Metais tóxicos da Alunorte escoaram por canais irregulares, diz IEA
IEC foi acionado após alertas de moradores das comunidades sobre enxurrada de água vermelha, que inundou ruas, casas e áreas de floresta amazônica
Reuters
Publicado em 28 de março de 2018 às 17h44.
Última atualização em 28 de março de 2018 às 20h00.
Metais tóxicos escoaram por canais irregulares da maior refinaria de alumina do mundo, a Hydro Alunorte , em direção ao Rio Pará , disse nesta quarta-feira o químico pesquisador em Saúde Pública da Seção de Meio Ambiente do Instituto Evandro Chagas (IEC), Marcelo Lima.
A afirmação foi feita a partir de um relatório mais completo elaborado pelo IEC sobre a possível contaminação na região de Barcarena com chumbo e resíduos do processamento de bauxita pela Hydro Alunorte, que pertence ao grupo norueguês Norsk Hydro , após fortes chuvas em meados de fevereiro.
O IEC foi acionado pelo Ministério Público estadual e federal após alertas de moradores das comunidades Bom Futuro e Vila Nova sobre uma enxurrada de água vermelha, que inundou ruas, casas e áreas de floresta amazônica, perto da Alunorte, após fortes chuvas na região.
"O lançamento desses efluentes sem tratamento no rio Pará é um risco e não dá para você monitorar só controlando o PH, você tem que fazer um controle muito mais amplo", disse Lima, durante uma coletiva de imprensa transmitida pela internet.
No relatório, o IEC encontrou evidências de que efluentes da empresa contaminaram as águas do Rio Murucupi, próximo à empresa. Segundo o documento, o trecho entre a comunidade Vila Nova e as nascentes está comprometido com níveis de alumínio, ferro, arsênio, cobre, mercúrio e chumbo acima do que prevê a legislação brasileira.
"São águas que não devem ser usadas para consumo humano, recreação ou pesca, até que se façam estudos de eco toxicidade na região. Todos os elementos tóxicos encontrados nos efluentes da empresa Hydro também são encontrados nas águas do rio Murucupi", disse o IEC em um documento à imprensa.
Além disso, em coletas após os eventos do dia 17 de fevereiro, foram encontrados níveis bastante elevados em relação à legislação brasileira de alumínio, ferro e alguns outros metais tóxicos, em águas do Rio Pará.
Segundo o IEC, o volume de água do Rio Pará é muito grande e é necessário o lançamento também muito grande de efluentes para alterar esses parâmetros.
Durante a coletiva, Lima explicou que os riscos em saúde ambiental evidenciados pelos estudos mais aprofundados do instituto foram "bem maiores do que se imaginava", não se limitando à bacia do Rio Murucupi.
Em e-mail à Reuters nesta quarta-feira, a empresa disse que não havia obtido acesso ao conteúdo integral do relatório apresentado pelo IEC. A companhia declarou que irá analisar o material antes de se pronunciar.
Fatores novos
Em um primeiro relatório, publicado em 22 de fevereiro, o IEC já havia apontado uma contaminação do meio ambiente pela empresa após as chuvas, entretanto, as informações ainda eram preliminares e não havia um contexto maior sobre como os efluentes teriam chegado em quantidade ao meio ambiente.
Inicialmente, a Alunorte defendia que apenas uma pequena quantidade de efluentes de águas de chuvas havia vazado para uma área de floresta por rachaduras até então desconhecidas em um duto de drenagem desativado, que foi submerso por falhas da planta que causaram alagamentos em área da empresa.
Posteriormente, após novas investigações de autoridades ambientais federal, estadual e municipal, além de MPs, dentre outros, a empresa acabou por admitir o despejo proposital de efluentes no meio ambiente por canais irregulares.
Em nota, o presidente e CEO da Hydro, Svein Richard Brandtzæg, chegou a pedir desculpas à população por não receberem a informação que merecem e afirmar que expandiu o escopo de uma "revisão independente", já em curso na Alunorte, realizada pela consultoria ambiental brasileira SGW Services.
Devido às novas descobertas, o IEC recomendou que, pelo menos até o final do período de chuvas, água potável continue sendo disponibilizada às comunidades do Bom Futuro, Jardim dos Cabanos, Burajuba e Vila Nova, devido à contaminação das águas do rio Murucupi.