Lula e Marcelo Rebelo, presidente de Portugal: Ucrânia foi assunto presente na viagem (Horacio Villalobos#Corbis/Corbis/Getty Images)
Redação Exame
Publicado em 23 de abril de 2023 às 10h10.
Última atualização em 23 de abril de 2023 às 10h46.
Em meio a polêmicas sobre falas recentes acerca da guerra na Ucrânia, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva usou sua viagem à Europa para dizer neste fim de semana que "nunca" igualou Rússia e Ucrânia acerca da responsabilidade no conflito, mas que "alguém precisa falar em paz" uma vez que a guerra já começou.
A declaração ocorreu em evento em Portugal, onde o presidente está em visita de Estado nos últimos dias.
Questionado diversas vezes durante a visita à Europa sobre o tema, Lula disse que nem Rússia, nem Ucrânia querem parar a guerra. Diferentemente de recentes declarações já feitas sobre o conflito, no entanto, o presidente adicionou que nunca equiparou as responsabilidades. “Eu nunca igualei os dois países porque eu sei o que é invasão, eu sei o que é integridade territorial”, disse no sábado, 22, em Lisboa.
Nas Nações Unidas (ONU), o Brasil condena a invasão russa e pede um cessar-fogo, o que Lula lembrou durante a fala. Apesar disso, o presidente tem sido criticado por algumas declarações vistas como improvisadas sobre o tema.
"Nós achamos que a Rússia errou e já condenamos em todas as decisões na ONU", disse. "Mas agora a guerra já começou e alguém precisa falar em paz.”
Quando esteve em Abu Dhabi, nos Emirado Árabes Unidos, Lula afirmou que "a decisão da guerra foi tomada por dois países”, uma das falas que gerou repercussão negativa.
Em Portugal, Lula voltou a dizer que o Brasil busca reestabelecer a paz. Nos últimos meses, o presidente chegou a propor a criação de um grupo de países para negociar o fim do conflito, similar ao G20 (que reúne algumas das maiores economias do mundo e foi criado após a crise de 2008, por pressão de países emergentes).
“No caso da guerra, a Rússia não quer parar e a Ucrânia não quer parar”, afirmou. “Pois bem, temos de encontrar países que, em relação de confiança, queiram sentar e conversar e parar a guerra”, disse.
O presidente brasileiro chegou a Portugal na sexta-feira, 21, e seguirá para a Espanha na terça-feira, 24.
Lula foi recebido pelo presidente Marcelo Rebelo em cerimônia no Mosteiro dos Jerónimos, onde fica o túmulo de Luís de Camões. Mais tarde, participou da XIII Cimeira Luso-Brasileira, no Centro Cultural de Belém, com o primeiro-ministro português, António Costa.
Sob pressão de políticos portugueses desde antes de sua chegada ao país europeu, o presidente brasileiro disse que a Rússia errou e afirmou que o Brasil condena a agressão de Putin em resoluções da ONU. Segundo ele, porém, “agora é preciso parar a guerra”.
“Estamos numa situação em que a guerra está fazendo mal para o mundo por problema de fertilizante, de comida. Em vez de escolher um lado, quero uma terceira via”, disse.
Nesta semana, foi anunciada uma viagem a Kiev do assessor especial para Assuntos Internacional, Celso Amorim, que já esteve com Putin em Moscou.
Na semana passada, o chanceler russo, Serguei Lavrov, e o porta-voz da diplomacia ucraniana, Oleg Nikolenko, fizeram convites ao presidente brasileiro para viajar a seus respectivos países. Lula afirmou que não irá à Ucrânia, assim como não foi à Rússia.
O presidente português Marcelo Rebelo, nas falas conjuntas, disse que a posição portuguesa difere da brasileira em relação à guerra. Portugal faz parte da Otan, aliança militar do Atlântico Norte e que tem participado diretamente no envio de armas à Ucrânia.
“Portugal é solidário ao povo ucraniano, à Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) e à União Europeia e pensa que não é situação justa não permitir à Ucrânia defender-se e tentar recuperar o território que foi invadido com violação da integridade territorial e da soberania de Estado”, afirmou o presidente português.
Em declaração conjunta, Brasil e Portugal condenaram o ataque russo e a anexação de partes da Ucrânia pela Rússia. O documento traz posição parecida às que o Brasil já tem defendido na ONU.
Nas demais falas conjuntas, porém, as lideranças também citaram pontos em comum, como na questão ambiental e combate à desinformação, e usaram tom positivo para falar sobre as parcerias entre os países. Ao todo, no encontro deste fim de semana, foram assinados 13 acordos de cooperação com Portugal em diferentes áreas, como saúde e educação, como a validação de diplomas universitários.
É a primeira viagem de Lula à Europa no terceiro mandato e a primeira de um presidente brasileiro desde Dilma Rousseff. Nas falas, Lula criticou indiretamente os antecessores Jair Bolsonaro e Michel Temer, que não foram a Portugal em seus anos de mandato.
(Com informações do Estadão Conteúdo)