Brasil

O que vai acontecer se São Paulo ficar realmente sem água?

Cenários traçados englobam redução do horário de funcionamento de alguns estabelecimentos, instituição de férias coletivas e economia de alimentos.

Vista aérea da estação de captação Jaguari, parte do reservatório do sistema Cantareira (Nacho Doce/Reuters)

Vista aérea da estação de captação Jaguari, parte do reservatório do sistema Cantareira (Nacho Doce/Reuters)

Mariana Desidério

Mariana Desidério

Publicado em 29 de janeiro de 2015 às 10h52.

São Paulo – A crise da água em São Paulo está se agravando e o cenário não deve melhorar nos próximos meses. Especialistas consultados por EXAME.com afirmam que as soluções de curto prazo existentes já foram tomadas e o que nos resta agora é o rodízio de abastecimento. A Sabespcogita um revezamento severo, de cinco dias sem água por semana. Com isso, a pergunta que todo paulistano se faz é: o que vai acontecer se ficarmos realmente sem água?

Os cenários traçados vão desde o esgotamento dos nossos lençóis freáticos, devido à perfuração excessiva de poços, até a redução do horário de funcionamento de alguns estabelecimentos, além da instituição de férias coletivas nas empresas em decorrência da falta de água. Dentro de casa, estocagem de água e economia de alimentos.

O fato é que a atual crise veio para ficar, e os paulistas precisarão mudar os hábitos radicalmente, segundo Gabriela Yamaguchi, gerente de comunicação do Instituto Akatu, instituição que atua na promoção do consumo consciente.

“Esse cenário não vai ficar só em 2015. Devemos permanecer pelo menos dois anos com pouca chuva. Portanto, a situação dos reservatórios não vai melhorar no curto prazo”, afirma Gabriela.

O engenheiro Julio Cerqueira Cesar Neto, especialista na área hídrica, reforça o diagnóstico: “Quando acabar o volume morto do Cantareira deixaremos de ter cerca de 30 metros cúbicos por segundo. Esse é o tamanho do problema. E não tem de onde tirar esse volume de água num curto prazo”, afirma. Antes da crise, a vazão retirada do Cantareira era de 31 metros cúbicos por segundo. Hoje, esse número já baixou para 14, de acordo com a Sabesp.

Caso esse cenário se concretize, Gabriela afirma que a prioridade será dada para serviços essenciais, como hospitais, polícia, bombeiros e escolas. “Em outros locais, como shoppings, é possível que haja uma redução do horário de funcionamento. Também já ouvimos entidades empresariais falarem em férias coletivas para os funcionários, devido à falta d’água”, afirma.

No entanto, a representante do Akatu argumenta que esse tipo de situação ainda pode ser evitado. A solução estaria estar na articulação dos diversos atores sociais para garantir a economia de água.

“Para que não se chegue a isso, é preciso ter mais coordenação no diálogo. Não é possível esperar que só uma campanha de diminuição de consumo da população resolva o problema. Precisamos da participação do setor industrial e do agronegócio”, afirma.

Poços

Enquanto essa coordenação não se concretiza, muitos estabelecimentos já estão recorrendo à perfuração de poços e, em casos extremos, à contratação de caminhões-pipa.

Mas os especialistas explicam que a perfuração não pode ser levada ao extremo. “Se perfurar um poço muito próximo de outro, os dois podem ficar sem água”, diz Cesar Neto.

Outro problema é a possibilidade de que, com muitos poços, a cidade esgote outra fonte de recursos hídricos: os lençóis freáticos. “Com a perfuração de poços, o que estamos fazendo é apenas substituir uma fonte de água por outra. O raciocínio precisa ser diferente. Precisamos mudar nossos hábitos em relação ao consumo”, diz Gabriela.

Um dos caminhos para um uso mais consciente da água, segundo a especialista, é o reuso. A água usada no enxague da máquina de lavar, por exemplo, pode ser reutilizada na descarga. Outra atitude necessária é o aproveitamento da água da chuva, inclusive com a construção de cisternas.

Outro ponto fundamental é observar nosso consumo de produtos que utilizam muita água em sua cadeia produtiva. “O exemplo clássico é o desperdício de alimentos. O maior consumidor de água do mundo é o agronegócio. E o maior desperdício que há no planeta é o de alimentos. Isso precisa diminuir”, afirma.

De acordo com a coluna Painel, da Folha de S.Paulo, o prazo dado pela Sabesp para iniciar um rodízio drástico no abastecimento é de menos de dois meses. Sendo assim, é preciso correr para aprender a economizar água e a trabalhar em conjunto pela preservação dos recursos hídricos. 

Acompanhe diariamente como está a situação dos reservatórios que abastecem a região metropolitana de São Paulo na ferramenta de EXAME.com.

Acompanhe tudo sobre:Águacidades-brasileirasEmpresasEmpresas abertasEmpresas brasileirasEmpresas estataisEstatais brasileirasMetrópoles globaisSabespSaneamentosao-pauloServiços

Mais de Brasil

Presidente eleito do Uruguai e Lula conversam sobre acordo Mercosul e UE: 'Estamos otimistas'

Lira diz que medidas de corte de gastos contarão 'com boa vontade' da Câmara e que IR fica para 2025

Unicef pede para Austrália consultar jovens sobre lei que restringe acesso a redes sociais

Expectativa de vida do brasileiro sobe para 76,4 anos e supera índice anterior à pandemia, diz IBGE