Profissionais da saúde também têm reclamações: dizem que falta pessoal, equipamentos e estrutura básica (Fabio Teixeira/NurPhoto/Getty Images)
Agência O Globo
Publicado em 2 de setembro de 2020 às 06h52.
Última atualização em 2 de setembro de 2020 às 09h02.
Em abril de 2018, o ajudante de caminhão Rubem Ribeiro da Silva, de 65 anos, foi diagnosticado com diverticulite, doença inflamatória no trato intestinal. Ele buscou atendimento na UPA do Engenho de Dentro, na Zona Norte do Rio, e foi encaminhado para o Hospital Municipal Salgado Filho, no Méier, bairro vizinho, para passar por uma cirurgia de emergência e colocar uma bolsa de colostomia. Após quatro meses, a recomendação era fazer um novo procedimento para tirá-la, mas Rubem até hoje não conseguiu.
Ele é apenas um dos muitos pacientes que sofrem com as irregularidades na rede municipal de Saúde do Rio. E são denúncias como essa que os chamados “Guardiões do Crivella” querem esconder. Como mostrou o “RJTV 2” de segunda-feira, o grupo tenta dificultar o trabalho da imprensa e calar os pacientes desde 2018 para acobertar queixas como a de Rubem.
— Eu não sei mais o que fazer. Já vim aqui (no Salgado Filho) para fazer a cirurgia várias vezes e sempre há uma desculpa ou um problema — lamenta o morador de Manguinhos, também na Zona Norte, que já se aposentou: — A minha vida acabou. Eu sou um homem inútil. Não posso pegar dez quilos de arroz. Eu vou morrer com isso aqui? Só queria que eles resolvessem minha situação.
Ainda em 2018, quando voltou à unidade para fazer a retirada da bolsa, Rubem foi informado que, de acordo com o sistema, ele já havia feito o procedimento. O paciente, então, foi embora e voltou meses depois, quando descobriu que seu nome nem constava mais no livro de registros de operações. Ontem, Rubem mais uma vez voltou ao Salgado Filho, mas foi informado que só em outubro poderá passar por uma avaliação para definir uma possível data para a retirada da bolsa.
Profissionais da saúde também têm reclamações: dizem que falta pessoal, equipamentos e estrutura básica para trabalhar no Salgado Filho. Sem se identificar, um funcionário contou que os servidores da Prefeitura do Rio que são pagos para atacar pacientes e seus parentes e jornalistas marcam ponto na porta da unidade desde 2018. Segundo o técnico de enfermagem, que trabalha no local há mais de 30 anos, a prática já era conhecida por todos os profissionais, inclusive da direção do hospital:
— Eles estão sempre aqui há dois anos. Na tentativa de acobertar as irregularidades, eles (a prefeitura) contrataram esses “seguranças”. São arbitrários e intimidam todo mundo. É uma prática em vários hospitais: zonas Oeste, Norte e Sul.
Na terça-feira pela manhã, dia seguinte à denúncia do “RJTV 2”, viaturas da Operação Segurança Presente ficou em frente ao Salgado Filho.