No ritmo atual, universalização do sanaemento no Brasil só acontecerá em 2070, aponta estudo
Hoje, cerca de 32 milhões de brasileiros vivem sem acesso à água potável e mais de 90 milhões não têm coleta de esgoto
Repórter de Brasil e Economia
Publicado em 15 de julho de 2024 às 11h14.
Última atualização em 22 de julho de 2024 às 17h24.
Após quatro anos de implementação do Novo Marco Legal do Saneamento, que definiu que o serviço deve ser universalizado até 2033, o Brasil não apresentou uma evolução significativa nos indicadores de saneamento básico . Mantido o ritmo atual, o país conseguirá atingir a universalização em 2070, 37 anos depois do prazo definido, aponta o estudo “Avanços do Novo Marco Legal do Saneamento Básico no Brasil de 2024 (SNIS, 2022)” do Instituto Trata Brasil, em parceria com a GO Associados.
Hoje, cerca de 32 milhões de brasileiros vivem sem acesso à água potável e mais de 90 milhões não têm coleta de esgoto.
Entre 2018 e 2022, último ano com dados disponibilizados pelo Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS) até o momento, as evoluções do atendimento de água, coleta e tratamento de esgoto foram de 1,30 ponto percentual, 2,85 pontos percentuais e 5,98 pontos percentuais, respectivamente. Embora o indicador de tratamento de esgoto tenha mostrado a melhor evolução, segue sendo o mais distante da meta de universalização.
Caso o Brasil mantenha a progressão média observada nos últimos cinco anos nos indicadores, até o final de 2033 os serviços chegarão apenas a 88% de abastecimento de água e 65% de coleta e tratamento de esgotos, ainda distante de todas as metas.
Apesar de 1.500 dias do Marco em vigor, cerca de 579 municípios ainda têm contratos irregulares em relação à prestação dos serviços básicos.
Quase 10 milhões de pessoas vivem nessas cidades, que enfrentam os maiores gargalos para atingir as metas propostas pelo Novo Marco. A maioria dos municípios está localizada no Norte e no Nordeste do país, regiões que historicamente mais sofrem com a ausência de saneamento.
"A saúde pública começa pelo saneamento, e à medida que as eleições municipais se aproximam, os candidatos devem destacar o tema em seus planos e se comprometer para que o acesso à água e ao esgotamento sanitário seja uma realidade num futuro próximo, e não cada vez mais distante”, afirma Luana Pretto, Presidente-Executiva do Trata Brasil.
Faltam R$ 46,3 bilhões em investimentos por ano até 2033
Segundo o estudo, considerando o Plano Nacional de Saneamento Básico (PLANSAB), do Ministério das Cidades, e atualizações de valores investidos disponíveis no SNIS, estima-se que são necessários aproximadamente R$ 509 bilhões para se alcançarem as metas de universalização.
Portanto, dividindo-se o montante restante necessário para a universalização pelo período de 11 anos, de 2023 a 2033, serão necessários investimentos anuais de R$ 46,3 bilhões. Considerando a média de investimentos dos últimos cinco anos, que foi de R$ 20,9 bilhões, o investimento precisa mais do que dobrar, não somente em 2024, mas em todos os anos subsequentes, para que a universalização seja possível até 31 de dezembro de 2033, conforme previsto em lei.
O Brasil precisaria de um investimento médio superior a R$ 230 reais por habitante para cumprir com as metas do Novo Marco Legal do Saneamento. Nos municípios irregulares, o investimento é de apenas R$ 27,39 per capita.
A estimativa ainda é que o avanço do investimento em saneamento básico no patamar necessário para universalização pode incrementar R$ 58,1 bilhões anualmente no PIB brasileiro, segundo o levantamento.