Brasil

Leviandade não pode permanecer, diz Temer sobre Machado

"Alguém que teria cometido aquele delito irresponsável que o cidadão Machado apontou, não teria condições de presidir o país", afirmou o presidente interino

Michel Temer durante cerimônia de posse de Torquato Jardim no cargo de Ministro da Transparência, Fiscalização e Controle - 2/6/16 (Beto Barata/PR)

Michel Temer durante cerimônia de posse de Torquato Jardim no cargo de Ministro da Transparência, Fiscalização e Controle - 2/6/16 (Beto Barata/PR)

DR

Da Redação

Publicado em 16 de junho de 2016 às 15h19.

Última atualização em 1 de agosto de 2017 às 12h45.

São Paulo – O presidente em exercício Michel Temer (PMDB) fez um pronunciamento na manhã desta quinta-feira (16) negando qualquer envolvimento com os eventos relatados pela delação do ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado.

"Esta leviandade não pode permanecer", disse Temer. "Alguém que teria cometido aquele delito irresponsável que o cidadão Machado apontou, não teria condições de presidir o país."

Temer afirmou que denúncias como essa colocam em risco a "seriedade extraordinária" com a qual o governo toca os ajustes econonômicos no país.

Foram citadas medidas como a redução de ministérios e cargos comissionados, a retomada da relação com o Congresso Nacional e a aprovação recente do novo plano fiscal que controla gastos públicos.

O presidente disse ainda que não vai tolerar afirmações semelhantes e prometeu retomar discursos sempre que for acusado para contestar atos "mal feitos".

"No instante em que estamos fazendo um esforço extraodinário, com o apoio da maioria do povo brasileiro, surge um fato que pretende nos embaraçar", disse Temer. "Nada embaraçará nossa missão de fazer com que, nesse período que estamos à frente da presidência da República, deixemos de trabalhar em prol do Brasil e do povo brasileiro."

Temer chegou a se manifestar no início da noite desta quarta-feira (16) através de nota oficial. Além de classificar sua relação com Machado como meramente "formal e sem nenhuma proximidade", fez questão de ressaltar que sempre agiu em conformidade com as leis eleitorais para busca de recursos.

"Em toda sua vida pública, o presidente em exercício Michel Temer sempre respeitou estritamente os limites legais para buscar recursos para campanhas eleitorais", diz o texto. "Jamais permitiu arrecadação fora dos ditames da lei, seja para si, para o partido e, muito menos, para outros candidatos que, eventualmente, apoiou em disputas."

Curioso lembrar que, em maio, Temer foi condenado pelo Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo (TRE-SP) por doações de campanha acima do limite legal. O presidente em exercício está inelegível pelos próximos oito anos.

A DELAÇÃO

Em delação tornada pública ontem (15), o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado envolveu o presidente em exercício e mais de 20 políticos em no esquema de propinas da estatal.

Segundo Machado, havia uma operação de captação de recursos ilícitos para abastecer a campanha do então candidato peemedebista Gabriel Chalita para a Prefeitura de São Paulo, em 2012.

"O contexto da conversa deixava claro que o que Michel Temer estava ajustando com o depoente era que este solicitasse recursos ilícitos das empresas que tinham contratos com a Transpetro na forma de doação oficial para a campanha de Chalita", revelou Machado à Procuradoria-Geral da República.

O repasse teria sido autorizado por Temer e do senador Valdir Raupp (PMDB-RR) em nome da empreiteira Queiroz Galvão.

O DISCURSO

Veja abaixo a íntegra do pronunciamento de Temer.

"Bom dia a todos, senhoras e senhores.

Eu quero fazer uma declaração a respeito da manifestação irresponsável, leviana, mentirosa e criminosa do cidadão Sérgio Machado. E quero dizer aos senhores e às senhoras, eu falo em primeiro lugar como homem, como ser humano, para dizer que a nossa honorabilidade está acima de qualquer outra função ou tarefa pública que eu exerça no momento ou venha a exercer. E, ao falar como ser humano, eu quero me dirigir à minha família, quero me dirigir aos muitos amigos e conhecidos que tenho no Brasil, quero me dirigir ao povo brasileiro para dizer que não deixarei passar em branco essas afirmações levianas que eu acabei de mencionar.

Penso que a primeira afirmação que devo fazer é precisamente esta, e quando alguns deixam passar em branco, eu não deixarei. Até porque devo revelar, e eu falo com palavras indignadas, mas ao meu estilo, para registrar mais uma vez que esta leviandade não pode prevalecer.

Por outro lado, eu quero falar também como presidente da República em exercício, e nesse particular eu quero revelar toda a sobriedade como convém a alguém que neste momento conduz o destino do País.

É claro que uma coisa está muito ligada a outra. Alguém que teria cometido aquele delito irresponsável que o cidadão Machado apontou, não teria até condições de presidir o País, por isso que a primeira palavra que dei foi precisamente como homem, para poder andar nas ruas do meu estado, nas ruas do Brasil, receber os cumprimentos e as homenagens que tenho recebido neste último mês em todos os locais por onde passo, e para não deixar a afirmação de que eventualmente eu pratique atos mal feitos.

Voltando agora à figura da Presidência da República, e mais uma vez, agora, revelando ponderação e sobriedade, eu quero dizer que ao longo deste mês nós praticamos os mais variados gestos com vistas a tirar o País da crise profunda em que mergulhou. Não só, vou dizer o óbvio, eliminamos ministérios, eliminamos mais de 4,2 mil cargos de livre nomeação, eliminamos mais de 10,2 mil cargos comissionados, eliminando portanto a comissão. Tivemos uma relação muito fértil com o Congresso Nacional, temos hoje uma base parlamentar que revela que o País está em harmonia ao governarem, Executivo e Legislativo. É fundamental para o País esta interação e ainda ontem, sabe os senhores e as senhoras, nós lançamos um ajuste fiscal, uma nova meta fiscal, um novo plano fiscal, que, como pude perceber no noticiário de hoje, é dos mais adequados para o momento que passamos no País.

Nós tivemos a coragem, a ousadia até de propor um plano que fixa teto para os gastos públicos, até por uma razão singela que os senhores e senhoras conhecem. Nós temos um déficit extraordinário de R$ 170 bilhões, sem contar a dívida pública, que chega a quase R$ 400 bilhões. Então, este teto fixado por um projeto muito adequado e outros projetos virão para fazer a adequação integral da questão do teto dos gastos públicos, é um projeto de uma seriedade extraordinária, tal como ficou registrado nos comentários da área econômica no dia de hoje.

Pois muito bem, no instante em que nós estamos fazendo o esforço extraordinário, com o apoio, convenhamos, da grande maioria do povo brasileiro, com o apoio da quase totalidade daqueles que no Congresso Nacional pensam o Brasil, surge um fato, volto a dizer, leviano como este, que embaraça a atividade ou pode embaraçar a atividade governamental. Mas eu quero aqui dizer, registrar em alto e bom som, nada embaraçará o nosso desejo, a nossa missão, a nossa tarefa de fazer com que neste período que eu esteja a frente da Presidência da República, com uma equipe econômica extraordinária, com uma equipe relativa às relações exteriores de uma maneira extraordinária, com ministério muito adequado, nada impedirá que nós continuamos a trabalhar em prol do brasil e do povo brasileiro.

E agora, mais uma vez, permitam-me que eu me dirija ao povo brasileiro. Nós não vamos tolerar afirmações dessa natureza. E quero revelar, agora deixando de ser o presidente da República quem vos fala, eu quero dizer que quando surgirem fatos dessa natureza eu virei a público para contestá-las em benefício da harmonia do nosso País.

Muito obrigado aos senhores."

Acompanhe tudo sobre:EmpresasEmpresas brasileirasEmpresas estataisEstatais brasileirasGabriel ChalitaMDB – Movimento Democrático BrasileiroMichel TemerOperação Lava JatoPartidos políticosPolítica no BrasilPolíticosPolíticos brasileirosServiçosTranspetro

Mais de Brasil

'Grande Perigo': Inmet alerta para tempestade com ventos superiores a 100km/h e granizo no RS e SC

Morre aos 93 anos o físico Rogério Cerqueira Leite

PEC das Praias: projeto que engajou de Neymar a Piovani volta a ser discutido no Senado

João Campos, reeleito em Recife, defende gestão pública mais próxima do cidadão e sem intermediários