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Governo Bolsonaro interfere no combate à corrupção, diz ONG Transparência

Organização criticou governo por "crescente interferência política nas instituições anticorrupção" e decisões do STF sobre delações premiadas

Jair Bolsonaro: Transparência Internacional classifica 180 países a cada ano de acordo com o nível de corrupção percebido no setor público (Helvio Romero/Estadão Conteúdo/Reprodução)

Jair Bolsonaro: Transparência Internacional classifica 180 países a cada ano de acordo com o nível de corrupção percebido no setor público (Helvio Romero/Estadão Conteúdo/Reprodução)

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AFP

Publicado em 23 de janeiro de 2020 às 13h23.

Última atualização em 23 de janeiro de 2020 às 13h39.

São Paulo — A ONG Transparência Internacional denunciou que o Brasil é vítima de "ingerência" por parte do presidente Jair Bolsonaro nos órgãos anticorrupção, conforme afirma em seu relatório anual publicado nesta quinta-feira.

Bolsonaro colocou durante sua campanha, em 2018, a luta contra a corrupção no centro de seu programa, mas o Brasil - lamenta a ONG - sofreu neste campo "uma série de contratempos legais e institucionais".

A TI denunciou uma "crescente interferência política nas instituições anticorrupção por parte do presidente Bolsonaro".

O presidente foi criticado no ano passado por interferências em órgãos como a Receita Federal e a Polícia Federal e também por ter rompido a tradição de escolher alguém da lista tríplice para o cargo de Procurador-Geral da República.

A Transparência também lamentou as decisões do Supremo Tribunal Federal (STF), que complicam a luta contra a corrupção, como a anulação das delações premiadas.

"A corrupção continua sendo um dos maiores obstáculos ao crescimento econômico e desenvolvimento social no Brasil", afirmou a TI em seu relatório anual.

A Transparência Internacional classifica 180 países a cada ano de acordo com o nível de corrupção percebido no setor público.

A classificação é liderada, como nos anos anteriores, pelos países nórdicos como os menos corruptos, com a Dinamarca em primeiro lugar e a Nova Zelândia em segundo.

A Somália permanece na extremidade inferior, atrás do Iêmen, Síria e Sudão do Sul.

A ONG destaca a situação em Malta, marcada pelo assassinato em 2017 da jornalista Daphne Caruana Galizia, e indica que a ilha está "atolada em corrupção".

"Vários escândalos vinculados aos 'Panama Papers' também contribuem para o declínio de Malta na classificação", explica a TI.

O ONG enfatiza, porém, que em Angola, que saiu de quatro décadas de ditadura, a luta contra a corrupção apresenta efeitos.

A TI comemorou particularmente a demissão de Isabel dos Santos da companhia nacional de petróleo Sonangol.

Dos Santos, que foi proclamada a mulher mais rica da África pela revista americana Forbes em 2013, foi acusada segunda-feira pelo Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ) de desviar centenas de milhões de dólares em dinheiro público para contas pessoais.

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