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Free flow consolidará efeito Netflix de cobrança e fidelização de clientes em rodovias

Presidente da ABCR prevê a tecnologia como a "grande tendência" da agenda de concessões em rodovias, que deve passar ainda por um amadurecimento institucional e ampliação 

Outra possiblidade com o free flow é a fragmentação de trechos de cobrança nas rodovias que, de acordo com Marco Aurélio Barcelos, pode "impelir a equidade tarifária" (Governo de SP/Divulgação)

Outra possiblidade com o free flow é a fragmentação de trechos de cobrança nas rodovias que, de acordo com Marco Aurélio Barcelos, pode "impelir a equidade tarifária" (Governo de SP/Divulgação)

Publicado em 17 de fevereiro de 2025 às 10h30.

A tecnologia do free flow, ou fluxo livre, autorizada no Brasil desde 2021, vai consolidar nos próximos anos o "efeito Netflix" e transformar o usuário de rodovias do país em "clientes", afirma Marco Aurélio Barcelos, presidente da ABCR, a Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias.

"O usuário hoje é um anônimo, somente um número, ninguém sabe quem é, de onde vem e para onde vai. Não sabe suas preferências e não consegue contatá-lo, comunicá-lo e não se consegue fidelizar. Com o free flow, na medida que se consiga entender e identificar quem é o usuário, o que é fundamental inclusive para haver a cobrança automática, é possível trabalhá-lo dentro da rodovia e são muitas oportunidades que se abrem", afirma Barcelos no podcast EXAME INFRA. 

Barcelos afirma que avanço tecnológico, especialmente a partir do free flow, é uma das principais tendências das concessões no setor rodoviário. O sistema de pedágio sem cancelas permite que os veículos sejam identificados e tarifados por meio de pórticos instalados ao longo das rodovias.

Esses pórticos fazem a leitura da placa ou do chip instalado nos veículos por meio de tags. E o motorista não precisa parar nem reduzir a velocidade ao passar pelo pedágio. O que explica o chamado "efeito Netflix", em que o usuário recebe apenas a fatura, sem interrupções em seu deslocamento.

Outra possibilidade com o free flow é a fragmentação de trechos de cobrança nas rodovias que, de acordo com Barcelos, pode "impelir a equidade tarifária", e que se reduz o valor do pedágio e as pessoas pagam proporcionalmente aos quilômetros rodados.

Mas a principal é o uso do mecanismo para fidelizar os usuários e até criar oportunidades a partir de seu comportamento na rodovia.

"Posso trabalhar a opção do cashback, que já existe hoje com o descontos para usuários frequentes, mas que eu posso personalizar, entender qual é o perfil, o comportamento na rodovia, até ara bonificar o cliente. Hoje qual é o incentivo para o bom condutor? O selo que tem hoje na carteira digital de trânsito. Podemos ampliar isso de forma especial", diz o presidente da ABCR.

"Abre um campo muito grande para trabalhar o usuário como cliente e não como um contribuinte", complementa.

Coração do contrato de concessão é a operação

Nesses 30 anos da Lei das Concessões, o especialista observa que houve muitas mudanças, entre elas, sobre os atores. Ele explica que o mercado de concessão de rodovias, em seu nascedouro, era alicerçado por empreiteiras, que tinham como principal business as obras em si.

Hoje, o "coração" de um contrato de concessão não é obra. "A concessão é um projeto de longo prazo e o que importa é a operação. Tanto é que se tem hoje operadores, fundos, bancos, que têm ingressado no mercado de concessões e eles não fazem obras, eles subcontratam elas", afirma.

O presidente da ABCR acrescenta que o sucesso do mercado de concessão é semelhante ao que precisa um casamento: trabalhar com a ideia de parceria. A relação inclui, inclusive, os órgãos de fiscalização, que, segundo ele, não precisam atuar como "carrasco", mas de forma firme, defende.

"Em algumas agências regulatórias, na ANTT [Agência Nacional de Transportes Terrestres] especialmente, é que existe uma preocupação em tornar viável esse negócio, ela é uma viabilizadora. Entende os desafios e como corrigi-los".

EXAME INFRA

EXAME INFRA, podcast da EXAME é realizado em parceria com a empresa Suporte, especializada em soluções para obras e projetos de infraestrutura.

O programa, que terá episódios quinzenais disponíveis no YouTube da EXAME, se debruçará sobre os principais desafios do setor de infraestrutura no Brasil.

Veja os episódios:

Ep. 1 - EXAME INFRA: SP planeja concessões de rodovias, CPTM e mais com R$ 30 bi em investimentos

Ep.2 - EXAME INFRA: Com prazo para setembro de 2026, Via Appia quer antecipar entrega final do Rodoanel Norte

Acompanhe tudo sobre:InfraestruturaExploração de rodoviasConcessões

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