Brasil

Aliados se irritam com ausência de Lula nas campanhas e dizem que fatura será cobrada em 2026

Nos bastidores, políticos que compõem a base aliada presidente já avisaram aos petistas que a ausência do chefe do Executivo na última semana de campanha não será esquecido na reeleição

Lula, em Nova York: presidente tem preferido participar de eventos internacionais do que se dedicar a campanha de aliados nos municipios (Leandro Fonseca/Exame)

Lula, em Nova York: presidente tem preferido participar de eventos internacionais do que se dedicar a campanha de aliados nos municipios (Leandro Fonseca/Exame)

Antonio Temóteo
Antonio Temóteo

Repórter especial de Macroeconomia

Publicado em 30 de setembro de 2024 às 11h53.

Última atualização em 30 de setembro de 2024 às 14h12.

Tudo sobreEleições 2024
Saiba mais

A decisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de não participar ativamente das campanhas municipais em 2024 criou um mal-estar generalizado entre candidatos, presidentes de partidos aliados — e até entre os petistas.

A gota d’água, segundo apurou a EXAME, foi a decisão de cancelar a participação em eventos da campanha do deputado federal Guilherme Boulos em São Paulo, em São Bernardo do Campo e em Diadema, no sábado, 28, e no domingo, 29, para viajar ao México para participar da posse da presidente eleita Claudia Sheinbaum.

Caciques partidários e candidatos já avisaram aos petistas que essa fatura será cobrada de Lula nas eleições de 2026. Na prática, avaliam esses caciques, a decisão do presidente de não embarcar nas eleições municipais será paga na mesma moeda quando o presidente tentar a reeleição.

Os petistas, por outro lado, têm afirmado que Lula tem uma ampla base partidária (PT, PSD, PP, PDT, PCDB, PSB, Republicanos, União Brasil) e que não mergulhou nas campanhas para evitar eventuais atritos entre os candidatos.

Em São Paulo, a campanha de Boulos garante que o presidente marcará presença nas agendas da reta final, principalmente nos últimos dias antes do primeiro turno, que acontece no domingo, 7.

Cenário eleitoral adverso para Lula

Entretanto, o que se desenha é uma derrota para o petista nas eleições municipais. Enquanto o ex-presidente Jair Bolsonaro tem feito campanha em todo o país, Lula não participou ativamente do processo eleitoral.

O PT tem chances de vencer em apenas duas capitais, Teresina e Goiânia, e candidatos apoiados por Lula lideram em seis capitais — o prefeito e candidato no Rio de Janeiro, Eduardo Paes, é um deles, por exemplo.

Ao mesmo tempo, candidatos apoiados por Bolsonaro lideram em ao menos 10 capitais — em especial, candidatos do PL, partido do ex-presidente.

A EXAME já havia mostrado a tendência de reeleições recorde em capitais neste ano. Levantamento da consultoria Arko Advice mostrou que a chance é de que o índice de reeleição seja perto dos 70% entre os prefeitos de capitais, o maior da história. Leitura semelhante é feita pela consultoria Eurasia, que apontou que o atual ciclo eleitoral será bom para os atuais prefeitos, em especial bons índices de aprovação da maioria dos mandatários, que alcançam uma média de 60%. 

Depois de sair vencedor da disputa presidencial em 2022, por uma margem pequena, o terceiro mandato de Lula não decolou, na avaliação de próprios petistas ouvidos pela EXAME. O que se viu até agora foi um “novo velho governo”, com programas sociais antigos “requentados” e sem novas ideias ou projetos. O Bolsa Família não é mais novidade e já não repercute positivamente como nos primeiros mandatos de Lula.

Para piorar, o novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), importante pela capilaridade de obras que proporciona para impulsionar candidaturas à prefeitura, não decolou. No governo há um sentimento de decepção pelo inexpressivo impacto junto à opinião pública e também pela falta de entregas e resultados.

A cada novo evento, menor é a representatividade política. Poucos parlamentares, prefeitos e governadores marcam presença. Na Casa Civil, há uma “correria” para garantir eventos com público, inclusive reunindo servidores do quarto andar do Planalto.

Eleições 2024 EXAME

yt thumbnail
Acompanhe tudo sobre:Eleições 2024Luiz Inácio Lula da Silva

Mais de Brasil

PF: Plano para matar Moraes foi cancelado após recusa do exército em apoiar golpe

Gilmar Mendes autoriza retomada de escolas cívico-militares em São Paulo

Lula foi monitorado por dois meses pelos 'kids pretos', diz PF