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"Eu fui demitido pelo Carlos Bolsonaro", diz Bebianno

O ex-ministro negou que seja um homem-bomba do governo e criticou o filho do presidente: "Carlos tem um nível de agressividade acima do normal"

O ex-ministro Gustavo Bebianno (Amanda Perobelli/Reuters)

O ex-ministro Gustavo Bebianno (Amanda Perobelli/Reuters)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 19 de fevereiro de 2019 às 20h08.

Última atualização em 19 de fevereiro de 2019 às 21h53.

São Paulo - Gustavo Bebianno disse nesta terça-feira que o responsável por sua demissão do cargo de ministro da Secretaria-Geral da Presidência foi Carlos Bolsonaro, um dos filhos do presidente Jair Bolsonaro.

"Acredito que o Carlos tenha inflamado a cabeça do presidente", disse Bebianno em entrevista à rádio Jovem Pan, referindo-se ao período em que Bolsonaro esteve hospitalizado devido à cirurgia para a remoção de uma bolsa de colostomia.

"Eu fui demitido pelo Carlos Bolsonaro", afirmou o agora ex-ministro.

Bebianno disse reconhecer que Carlos, vereador pelo PSC no Rio de Janeiro, tem "uma admiração bonita pelo pai". Por outro lado, criticou o filho do presidente, afirmando que "Carlos tem um nível de agressividade acima do normal".

O ex-ministro negou, no entanto, que seja um homem-bomba, alguém que poderia causar estragos ao presidente.

"Tem muita gente dizendo que eu sou homem-bomba. Tenho caráter, não vou atacar o presidente."

Mas o vice-presidente Hamilton Mourão disse que houve quebra de confiança, atribuindo ao ex-ministro a divulgação de áudios postados em trocas de mensagem pelo WhatsApp e divulgados nesta terça-feira.

"Não resta dúvida que o ex-ministro Gustavo Bebianno ao divulgar uma conversa privada dele com o presidente, ele está faltando com a lealdade", disse Mourão a jornalistas.

"Se eu vou conversar particularmente com uma pessoa que é da minha confiança em tese, eu posso falar o que eu quero. Aí se a outra pessoa divulga isso, isso aí é muito ruim", disse.

O vice-presidente, no entanto, não quis comentar as declarações de Bebianno relacionadas ao filho do presidente.

"Não vou entrar em comentários a respeito do Carlos. Carlos é filho e filho é filho, né? Então tem que aguardar, esse episódio aí todo, agora que o Bebianno resolveu divulgar essa questão dos áudios mostra porque o presidente não queria mais ele no governo", disse Mourão.

Áudios

Os áudios divulgados pelo site da revista Veja na tarde desta terça mostram que Bebianno trocou mensagens via WhatsApp com Bolsonaro, contrariando as declarações do presidente e de Carlos, de que Bebianno tinha mentido ao dizer que se falaram.

Na troca de mensagens revelada pela revista, Bebianno disse considerar isso como se fosse uma conversa. Bolsonaro, por sua vez, rebateu e disse que esse envio de áudios por aplicativos não configuraria uma conversa, defendeu a atuação do filho e contestou atitudes tomadas por Bebianno no governo.

As mensagens revelam a evolução por dentro da crise entre o presidente e Bebianno, que teve como ponto de partida o fato de Carlos e o próprio Bolsonaro terem chamado o agora ex-ministro de mentiroso ao dizer que tinha conversado com o presidente três vezes em 12 de fevereiro, véspera do dia em que o chefe do Executivo teve alta hospitalar.

Segundo a Veja, o presidente questionou num dos áudios, o fato de constar na agenda de Bebianno do dia 12 uma reunião com o vice-presidente de Relações Institucionais do Grupo Globo, Paulo Tonet Camargo. Na gravação, Bolsonaro pede que ele não receba o executivo, pois a Globo é inimiga do governo e que esse contato o colocaria em situação delicada com outras emissoras.

Em outros dois áudios, Bolsonaro pede para cancelar a agenda que Bebianno e outros dois ministros fariam ao Pará para discutir projetos para a Amazônia com líderes locais, argumentando que seria cobrado por obras na região amazônica.

Outros áudios mostram que a relação entre ambos degringolou. O presidente chega a acusar Bebianno de plantar notícia em um site para envolvê-lo nas supostas irregularidades relacionadas a candidaturas do PSL. Bebianno foi presidente do PSL durante a campanha vitoriosa de Bolsonaro ao Palácio do Planalto.

Protagonista do episódio, Bebianno é alvo de denúncias de uso de candidaturas-laranjas em Estados para desvio de recursos eleitorais enquanto presidia o PSL, o que ele nega.

Em uma mensagem, Bolsonaro chega a dizer que "querer empurrar essa batata quente" para ele não iria dar certo. "Aí é desonestidade e falta de caráter", atacou, completando que a Polícia Federal "entrou no circuito" para apurar o caso.

Posteriormente, Bebianno se defende e diz que não vazou ou plantou nada do que foi publicado na imprensa contra o governo e o presidente. Diz que o presidente está "bem envenenado", deixando implicitamente que o envenenador seria Carlos.

Na segunda-feira, Bolsonaro demitiu Bebianno, sem dar detalhes da sua decisão, numa tentativa do governo de estancar a crise às vésperas do envio da principal proposta de ajuste das contas públicas do governo: a reforma da Previdência, que chegará ao Congresso na quarta-feira.

Luciano Bivar

O ex-ministro afirmou que, se houver algo errado em relação a candidaturas laranjas no Pernambuco, a responsabilidade é do diretório estadual. Mas destacou que não acredita que o presidente do PSL, Luciano Bivar, tenha cometido qualquer irregularidade.

"Não me pareceu desde o início que Bivar tenha atuado em benefício próprio", disse. Ele destacou que Bivar é "bem-sucedido" e que não tentaria uma manobra em uma candidatura "tão visível quanto foi a do atual presidente". "Eu confio no deputado e acredito que tenha agido de acordo com a lei", completou.

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