Brasil

1 ano após impeachment, como os grupos anti-Dilma avaliam Temer

Rogério Chequer, do Vem pra Rua, e Kim Kataguiri, do MBL, fazem um balanço do Brasil pós-impeachment e explicam por que movimentos estão mais digitais

 (Ricardo Moraes/Reuters/Reuters)

(Ricardo Moraes/Reuters/Reuters)

Talita Abrantes

Talita Abrantes

Publicado em 27 de agosto de 2017 às 09h04.

Última atualização em 27 de agosto de 2017 às 09h18.

São Paulo - Rogério Chequer, do Vem pra Rua, e Kim Kataguiri, do Movimento Brasil Livre (MBL), são dois dos principais nomes que levaram milhões às ruas no ano passado em apoio ao impeachment de Dilma Rousseff.

Um ano depois do fim do mandato da petista (a ser completado na próxima quinta-feira, 31), os grupos liderados por eles já não atraem tantas pessoas às manifestações como antes – só o Vem pra Rua organizou dois protestos desde o impeachment, mas nenhum repetiu o feito de agregar milhões. (Leia: Por que os protestos contra Temer continuam vazios? 3 hipóteses)

Neste domingo, o Vem pra Rua volta a liderar atos em cerca de 30 cidades. Dessa vez, contra a impunidade e pela renovação da política. Mas Chequer admite que o foco da atuação do grupo agora é o meio digital. O MBL tem estratégia semelhante. “Os políticos tradicionais sentem cada vez mais o peso da internet”, afirma Kim Kataguiri, em entrevista a EXAME.com.

No entanto, durante a votação da denúncia contra Michel Temer, no início de agosto, os movimentos adotaram discursos e estratégias diferentes. O Vem pra Rua foi o único a se posicionar pela saída do presidente, mas admite que a população não reagiu às convocações. “A sociedade se posicionou de uma forma diferente com relação ao Temer”, diz Chequer. Veja trechos das entrevistas que eles concederam a EXAME.com:


Rogério Chequer, do Vem pra Rua

Rogério Chequer, do Vem pra Rua (Arquivo pessoal/Divulgação)

EXAME.com: Um ano após o impeachment, o Brasil está melhor ou pior?

Rogério Chequer: Depende do critério. A gente está melhor na consciência da sociedade com relação ao seu papel para melhorar o Brasil. Agora, estamos igual ou pior nos gastos do governo federal, nos gastos do Judiciário. A sociedade está mais alerta, mais participativa, mas governo e os partidos ainda não responderam a isso. Os partidos regrediram de lá para cá e acham que, trocando de nome, vão significar algo novo para a população.

Como você avalia o governo Temer?

O governo Temer tem algumas iniciativas positivas, mas continua fazendo política do velho jeito e continua cercado das mesmas pessoas que nos trouxeram até aqui. De um lado, ele cria limites para gastos públicos, do outro, não cumpre os limites dados e pede mais 20 bilhões de reais de um rombo que já é de 139 bilhões de reais. E outra coisa: a gente passou os últimos três meses só para safar o Temer.

Você disse que a sociedade está mais atuante, mas não se viu nenhuma manifestação contundente dos grupos que foram às ruas contra Dilma durante a votação da denúncia contra Temer, na Câmara. O que deu errado?  

A sociedade está se manifestando de outros jeitos. A gente montou o mapa do fundo eleitoral, que mostra o posicionamento de cada parlamentar com relação ao fundo eleitoral, e a ferramenta está com mais acesso e participação do que o mapa do impeachment. É quase três vezes mais acesso. A condição do país que a gente tinha há três anos era propícia para movimentos de rua. Agora, mesmo que nós não tenhamos mais pessoas nas ruas, a sociedade vai continuar pressionando esses políticos de forma digital. Isso só vai aumentar até 2018.

Esse posicionamento digital faz diferença para esses políticos, que ainda são pautados pela velha política?

Quando a gente começou o mapa, há uns 10 dias, eram sete parlamentares posicionados contra o fundo. Agora, são mais de 100. O que a gente vai começar a fazer? Vai começar a expor esses deputados que estão escondidos atrás de uma indecisão.

Qual é a estratégia do Vem pra Rua daqui para frente?

A estratégia é muito mais digital hoje. [Para as eleições de 2018], a gente vai montar uma lista de políticos que não podem ser reeleitos. Ela vai chamar "Tchau, queridos” e vai divulgar para a sociedade qual foi a atuação do parlamentar. Da mesma forma que houve um salto da sociedade indo às ruas, eu acredito que agora vai haver um salto da sociedade na sua atuação direta com seus representantes.

O Vem pra Rua vai lançar candidatos para as eleições de 2018?

O Vem pra Rua não vai lançar candidatos, mas encorajamos os membros a se lançarem na política para implementar programas que possam fazer diferença para o Brasil. Mas as pessoas que, porventura queiram se engajar, saem do movimento antes de iniciar qualquer tipo de campanha. A gente tenta evitar que as pessoas usem o movimento para outros fins. Não vamos nos transformar em partido.

Dos prováveis pré-candidatos à presidência de 2018, qual teria o apoio do movimento?   

Muito provavelmente a gente vai apoiar um conjunto de ideias, e, diante disso, talvez apoiemos um grupo de candidatos que estejam comprometidos com essa agenda.

Vocês se frustraram com o governo Temer?

Deixamos muito claro que não estávamos defendendo a entrada do Temer pelo Temer e sim pela Constituição. Nós também falamos que iríamos monitorar o vice seja ele quem fosse da mesma forma que monitoramos Dilma. Nós fomos o único movimento dos mais significativos que defendeu abertamente o processo de afastamento e investigação do Temer. Criamos um mapa do Congresso para isso, atuamos para que ele fosse afastado.

Por que vocês não levaram ninguém às ruas contra Temer?

Nós chamamos, não no dia da votação, mas houve chamamento e a população não respondeu. Não é o Vem pra Rua que vai para a rua, é a sociedade. E a sociedade se posicionou de uma forma diferente com relação ao Temer.


Kim Kataguiri, do Movimento Brasil Livre

Kim Kataguiri, líder do Movimento Brasil Livre (MBL) (Facebook Kim Kataguiri)

EXAME.com - Um ano após o impeachment, o Brasil está melhor ou pior?      

Kim Kataguiri - Melhor. A Operação Lava Jato está atingindo políticos de todos os partidos, a inflação está sob controle e reformas importantes, como a do teto e a trabalhista, foram aprovadas. O país caminha para a recuperação econômica e tudo indica que um presidente economicamente liberal será eleito em 2018.

Como o MBL avalia o governo de Michel Temer?

Em relação ao governo Temer, é nítido que ele manteve o fisiologismo dos governos anteriores. Apesar do fim do Petrolão, a República continuou sendo negociada e vendida como um carnê das Casas Bahia. Além disso, as indicações políticas para a maioria dos ministérios fizeram com que pessoas sem conhecimento técnico ocupassem posições estratégicas para o país. Por outro lado, a equipe econômica, que promoveu reformas como a PEC do Teto e a reforma trabalhista, caminha bem. Falta coragem, porém, para propor uma reforma previdenciária estruturante, não o mero ajuste fiscal enviado ao Congresso.

Por que vocês não foram às ruas na votação da denúncia contra o Temer?

Em primeiro lugar porque, diferente do que aconteceria com Dilma, Temer será julgado pelos crimes pelos quais foi denunciado. A votação na Câmara apenas resulta numa suspensão. Perdendo o mandato de presidente da República, Temer será julgado como um cidadão comum. Além disso, não há alternativa. De que adianta tirar Temer para colocar Rodrigo Maia, que também é investigado e, para piorar, foi eleito presidente da Câmara com apoio do PT e do PCdoB.

Desde o fim do impeachment, os protestos não reuniram tantas pessoas. De que forma pretendem continuar atuando?

Pretendemos continuar atuando pressionando nas redes e transformando essa pressão em resultado político em Brasília. O MBL alcança, semanalmente, de 40 a 45 milhões de brasileiros com suas postagens. O Congresso entende o poder da pressão popular, tanto que pautas que encampamos recentemente, como a reforma trabalhista, o fim dos supersalários e o endurecimento da lei penal e processual penal avançaram.

A militância digital faz diferença para os políticos da velha política?

Faz muita diferença. Os políticos tradicionais sentem cada vez mais o peso da internet. Tanto isso é verdade que conseguimos fazer pautas como o endurecimento da lei penal e a cobrança de mensalidade de universidades públicas avançarem partindo praticamente do zero. Brasília percebeu que a internet não serve apenas para destruir, mas para construir candidaturas viáveis até à presidência da República.

No início do movimento, vocês se diziam um grupo apartidário, mas agora têm se aliado a partidos políticos e declaram apoio a Doria. O que mudou de lá para cá?

Nunca nos dissemos apartidários. A nossa definição sempre foi de "suprapartidários" e mantivemos essa atuação. Edmund Burke, um dos fundadores do pensamento conservador, tinha a seguinte definição de partido político: “Um grupo de homens unidos para a promoção, através de seu esforço conjunto, do interesse nacional, com base em algum princípio determinado com o qual todos concordam”. No sentido burkeano, o MBL é um partido político, diferente dos atuais "partidos", que não passam de legendas, de agremiações de interesses.

Qual o projeto do movimento para o futuro da política no país?

Eleger parlamentares que protejam o interesse público. Isso significa defender uma revisão no pacto federativo, diminuindo o poder e o orçamento da União e aumentando as prerrogativas e as verbas destinadas a estados e município. Além disso, defender a privatização de empresas estatais para que elas sejam administradas de maneira técnica e não estejam sujeitas a conchavos políticos, que, como vimos, resultam em Mensalões e Petrolões; promover uma reforma política que descentralize o poder, com um sistema eleitoral distrital misto e um sistema de governo parlamentarista. Enfim, trazer o sentido virtuoso da palavra "política" à tona.

Terão candidatos nas eleições de 2018? 

Teremos candidatos para as assembleias legislativas, para a Câmara dos Deputados e para o Senado.

Dos prováveis pré-candidatos à presidência de 2018, qual teria o apoio do movimento?   

Apoiaremos a candidatura do prefeito João Dória à presidência da República, a qual acreditamos ser inevitável. Geraldo Alckmin, José Serra, Aécio Neves e todos os outros velhos caciques do PSDB não têm a menor chance de vencer e, ainda que conseguissem, não há dúvidas de que acabariam sendo mais do mesmo. O Brasil precisa de um presidente honesto, com tato político e capacidade administrativa, e João tem essas qualidades.

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