 2024 às 09h00.

Última atualização em 23 de julho de 2024 às 09h38.

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Nos últimos meses, Natália Resende esteve às voltas com um calhamaço de 23 mil páginas. É o volume do projeto de desestatização da Sabesp, a companhia de saneamento do estado de São Paulo, prioridade número um da secretária de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística. Ele inclui 371 anexos para cada um dos municípios atendidos pela nova empresa, que começa a existir oficialmente nesta terça-feira com evento na B3. É o fim de um ciclo que Resende considera bem-sucedido, o de desestatizar uma companhia que atende 27 milhões de pessoas. Agora, começa outro desafio, o de investir para universalizar a coleta e o tratamento de água e esgoto até 2029. A costura e a governança amarradas neste enorme projeto serão essenciais, em sua visão, para o sucesso da operação nos próximos anos. A secretária recebeu a EXAME nesta segunda-feira, horas antes do dia D para a Sabesp, e concedeu a seguinte entrevista. 

Qual o sentimento após esse trabalho de costura dos últimos meses?

É um sentimento de dever cumprido e de muita satisfação de ter alcançado todos os objetivos que traçamos desde o início do processo. Estamos falando de levar saneamento para mais pessoas de uma forma mais rápida e mais barata com redução tarifária com sustentabilidade, incluindo áreas rurais e áreas passíveis de serem regularizadas. E de uma externalidade que é incalculável, como a despoluição do Tietê e dos mananciais. E um modelo regulatório contratual muito robusto olhando até 2060. Todos os objetivos que anunciamos na coletiva de imprensa do dia 31 de julho de 2023 conseguimos cumprir e dentro do cronograma.

Qual foi o maior desafio? Estamos falando do evento emblemático da modernização do estado brasileiro. 

O mais desafiador foi a gente conseguir ter uma quase unanimidade, com 371 de 374 municípios, com sociedade civil e estado. Num novo modelo regulatório que traz ganhos para todos os usuários. Tivemos diversas rodadas de diálogos para transformar 371 contratos em um contrato único com 371 anexos olhando as especificidades de cada um dos municípios. Com metas anuais, com indicadores de água e esgoto. Foi desafiador, mas conseguimos cumprir com qualidade e praticamente de forma unânime.

Falando nos diferentes públicos: clientes, governo e mercado. A começar pelos clientes. Como e quando as pessoas vão perceber mudanças?

A primeira coisa vai ser a redução na conta, principalmente para os vulneráveis, uma redução de 10%. Já começa nesta terça-feira, de forma proporcional. Vamos trabalhar para aumentar essa base junto com a Arsesp, a agência reguladora. O contrato traz uma lógica automática. Todo ano a Arsesp vai olhar a base do CadÚnico e a Sabesp vai implementar. O cliente também pode pedir, como é hoje. Mas vamos incluir automaticamente para pessoas que muitas vezes não têm acesso para entrar na base. Além da tarifa, no médio e no longo prazo tem o foco da universalização até 2029. Estamos falando de um Tietê mais límpido e com menos odor -- é um sonho para o paulista e o paulistano. Não vai dar para beber água, porque é um rio urbano. Precisamos universalizar cidades como Guarulhos que hoje tem 20% de tratamento. Na nascente, Salesópolis tem hoje 4,8 mil residências dentro do contrato e 3,5 mil fora, porque são áreas rurais. Vamos ver uma quantidade de investimento e de obras muito grande. Estamos falando de 68 bilhões de reais até 2029. Vamos ligar mais de 2,5 milhões de pontos. Vamos também investir em ampliar em 50% a estação de tratamento de vazão da estação de Barueri. Vamos fazer retrofit de estações de tratamento de água e esgoto. Temos obras previstas e objetivos em cada um dos 371 municípios. 

Passando para o mercado financeiro. A demanda pelas ações deixou uma sensação de que pode ter ficado dinheiro na mesa. Ficou? 

Não ficou. A gente tinha uma expectativa de 10 bilhões de reais. Estamos alcançando praticamente 15 bilhões. Então é mais que o esperado. E temos que considerar uma coisa que as pessoas olham e não se atentam: a valorização que a ação teve desde o início do processo. Quando qualificamos o programa de parceria de investimentos a valorização até os 67 reais [no preço da ação] foi de 37%, muito maior que a de outros players. Essa valorização jamais teria acontecido se não estivéssemos no trabalho de desestatização. O preço de tela da ação só chegou aonde chegou pelo processo bem-sucedido. Desde que falamos do acionista de referência também já teve outra valorização. Essa foi uma das lógicas para ter mais estabilidade e não ver acontecer o que aconteceu com outras full corporations no Brasil com problemas de gestão. Temos expectativa que o preço siga aumentando, de tal forma que nossa participação de 18% siga valorizando.

A grande demanda por ações e essa nova base de acionistas faz da Sabesp uma empresa mais sexy e mais visada. Como isso muda a empresa?

Será uma empresa mais atrativa, com investidores de longo prazo, da área de infraestrutura, de saneamento. Eles não vieram para comprar e vender. Isso é muito importante para uma empresa de utilities. Além disso, a governança que colocamos, com lockup, com acionista de referência, conselheiros indicados pelo acionista e pelo governo, isso tudo permite prestar o melhor serviço. 

O que acontece na empresa nos próximos 100 dias?

Entra em vigor o contrato nesta terça-feira. A partir daí, começam todas as obrigações de redução tarifária e de investimentos. Tem também a necessária aprovação no Cade, que não deve ser um problema. Esperamos um prazo sumário de 30 dias como suficiente. Temos que cumprir trâmites internos para o novo conselho e para a gestão. Temos comissões e comitês focados nos primeiros 100 dias. Temos um plano com todas as obrigações aqui na secretaria. Temos feito isso também junto com a agência e com a Sabesp. De 6 em 6 meses teremos reuniões de acompanhamento dos 371 municípios mais representantes da sociedade civil. 

Os objetivos são de um prazo mais longo, mas vocês consideram importante dar respostas rápidas? 

Com certeza. A nossa prioridade é acelerar o plano de investimentos, o capex. E comunicar muito. Queremos mostrar o sucesso. O processo de desestatização para a gente foi um sucesso muito grande. Agora queremos mostrar para a população que também temos êxito no resultado, com investimentos e qualidade. Isso vai ser referência para o Brasil e não só para São Paulo. Só fizemos o que fizemos, com a criação do fundo de subsídio de parte da tarifa e o acionista de referência, tudo foi pensando no objetivo da universalização. Precisamos ter muito sucesso também na segunda parte, a concretização disso tudo. Tudo que vamos fazer agora está escrito no contrato. São 850 páginas, mais cada anexo de 60 páginas para cada um dos 371 municípios. Colocamos tudo para a consulta pública, junto com o plano regional, que tem mais 750 páginas. Antes os 371 contratos não se conversavam, o que dificultava muito fazer investimentos. 

Quais os próximos passos na modernização do governo?

Temos um programa de parcerias de investimentos com 220 bilhões de reais em investimentos, no social, em parques, trilhos e rodovias. Precisamos de contratos bem-feitos e de instituições fortes, com critérios objetivos, mandato para dirigentes. As agências continuam fortes independentemente de governo, com recursos próprios, quadros próprios. Queremos aprovar o projeto de lei o mais rápido possível, e já estamos em diálogos com os deputados. 

Quando pensamos gestão pública no Brasil, qual a relevância desse processo?

Para mim, ensina que fazer o correto compensa. A gente fez tudo de uma forma a cumprir cronograma com qualidade, diálogo e transparência. Não foi o caminho mais fácil, foi o mais correto. Olhamos o que era melhor para o usuário. E pensando não só numa operação de ações, mas no serviço de saneamento. Essa é a forma correta de fazer uma política pública. Fica a importância da governança e de política sólida independente de governo, com contratos bem-feitos e regulação forte. Isso fica de referência para o longo prazo, é a política pública estruturada e com qualidade. O que fizemos neste projeto foi uma política de estado.

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