O assessor especial da Presidência e ex-ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim (Ricardo Stuckert/ Instituto Lula/Divulgação)
Editor de Macroeconomia
Publicado em 18 de abril de 2023 às 18h44.
Última atualização em 18 de abril de 2023 às 19h03.
O assessor internacional da Presidência e ex-ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, afirmou que o Brasil não quer alinhamento total com nenhuma potência e que o país é "grande o suficiente para participar da criação de um mundo multipolar". As declarações ocorreram em entrevista à GloboNews.
O diplomata, principal assessor do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em assuntos internacionais, criticou países que afirmam ser necessário "derrotar a Rússia". Ele compara a questão com o que aconteceu com a Alemanha após o Tratado de Versalhes — um dos acordos de paz firmados após a Primeira Guerra Mundial. "Não há nada ideológico nisso. O objetivo sempre foi alcançar a paz", disse o assessor.
Após críticas do porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos Estados Unidos, John Kirby, para quem o Brasil "está papagueando a propaganda russa e chinesa sem observar os fatos em absoluto", Amorim avaliou que houve exagero.
Ele também reconheceu a importância da posição americana durante as eleições quando elas foram questionadas pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), mas que esse fato não obriga o presidente Lula a seguir as mesmas posições dos EUA nas questões internacionais.
"Há exageros na maneira de interpretar. A gente tem vários pontos de convergência, mas em vários momentos o Brasil, no atual governo, condenou a invasão na Ucrânia", disse Amorim em entrevista para a GloboNews.
"Não podemos fazer um drama em torno disso", disse Amorim.
Para ele, os EUA precisam passar a olhar para o futuro. "Se você quer mesmo contribuir para a paz, você tem de entender o problema no seu contexto. E acho que é o que o presidente Lula busca fazer", afirmou.
Em análise recente, a consultoria de risco político Eurasia avaliou que as implicações negativas das falas de Lula serão "limitadas". "Mas ele está exaurindo a boa vontade da Casa Branca para com sua administração e diminuindo as limitadas chances que o Brasil tinha de exercer um papel como broker independente na crise da Ucrânia", diz trecho da análise assinada por Christopher Garman.
Para a consultoria, a primeira vítima da retórica de Lula é a própria ambição do presidente de ser um intermediário independente para a guerra na Ucrânia, uma vez que o espaço para negociação é limitado e há outros intermediários potenciais mais bem-posicionados para a articulação, como Índia e Turquia.
"Além disso, o Brasil perde uma oportunidade para a "soft diplomacy" com os EUA e a Europa. Nenhum desses parceiros dará as costas ao Brasil, e Lula provavelmente responderá às críticas ressaltando que o país não está migrando para a China", diz o relatório. "Mas a Casa Brasa deve gastar menos energia em aberturas ao Brasil."
Para a Europa, dada a crescente importância estratégica da América Latina e do Brasil em meio à crise energética e alimentar, o interesse em um acordo comercial com o Mercosul não diminuirá, diz a Eurasia. "Dada a necessidade de cadeias de abastecimento globais seguras, os EUA continuarão a ver a região como estratégica. O Brasil continuará ganhando credibilidade no cenário ambiental mundial", avaliam os analistas.
No entanto, haverá um "custo de oportunidade" associado às declarações que limitam a boa vontade dos EUA com o Brasil, na avaliação da Eurasia.
Com informações do Estadão Conteúdo.