Marcelo Castro: apesar de ser do PMDB, deputado votou contra o impeachment e foi ministro de Dilma Rousseff (PT) (Lula Marques/ Agência PT/Fotos Públicas)
Raphael Martins
Publicado em 13 de julho de 2016 às 13h12.
Última atualização em 1 de agosto de 2017 às 12h03.
São Paulo – O ex-ministro da Saúde de Dilma Rousseff (PT) e deputado federal Marcelo Castro (PMDB-PI) confirmou na tarde de quinta-feira (12) sua candidatura à presidência da Câmara dos Deputados por seu partido. Houve votação em dois turnos entre 46 parlamentares da legenda para definir o representante.
Castro conquistou 28 votos e venceu a disputa com o presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), Osmar Serraglio (PMDB-PR). Dali em diante, analistas e deputados passaram a discutir seu papel na disputa, considerando que o PMDB é a maior bancada na Câmara.
Apesar de fazer parte de seu partido, a candidatura de Castro não gera confiança a Michel Temer (PMDB). Além de ter ocupado ministério petista, o deputado votou contra o impeachment da presidente afastada.
Ainda que seja de uma vertente dissidente do partido, levantou-se até teoria de que sua candidatura serviria para atrair votos das bancadas de esquerda da Câmara, em especial PT e PCdoB, esvaziando possível acordo das legendas com Rodrigo Maia (DEM-RJ).
O PT, inclusive, já negou que haverá alinhamento com Maia. A bancada disse ontem que vai procurar candidatos "contrários ao golpe" — caso de Castro.
Esse movimento favoreceria Rogério Rosso (PSD-DF), nome preferido do governo Temer e Eduardo Cunha (PMDB), que continua exercendo influência na Casa.
“A presença de Castro até pode despolarizar a disputa, mas a chance de eleição é muito pequena”, afirma Rodrigo Prando, cientista político e professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie. “Ainda mais quando o Planalto joga pesado contra a candidatura e partidos da antiga oposição também. Votos dos dissidentes do PMDB, do PT e aliados não são suficientes”.
Para Antônio Flávio Testa, cientista político da UnB, Castro vem para tentar dividir o “centrão”, alegando que o PMDB não tem recebido espaço no governo Temer.
“A candidatura dele não é confiável nem para o presidente interino, nem para Lula e nem para Cunha”, diz Testa “Ele está lá somente para pressionar e negociar espaço dentro do próprio partido.”
O cientista político da FGV-Rio Carlos Pereira é mais cauteloso. Ele lembra que Rodrigo Maia atua de forma independente do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha, com um compromisso forte com o PSDB e o PPS, que fazem parte do bloco de oposição.
“Apesar desse bloco contar com um número de votos significativo, o que torna a candidatura de Maia mais forte, não acredito que seja suficiente para sobrepor Castro na briga pela cadeira. Tudo pode acontecer”, diz.
Para os analistas ouvidos por EXAME.com, é certo neste momento que haverá segundo turno. A articulação define apenas quem disputará a cadeira com Rogério Rosso e o papel das alas de esquerda que podem ser determinantes.