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(New Holland/Divulgação)
Repórter de agro e macroeconomia
Publicado em 2 de dezembro de 2024 às 15h09.
Última atualização em 2 de dezembro de 2024 às 15h56.
Apesar de um ano desafiador para muitas revendas de insumos, por causa dos pedidos de recuperação judicial de gigantes do setor, a Ponto Rural, revendedora de insumos e provedora de soluções agrícolas, anunciou nesta segunda-feira, 2, o lançamento de um Fundo de Investimento em Cadeias Agroindustriais (Fiagro) do tipo Fundo de Investimento em Direitos Creditórios (FIDC).
O FIDC é um investimento coletivo baseado na securitização de recebíveis de empresas — ou seja, direitos de crédito que uma empresa possui, como duplicatas, cheques e contratos de financiamento.
Estruturado pelo Banco Fator, o fundo mira captar R$ 500 milhões nesta primeira rodada e conta com a participação de grandes fornecedores da Ponto Rural, como Corteva, Ourofino Agrociência, Lagoa Bonita Sementes e Cibra Fertilizantes — numa primeira tranche (parcela), a Ponto Rural captou mais de R$90 milhões.
Segundo Gustavo Watari, diretor financeiro da Ponto Rural, a demanda pelo FIDC surgiu da necessidade de facilitar o mercado de crédito rural e oferecer linhas de financiamento mais acessíveis e adequadas aos fornecedores, que enfrentam dificuldades em um mercado com crédito escasso.
Na proposta do FIDC da Ponto Rural, os fornecedores atuam como investidores no fundo, contribuindo para a operação financeira da empresa e, ao mesmo tempo, oferecendo melhores condições de financiamento para os agricultores.
Geralmente, o produtor rural, sem capital disponível, adquire insumos como sementes e fertilizantes por meio de acordos com as revendas, oferecendo parte de sua produção futura como pagamento. Com o FDIC, a Ponto Rural quer resolver dois problemas: oferecer crédito para as revendas e, consequentemente, para o agricultor.
“O objetivo é aumentar a competitividade, proporcionando subsídios por meio de uma operação com custo competitivo, viabilizada pelo acesso ao mercado de capitais”, afirmou Watari à EXAME.
Na visão de Marcos Bertomeu, gestor de fundos do Agronegócio do Fator, aproximadamente metade do fundo será captada com os fornecedores, em cotas mezanino — um tipo de cota que representa um equilíbrio entre risco e retorno.
Os recursos têm um custo muito baixo, com rendimento próximo ao CDI, atualmente em 10,97% em 12 meses, 8,99% no ano e cerca de 0,93% ao mês, o que torna o fundo atraente para os investidores.
A outra metade do fundo virá do acesso ao mercado de capitais, permitindo à Ponto Rural oferecer uma cobertura adicional que funciona como um "colchão de segurança" em relação aos investidores seniores.
“O impacto final é que conseguimos garantir taxas mais acessíveis para os agricultores, tornando o crédito rural mais eficiente e acessível”, afirma Bertomeu.
Apesar do aumento nos pedidos de recuperação judicial no agronegócio ao longo de 2024, a Ponto Rural e seus fornecedores mantêm uma visão otimista para a safra 2024/25, que, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), deve bater novos recordes.
"Assim como o fertilizante, o financiamento é um insumo essencial para a atividade agrícola. Por isso, a parceria entre cliente, fornecedor e investidor é um caminho ótimo para fortalecer toda a cadeia do agronegócio", diz Raphael Nezzi, CFO da Cibra.
Embora o cenário exija cautela, o diretor financeiro da Ponto Rural, Gustavo Watari, destaca que a sólida trajetória de 30 anos da empresa, com presença no Paraná e em São Paulo, fortalece a credibilidade da Ponto Rural no mercado.
"A proximidade entre fornecedores e clientes, juntamente com uma governança bem estruturada, garante segurança aos investidores. Esses elementos, aliados à nossa organização, reforçam a força e estabilidade da Ponto Rural, mesmo diante da turbulência atual", afirma Watari.
Não é a primeira vez que o Banco Fator se lança no mercado de Fiagros. Segundo Marcos Bertomeu, gestor de fundos de agro da instituição, o banco tem se especializado na estruturação de soluções financeiras voltadas para o agronegócio. A expectativa é lançar novos Fiagros em 2025.
"A expertise da empresa em soluções financeiras diferenciadas para o mercado de capitais, aliada à nossa equipe especializada, foi essencial para o desenvolvimento dessa solução", diz Bertomeu.
A indústria de Fiagro registrou um crescimento anual de 124,3% até setembro, mesmo diante de turbulências que afetaram alguns fundos.
O patrimônio líquido da indústria atingiu R$ 42 bilhões. Já os Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA) avançaram 34%, com o patrimônio líquido chegando a R$ 147,4 bilhões nos últimos 12 meses, de acordo com dados da Comissão de Valores Mobiliários (CVM).