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Opinião: Resiliência hídrica se alcança com planejamento e integração

A única forma de nos adaptar e sermos resilientes é com muita prevenção, planejamento, educação ambiental e, principalmente, integração

Da Redação
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Redação Exame

Publicado em 20 de fevereiro de 2025 às 07h48.

Última atualização em 20 de fevereiro de 2025 às 09h12.

*Natália Resende, secretária de Estado de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística de São Paulo

A chamada resiliência hídrica é desafio a ser enfrentado em todos os níveis - federal, estadual e municipal - e considerando os dois extremos (estiagens severas e chuvas intensas). Não há iniciativa isolada, nem solução da noite para o dia.

O Estado de São Paulo está na direção certa ao trabalhar com planos bem estruturados que consideram ações integradas de curto, médio e longo prazo. Trabalhamos de forma ininterrupta no maior programa de resiliência hídrica da história, com mais de R$ 3 bilhões de investimento em desassoreamento, obras de barragens e sistemas adutores, perfuração cuidadosa de poços, construção e manutenção de piscinões, reservatórios e sistemas de macrodrenagem. Também criamos a SP Águas, agência reguladora estadual de recursos hídricos, que já está atuando na gestão e fiscalização do uso da água de forma estratégica, considerando as especificidades de cada região hidrográfica, bacias e unidades de gerenciamento de recursos hídricos.

Além das medidas previstas no Plano de Adaptação e Resiliência Climática do Estado, posto em consulta pública em 2024 e que tem como um dos eixos a segurança hídrica, estão em andamento serviços e obras para enfrentar problemas históricos de falta de água, como na região de Campinas, uma das mais afetadas pela seca, com a construção das barragens de Pedreira e Duas Pontes, investimento que supera R$ 800 milhões. O sistema adutor já está em fase de estudos de viabilidade econômico-financeira, por meio de parceria público-privada, e fará com que a água acumulada nas barragens beneficie mais de 6 milhões de pessoas na região.

No período chuvoso, que estamos agora, os esforços são em várias frentes. O Estado de São Paulo é cortado de leste a oeste pelo Rio Tietê, com seus 1.136 quilômetros, e uma mega operação silenciosa do Programa IntegraTietê acontece todos os dias. Um dos pilares dessa operação é o trabalho contínuo de retirada de sedimentos. Nos últimos dois anos, foram retirados 2,6 milhões de metros cúbicos do Tietê e seus afluentes, a maior remoção da história do estado. Isso equivale a 185 mil caminhões cheios que, enfileirados, correspondem à distância de São Paulo ao Uruguai.

Desafios históricos estão sendo enfrentados no contexto do IntegraTietê, como o desassoreamento no reservatório de Pirapora, porta de entrada do Médio Tietê, que conta hoje com uma redução de seu volume útil superior a 90%. Ainda, para garantir continuidade dos serviços, independentemente de governos, está em modelagem uma parceria público-privada para o desassoreamento do Tietê e do Pinheiros, dando segurança às pessoas com um contrato de longo prazo.

O Governo, por meio da SP Águas, também faz a limpeza e manutenção de 27 piscinões na região metropolitana de São Paulo. Foram retirados desses equipamentos 405 mil metros cúbicos nos últimos dois anos, com investimento total de R$ 105 milhões no período.

Além do desassoreamento, a SP Águas opera continuamente pôlderes ao longo da Marginal Tietê, a fim de diminuir os transtornos causados por chuvas volumosas. Ao todo, são 12 conjuntos de pôlderes com capacidade para armazenar 29.153 m³. Nessas estruturas, há 45 bombas de recalque - equipamentos capazes de lançar, em média, 1,74 m³ (1742 litros) por segundo das marginais de volta para o rio - instaladas nas pontes Aricanduva, Vila Maria, Limão, Vila Guilherme, Bandeiras, Casa Verde e Anhanguera. Em 2023 e 2024, foram investidos R$ 12,6 milhões para garantir o bom funcionamento destes sistemas.

Essa operação contínua se soma a inúmeras obras entregues e em andamento. A região metropolitana de São Paulo, por exemplo, contará, até o primeiro semestre de 2026, com mais três estruturas para aperfeiçoar o sistema de mitigação de cheias - o piscinão EU-08, em Franco da Rocha; o reservatório no Córrego Jaboticabal, beneficiando São Paulo, São Caetano do Sul e São Bernardo do Campo; o TG-09, beneficiando Franco da Rocha e Caieiras; o reservatório no Córrego Antonico, na capital, além do EU-09, já entregue nesta gestão em Franco da Rocha. Ao todo, serão 1,56 milhões de metros cúbicos a mais em capacidade de armazenamento de água de chuvas e cheias de cursos d’água.

Tudo isso, porém, não será suficiente se não houver também uma preocupação das cidades com a microdrenagem, que nada mais é que o sistema que recebe e conduz as águas das chuvas, composto por bueiros e galerias de águas pluviais. Enquanto tivermos problemas nessas estruturas, combinados com chuvas intensas, conviveremos com os alagamentos. Em São Paulo, das 645 cidades, apenas 130 tem planos municipais específicos de drenagem, e a maioria está desatualizada.

O Governo de São Paulo não está alheio a essa necessidade e tem apoiado as gestões municipais de diferentes formas, junto com os comitês de bacias. Mais de R$ 80 milhões do Fundo Estadual de Recursos Hídricos (Fehidro) foram destinados nos últimos dois anos para a elaboração de planos ou execução de projetos e obras de drenagem. Recentemente, foram anunciados outros R$ 64 milhões disponíveis para novos projetos. A Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística, junto com a SP Águas, dará o apoio técnico necessário para a elaboração dos projetos.

Por fim, e não menos importante, está a participação das pessoas, com a destinação correta dos resíduos. Nos últimos dois anos, retiramos do Rio Pinheiros 77,4 mil toneladas de lixo flutuante. É a marmita, a sacola, o sofá (!) e tantos outros tipos de resíduos que a população joga diretamente ou descarta na rua e são arrastados pelas chuvas para dentro do rio. Pra retirar esse lixo, aplicamos R$ 140 milhões nesses dois anos, dinheiro que poderia ter sido utilizado em outras ações.

Os extremos climáticos têm se mostrado cada vez mais desafiadores. A única forma de nos adaptar e sermos resilientes é com muita prevenção, planejamento, educação ambiental e, principalmente, integração.

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