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Bolsonaro anuncia comitê de saúde, mas volta a citar tratamento precoce

O presidente disse que será criado um comitê de coordenação junto a outros poderes, que se reunirá semanalmente. Após reunião nesta manhã, líderes citaram "convergência"

Preside da Câmara dos Deputados, Arthur lira, presidente Bolsonaro e o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco. (Sergio Lima/Foto de Arquivo/Getty Images)

Preside da Câmara dos Deputados, Arthur lira, presidente Bolsonaro e o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco. (Sergio Lima/Foto de Arquivo/Getty Images)

CR

Carolina Riveira

Publicado em 24 de março de 2021 às 11h29.

Última atualização em 25 de março de 2021 às 11h46.

Após reunião com governadores aliados e autoridades de Legislativo e Judiciário, o presidente Jair Bolsonaro falou novamente na manhã desta quarta-feira, 24. A reunião foi marcado para discutir a resposta brasileira à pandemia após recordes seguidos de vítimas e colapso do sistema de saúde.

Depois do encontro, o presidente fez uma breve declaração ao lado de nomes como o presidente da Câmara, Arthur Lira, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, e o presidente do STF, Luiz Fux, e o novo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga.

No discurso, Bolsonaro disse que a reunião demonstra união de todos os poderes, com a "intenção de minimizar os efeitos da pandemia" e colocar "a vida em primeiro lugar".

Pela primeira vez em um discurso do governo, as falas após a reunião buscaram trazer a responsabilidade do combate à pandemia para mais perto do âmbito federal, com a promessa de maior interlocução com os governadores e mais medidas nacionais contra o coronavírus.

Em um breve momento, Bolsonaro voltou a flertar com o tratamento precoce, embora tenha dito, na sequência, que ainda não há remédio.

"Tratamos também da possibilidade de tratamento precoce, isso fica a cargo do ministro da Saúde, que respeita o direito e dever do médico de tratar os infectados", disse. "É uma doença, como todos sabem, ainda desconhecida, uma nova cepa ou um novo vírus apareceu, e nós cada vez mais nos preocupamos em dar o tratamento adequado a essas pessoas."

"Não temos ainda o remédio, mas nossa união e o nosso esforço entre os três poderes da República ao nos direcionarmos para aquilo que realmente interessa, sem que haja qualquer conflito e politização da solução do problema, creio que seja o caminho", disse o presidente na sequência.

Primeiro a falar depois de Bolsonaro, o novo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, disse que a reunião foi de "alto nível". Queiroga tomou posse ontem, em cerimônia a portas fechadas, substituindo o general Eduardo Pazuello.

O ministro falou do "fortalecimento do sistema público de saúde articulado nos três níveis" e da criação de protocolos nacionais de atendimento. Não citou, durante a breve fala, o tratamento precoce. "O sistema de saúde do Brasil dará as respostas que a população brasileira quer", disse, e reforçou a União dos três poderes para o combate ao vírus.

Com o agravamento da crise sanitária, Bolsonaro tem sido orientado por integrantes do Congresso e por membros do governo a deixar a defesa de medicamentos fora de seus discursos e focar apenas na imunização em massa. A troca do comando do Ministério da Saúde também foi construída neste contexto em que o governo tenta diminuir o desgaste causado pela condução do enfrentamento à pandemia.

Na quarta-feira, o Brasil bateu o triste recorde de 3.158 mortes em 24 horas, totalizando 298.843 vidas perdidas.

Comitê de saúde

Bolsonaro anunciou também que será criado um comitê de coordenação da crise, liderado por Pacheco, presidente do Senado, e que se reunirá semanalmente, ouvindo especialistas, o Ministério da Saúde e governadores.

O formato, pelas palavras do presidente, pode caminhar para ser parecido aos comitês de saúde já criados em diversos estados e municípios para controle da pandemia. Até o momento, o governo federal não havia sugerido que tomaria medidas centralizadas para a contenção do vírus.

Pacheco disse que a reunião foi "exemplo de civilidade" e que haverá a partir de agora "liderança técnica contundente e urgente do Ministério da Saúde". Sobre o comitê, Pacheco disse que terá como foco um "ambiente de identificação das convergências que existem" e que ouvirá a demanda dos governadores para trazer ao debate.

Lira, presidente da Câmara, falou em "despolitizar a pandemia" e "falarmos uma linguagem só, com acompanhamento diário".

"Tratarmos o problema como um problema de todos nós, um problema nacional, que nos compete enquanto representantes da população". "Para que possamos ter rumos coordenados, obviamente, com a supervisão do presidente da República [...]. E termos um único discurso, uma única orientação nacional, conduzida pelo Ministério da Saúde".

A fala acontece um dia após o pronunciamento em rede nacional feito na noite de terça-feira, 23, em que Bolsonaro disse que 2021 será "o ano da vacinação" e que as doses para vacinação em massa estão "garantidas". Na fala de ontem, Bolsonaro exaltou os acordos do governo com Pfizer e Johnson & Johnson's e mesmo com o Instituto Butantan, que fabrica a Coronavac, à qual o presidente criticou no passado.

Medidas de contenção pouco claras

Como no discurso de ontem, Bolsonaro e as autoridades presentes focaram a fala na vacinação, mas não falaram sobre isolamento social ou medidas de contenção, como uso de máscara, a serem tomadas antes que haja vacina para todos. O único a citar medidas de isolamento foi o governador de Goiás, Ronaldo Caiado.

"Pedir a todos que entendam que em situações delicadas, situações críticas como estamos vivendo, muitas vezes se faz também necessário o isolamento social", disse Caiado. "Foi construído na reunião de hoje um ponto de concórdia, a convergência de todos para salvar vidas."

O governador de Goiás disse que também ficou decidido que o Brasil buscará parceria com países desenvolvidos que tenham excedente de vacinas e parcerias com mais laboratórios para produção.

Não ficou claro, pelas palavras dos presentes, se o governo federal passará a apoiar o isolamento social e outras medidas de contenção antes da vacinação em meio à escalada de mortes. O Brasil responde hoje por um terço das mortes diárias no mundo, enquanto a vacinação chegou a somente 6% da população.

A fala de hoje acontece dias depois de o governo entrar com ação no STF contra os lockdowns de estados como Bahia e Rio Grande do Sul, acusando-os de inconstitucionais. A ação foi negada ontem pelo ministro Marco Aurélio Mello.

O senador major Olimpio, que faleceu na semana passada por causa da covid-19, também foi lembrado hoje pelo ministro Luiz Fux, que prestou condolências.

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