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Hacker que vazou conversas vira atração de presos pela Lava Jato na Papuda

Segundo uma pessoa próxima, Delgatti é procurado por políticos e autoridades, presos pela operação, para conversar sobre mensagens entre procuradores e Moro

Hacker: ele critica as reportagens publicadas pelo Intercept. Segundo ele, o site privilegia conversas que implicam Moro (Governo Federal/Divulgação)

Hacker: ele critica as reportagens publicadas pelo Intercept. Segundo ele, o site privilegia conversas que implicam Moro (Governo Federal/Divulgação)

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Clara Cerioni

Publicado em 14 de setembro de 2019 às 12h17.

Última atualização em 14 de setembro de 2019 às 12h20.

Rio de Janeiro — Preso desde 3 de agosto sob a acusação de hackear o telefone celular de autoridades, entre elas o ex-juiz e hoje ministro da Justiça, Sergio Moro, e procuradores da operação Lava Jato, Walter Delgatti Neto, conhecido como Vermelho, virou a maior atração da chamada Ala das Autoridades do Complexo Penitenciário da Papuda.

Segundo uma pessoa próxima, Delgatti vem sendo procurado por políticos e autoridades que estão presos na mesma ala para contar o que leu nas conversas interceptadas nos celulares dos principais atores da operação, cuja atuação colocou boa parte daquele público atrás das grades.

O hacker, que já demonstrou a policiais federais que o interrogaram ter uma memória prodigiosa, afirma que leu todo o material antes de "vazar" para o site The Intercept Brasil — algo que nem os jornalistas envolvidos na divulgação do material dizem ter conseguido fazer. Delgatti gosta de dizer que tem as conversas "frescas na cabeça" e que sabe muito mais do que já foi divulgado.

Com essas credenciais, ele passou a ser o centro das atenções durante o banho de sol. O que no início assustou virou o maior passatempo e diversão do hacker: as rodas de conversa para falar sobre as mensagens das autoridades - algumas delas revelando segredos da República.

As conversas no pátio duram horas e despertam atenção e curiosidade dos presos, entre eles o ex-ministro Geddel Vieira Lima (MDB-BA), que está na Papuda desde setembro de 2017, e se aproximou de Delgatti.

Seus interlocutores naturalmente ignoram o fato de ele ser alvo de diversos processos por estelionato e se divertem com as histórias.

O hacker critica as reportagens publicadas pelo Intercept. Segundo ele, o site privilegia conversas que implicam Moro e estaria deixando de publicar informações comprometedoras sobre procuradores.

A um interlocutor, disse que após ter lido as mensagens passou ter mais "pavor" da figura do procurador Deltan Dallagnol do que de Moro, chegando a "se arrepiar" toda vez que escuta o nome do coordenador da Lava Jato em Curitiba.

Estudos

Além da rotina de conversas no pátio da prisão, Delgatti tem se dedicado diariamente aos estudos. Ele conseguiu se matricular no curso a distância de Direito Penal numa instituição de ensino particular de Brasília, e tem prova marcada para este sábado (14).

Antes de ser preso, Delgatti chegou a cursar a faculdade de Direito, e pretende reiniciar os estudos quando deixar a prisão — ainda não há data para isso. Sua meta é ser advogado trabalhista. 

Entenda os vazamentos

Desde o dia 09 de junho, o Intercept vem revelando uma série de conversas privadas que mostram Moro e procuradores, principalmente Deltan Dallagnol, combinando estratégias de investigação e de comunicação com a imprensa no âmbito da Operação Lava Jato.

Segundo as revelações, o ex-juiz sugeriu mudanças nas ordens das operações, antecipou ao menos uma decisão e deu pistas informais de investigações nos casos envolvendo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

O site é de Glenn Greenwald, um jornalista americano vencedor do prêmio Pulitzer por ter revelado, em 2013, um sistema de espionagem em massa dos EUA com base em dados vazados por Edward Snowden.

Como as revelações vieram a público por uma reportagem, ainda está em curso uma extensa investigação, conduzida pela Polícia Federal, para confirmar as implicações jurídicas.

O vazamento de informações sigilosas no âmbito da Lava Jato tem sido comum desde o início da operação em 2014.

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