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Bolsonaro avalia proibir Huawei na rede 5G do Brasil

Embaixador da China no Brasil disse que a decisão brasileira sobre o bloqueio da Huawei definirá todo o relacionamento mais amplo entre os dois países

Huawei: governo brasileiro avalia manter alinhamento aos EUA e banir gigante chinês de telecomunicações (Tyrone Siu/File Photo/Reuters)

Huawei: governo brasileiro avalia manter alinhamento aos EUA e banir gigante chinês de telecomunicações (Tyrone Siu/File Photo/Reuters)

FS

Fabiane Stefano

Publicado em 15 de outubro de 2020 às 16h39.

Última atualização em 16 de outubro de 2020 às 11h28.

O presidente Jair Bolsonaro está considerando proibir a Huawei de fornecer componentes para a futura rede 5G no Brasil porque vê a China como ameaça global à privacidade dos dados e à soberania dos países, segundo um alto integrante do governo. O presidente tem pé atrás com o gigante asiático, disse a fonte, que não está autorizada a falar no assunto publicamente.

O martelo não foi batido e qualquer decisão sobre o tema levará em conta pontos de vista de outras instâncias no governo. Mas o comentário expõe a contínua desconfiança de Bolsonaro em relação ao maior parceiro comercial do país. Até agora as autoridades brasileiras têm evitado dizer se irão ceder à pressão dos Estados Unidos para manter a Huawei fora da rede móvel ultrarrápida a ser construída no Brasil.

O governo brasileiro minimiza chances de retaliação chinesa já que o país asiático depende das importações agrícolas brasileiras para alimentar sua população, disse a fonte. A percepção no Brasil é que outros países que vetaram a Huawei de suas respectivas redes de 5G não sofreram grandes consequências, disse a autoridade.

Em entrevista recente à Bloomberg, o embaixador da China no Brasil, Yang Wanming, disse que a decisão brasileira sobre o bloqueio da Huawei definirá todo o relacionamento mais amplo do país com a China. “O que está em jogo é se um país consegue criar para todas as empresas regras de mercado e ambiente de negócios nos parâmetros de abertura, imparcialidade e não discriminação”, disse ele.

Procurado, o Palácio do Planalto encaminhou o pedido de comentário ao Ministério das Comunicações. Em nota, o ministério disse que o leilão 5G trata de questões estratégicas de segurança nacional e de dados e que a licitação está em debate no governo e entre presidentes de países envolvidos.

Esse é um tema de Estado, de segurança de dados. A decisão sobre os fornecedores de equipamentos de telecomunicações perpassa diversos órgãos de governo para além do Ministério das Comunicações, como o Gabinete de Segurança Institucional (GSI), o Ministério da Defesa, o Ministério da Economia e o Ministério das Relações Exteriores. Por se tratar de segurança nacional, envolve também todos os presidentes dos países envolvidos com esse tema”, diz um trecho da nota.

Nota do Ministério das Comunicações

O leilão 5G, programado para o próximo ano, e a parceria com a China como um todo têm sido objeto de visões conflitantes dentro do governo. Enquanto o vice-presidente Hamilton Mourão e o ministro da Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes, defendem uma competição aberta e justa pela nova rede de celular, Bolsonaro tem demonstrado muito mais entusiasmo na relação com os Estados Unidos de Donald Trump do que com a China.

O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, responsabilizou implicitamente o país asiático pela pandemia de covid-19, ao sugerir em reunião ministerial em abril e escrever em seu blog pessoal que o coronavírus reviveu “o pesadelo comunista”. O deputado federal Eduardo Bolsonaro, filho do presidente, também acusou a “ditadura chinesa” de ser responsável pela pandemia, dizendo que “a culpa é da China”.

O Brasil planeja escolher uma empresa de telefonia que por sua vez poderá usar tecnologia chinesa ou europeia para construir sua rede 5G por volta de maio de 2021, disse o ministro das Comunicações, Fábio Faria, em entrevista recente, depois que a pandemia atrasou o processo de licitação inicialmente programado para este ano. Faria disse que o atraso acabou sendo positivo, pois está permitindo ao governo observar as negociações e vetos em outros países antes de tomar uma decisão.

A China foi destino de 40% das exportações brasileiras no primeiro semestre, segundo dados do Ministério da Agricultura. As vendas para o país asiático, principalmente de soja, geraram mais receita do que para os Estados Unidos, América Latina, Europa, África e Oriente Médio juntos.

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