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"Ele sabe as consequências de se entregar", diz advogado de Battisti

Advogados e amigos de Battisti não conseguem falar com ele desde quinta-feira, 13, quando o ministro Luiz Fux, do STF, determinou a sua prisão

Cesare Battisti: defesa vai apresentar um agravo para tentar reverter a decisão de Fux (Nacho Doce/Reuters)

Cesare Battisti: defesa vai apresentar um agravo para tentar reverter a decisão de Fux (Nacho Doce/Reuters)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 14 de dezembro de 2018 às 16h35.

Última atualização em 14 de dezembro de 2018 às 18h07.

São Paulo - Advogados e amigos do ex-ativista Cesare Battisti não conseguem falar com ele desde quinta-feira, 13, quando o ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou a prisão do italiano para fins de extradição. A Polícia Federal considera Battisti um foragido.

"Normalmente nestas situações a gente acorda com a prisão feita. Ele deve ter tomado alguma decisão. É uma decisão personalíssima que só cabe a ele mesmo tomar. Cesare sabe quais são as consequências de se entregar ou não se entregar. Aí é ele com a consciência dele", disse o advogado Igor Tamasauskas.

Segundo o advogado, a defesa vai apresentar um agravo ao plenário do STF para tentar reverter a decisão de Fux. O argumento deve ser a insegurança jurídica. "Não se pode submeter um sujeito aos humores do chefe do Executivo de plantão", afirmou o advogado.

Amigos também tentaram falar com Battisti por telefone, mas o italiano não atendeu às ligações. Até o início da manhã desta sexta, 14, eles achavam que o escritor poderia estar na casa de algum conhecido para escapar do assédio da imprensa, principalmente a italiana.

Semanas atrás, um jornalista teria pulado o muro da casa de Battisti em Cananeia, litoral sul de São Paulo. Eles não descartam a possibilidade de Battisti ter fugido.

As fugas têm sido uma constante na vida de Battisti desde que ele escapou da prisão de Frosinone, na Itália, em outubro de 1981. Ele foi condenado à prisão perpétua pelo assassinato de quatro pessoas quando integrava o grupo Proletários Armados pelo Comunismo (PAC), considerado terrorista, nos anos 1970.

De seu país natal, ele foi para a França, México e novamente França, onde passou quase 20 anos sob a proteção do regime François Mitterrand. Depois da chegada de Jacques Chirac ao poder, ele fez um périplo pela Espanha, Portugal, Ilha da Madeira, Ilhas Canárias e Cabo Verde, até chegar em Fortaleza.

No Brasil, recebeu apoio no governo Luiz Inácio Lula da Silva, que em seu último dia como presidente assinou um decreto proibindo a deportação do italiano. No ano passado, já durante o governo Michel Temer, foi preso na fronteira com a Bolívia e acusado de evasão de divisas. A trajetória foi relatada pelo próprio Battisti no livro "Minha fuga sem fim", lançado em 2009.

Segundo amigos, ele vive de traduções para editoras francesas e dos livros que escreve. O mais recente, "Marco Zero", é ambientado em Cananeia. Moradores da cidade dizem que ele não é visto há mais de uma semana nos bares onde costuma tomar cerveja e falar sobre futebol.

Antes da eleição, ele recebeu a visita da filha e do neto que moram na França. De acordo com relatos, ele tem tentado demonstrar tranquilidade, mas não consegue esconder a preocupação desde a eleição de Jair Bolsonaro (PSL). Pouco depois da eleição, ele esteve em São Paulo para discutir sua situação. Uma das primeiras medidas do presidente eleito foi prometer ao governo italiano a extradição do ex-ativista.

Durante a campanha eleitoral, o presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), afirmou que extraditaria imediatamente Battisti. Em entrevista em novembro, Bolsonaro disse que confirmou à diplomacia italiana que devolveria Battisti ao país, após manifestação do STF.

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