Preso neste sábado, o ex-ministro Walter Braga Netto foi apontado no relatório como integrante de dois dos seis núcleos da organização criminosa (Marcello Casal Jr/Agência Brasil)
Agência de notícias
Publicado em 14 de dezembro de 2024 às 10h09.
Última atualização em 14 de dezembro de 2024 às 10h10.
Alvo de operação da Polícia Federal na manhã deste sábado, o general do Exército Walter Braga Netto está entre os indiciados do relatório finalda Polícia Federal no chamado inquérito do golpe e deverá, assim como o ex-presidente Jair Bolsonaro, ser denunciado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) no início de 2025.
A expectativa é que os procuradores envolvidos no caso enviem ao Supremo Tribunal Federal sua decisão sobre a abertura ou não de uma ação criminal contra os 37 investigados nos primeiros meses do ano que vem, permitindo que o julgamento ocorra ainda no primeiro semestre do ano que vem, segundo a expectativa de pessoas que acompanham o processo de perto.
Caso o procurador-geral da República, Paulo Gonet, decida apresentar a denúncia contra Bolsonaro, Braga Netto e seus aliados, o caso será remetido ao ministro Alexandre de Moraes, relator do processo no Supremo. Inicialmente, o caso será julgado pela Primeira Turma do STF, composta por Cristiano Zanin, Cármen Lúcia, Flávio Dino e Luiz Fux, além de Moraes. Caso recebam a denúncia, todos os réus poderão apresentar suas defesas e indicar testemunhas.
A expectativa é que, com isso, o caso possa ser decidido ainda em 2025 e não contamine a próxima disputa presidencial, a ser realizada em 2026. Em caso de condenação, os acusados obviamente poderão apresentar recursos.
Preso neste sábado, o ex-ministro Walter Braga Netto foi apontado no relatório como integrante de dois dos seis núcleos da organização criminosa que, segundo a PF, teria atuado para tentar um golpe de Estado. Em depoimento prestado à Polícia Federal, o ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, o tenente-coronel Mauro Cid afirmou a investigadores que foi realizada uma reunião na casa de Braga Netto para a organização da trama golpista.
Além de ministro no governo Bolsoanro, Braga Netto foi o candidato a vice-presidente na chapa de Jair Bolsonaro, derrotada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na eleição. A defesa de Braga Netto negou as acusações após a publicação do relatório final da PF.
O julgamento de ações penais envolvendo diversos réus não é novidade para o Supremo. Em 2012, a Corte também já havia se deparado com outro grande caso, o do Mensalão. O escândalo veio à tona quando o deputado Roberto Jefferson denunciou o pagamento de mesada para vários parlamentares votarem a favor de pautas do interesse do primeiro mandato do governo Lula. O caso, que envolveu 38 réus e 24 condenados, foi analisado pelo STF em 53 sessões ao longo de 138 dias.
No entanto, de lá para cá, a dinâmica do Supremo mudou. Não só a análise das ações penais naquela época era de competência exclusiva do plenário, como também a Corte passou a estabelecer que a tomada de depoimentos possa ser delegada a outras instâncias, o que torna a instrução processual mais rápida.
A composição do Supremo também não é mais a mesma de 2012. Um hipotético julgamento da ação de Bolsonaro ocorrerá com uma formação de ministros mais parecida com a atual, que, desde setembro de 2023, condenou mais de 740 pessoas pelos ataques golpistas de 8 de janeiro – considerado o maior julgamento da história da Corte.
Na avaliação de especialistas, a dinâmica atual do Supremo deve fazer com que uma eventual ação penal contra Bolsonaro e seus aliados tenham um trâmite mais rápido que o caso do mensalão.
– Tudo leva a crer que a celeridade que vai ser colocada neste caso do Bolsonaro é muito mais próxima à dos processos envolvendo os golpistas do 8 de janeiro, porque a composição do Supremo é praticamente a mesma, o relator é exatamente o mesmo e os fatos são correlatos – diz o advogado criminalista Fábio Tofic Simantob.
O advogado Ariel Weber observa que o Mensalão representou um marco na história do STF, inaugurando decisões inéditas, e demandando discussões que levaram a uma evolução dos entendimentos da Corte.
– Hoje, seja do ponto de vista de estrutura ou de precedentes, o Supremo está mais preparado para lidar com ações de grande repercussão, especialmente aquelas que exigem instruções processuais amplas e prolongadas – afirma.
Segundo ele, ainda que a complexidade de uma instrução criminal envolvendo múltiplos réus demande tempo, há uma possibilidade significativa de desmembramento para os envolvidos que não estão sujeitos à jurisdição do STF.
– Essa decisão, entretanto, dependerá do entendimento da Corte sobre a necessidade de julgamento conjunto por conveniência da instrução criminal – aponta.