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A primeira semana de Bolsonaro no poder no Brasil

Análise dos primeiros dias de governo do presidente determinado a romper com décadas de políticas de centro-esquerda

Jair Bolsonaro em cerimônia de posse  (Sergio Moraes/Reuters)

Jair Bolsonaro em cerimônia de posse (Sergio Moraes/Reuters)

A

AFP

Publicado em 6 de janeiro de 2019 às 13h56.

O novo presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, começou o seu mandato, adotando medidas sociais polêmicas alinhadas a sua prometida guinada ultraconservadora, mas menos ambicioso do que o esperado em termos de reformas econômicas.

Determinado a romper com décadas de políticas de centro-esquerda e a aderir à onda antiglobalização que se espalha por todo o planeta, o capitão da reserva de 63 anos assumiu o cargo na terça-feira (1), decretando a transferência para o Ministério da Agricultura a tarefa da demarcação de terras indígenas.

Uma forma, de acordo com seus críticos, de entregar os territórios ancestrais dos povos indígenas ao apetite voraz do agronegócio, cuja bancada parlamentar está por trás da nomeação de sua chefe, Tereza Cristina, como ministra da Agricultura.

Bolsonaro, que em seu discurso inaugural prometeu "restaurar a ordem" e "libertar o Brasil do socialismo", também lançou uma "limpeza" ideológica de simpatizantes de esquerda dentro da administração.

Além disso, ordenou que as ONGs passem a ser supervisionadas pelo governo e determinou a exclusão da população LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgêneros) das diretrizes destinadas à promoção dos direitos humanos do recém-criado Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos.

A polêmica foi inflamada pela ministra da pasta, Damares Alves, que apareceu em um vídeo festejando o início de uma "nova era" no Brasil, onde "menino veste azul, e menina, rosa".

Na política externa, Bolsonaro selou uma aliança estreita com os Estados Unidos para, entre outras coisas, combater as "ditaduras" da Venezuela e Cuba, e disse que estava aberto a discutir a instalação de uma base militar americana no país, mencionando preocupantes relações com a Venezuela e a Rússia.

Também confirmou sua intenção de transferir a embaixada brasileira em Israel de Tel Aviv para Jerusalém

- Confusão -

Seu ministro da Economia, o ultraliberal Paulo Guedes, afirmou que a prioridade do governo é reformar o sistema previdenciário, insustentável do Brasil.

Os mercados aplaudiram os primeiros passos: o Bolsa de São Paulo disparou a um nível recorde e o real se valorizou frente ao dólar.

Mas na quinta e sexta-feira, Bolsonaro semeou certa confusão em suas intervenções na imprensa.

Primeiro, falou de estabelecer uma idade mínima de aposentadoria bem abaixo do que a discutida por sua equipe econômica, minando a esperança de que vá abordar com firmeza a reforma da Previdência, que hoje consome um terço dos gastos públicos.

Depois expressou cautela ao responder se apoiará uma aliança multibilionária entre a fabricante brasileira de aeronaves Embraer e a gigante americana Boeing, fazendo com que as ações da empresa brasileira afundassem.

Bolsonaro também anunciou um aumento de impostos, contrariando uma promessa de campanha. Mas seu chefe de gabinete, Onyx Lorenzoni, disse que o presidente havia se "equivocado".

Outras questões, no entanto, não foram totalmente explicadas pelos assessores de Bolsonaro, deixando a impressão de que existe uma lacuna entre as ambições do presidente e a equipe econômica à qual ele confiou a tarefa de resgatar a economia brasileira.

- Respostas simplistas -

A impressão que fica da primeira semana de Bolsonaro é de que houve muitos gestos em direção a sua base de eleitores conservadores, formada por evangélicos e grupos favoráveis às armas e favorecendo a abertura da economia, mas com pouco conteúdo estratégico.

"Você tem a impressão que o governo foi tomado por pessoas que não têm ideia de quais são os problemas mais sérios do Brasil, que estão colocando foco em coisas que não tem importância na maior parte dos casos. Quando colocam foco em questões importantes, dão respostas muito simplistas", disse à AFP Maria Herminia Tavares de Almeida, cientista política da Universidade de São Paulo.

Em termos de perspectiva para a maior economia da América Latina sob o governo Bolsonaro, "por enquanto estamos na fase de lua de mel", explicou André César, da consultoria Hold.

"O mercado, às vezes, é bipolar, vai e volta. O mercado está ouvindo e está gostando do que está se falando, dos primeiros sinais, então isso reflete nos indicadores. Mas o mercado também pode se decepcionar, então essa euforia de hoje vira depressão amanhã", apontou.

Os analistas acreditam que o teste real para Bolsonaro começará em fevereiro, quando o novo Congresso começará a atuar.

Seu partido, o conservador Partido Social Liberal, tem apenas um décimo dos assentos na Câmara dos Deputados, de 513 membros.

"Ainda há poucas evidências de que Bolsonaro e sua equipe econômica podem promover uma reforma previdenciária satisfatória no fragmentado Congresso brasileiro", advertiu a consultoria Capital Economics na sexta-feira.

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