Opinião: Futuro inquietante, presente promissor
O papel da ciência e da inovação direcionadas ao agro diante da crise climática
Redação Exame
Publicado em 11 de junho de 2024 às 15h20.
Última atualização em 11 de junho de 2024 às 15h21.
Estamos assistindo a um crescimento tecnológico extraordinário no agronegócio brasileiro com benefícios inegáveis. As soluções reduzem custos, aumentam a produtividade e colocam o Brasil e sua agricultura tropical no centro da arena da competitividade mundial na produção de alimentos. Mas se o presente hoje parece promissor, o futuro desperta inquietações.
É ilusório acreditar que o avanço tecnológico por si irá garantir um futuro brilhante ao campo. Toda esta transformação só irá beneficiar efetivamente o agronegócio se a narrativa ecológica guiar as soluções inovadoras para a redução dos impactos ambientais. Ainda estamos longe desta realidade. Precisamos acelerar o passo da inovação para vencer a corrida do enfrentamento aos desafios contemporâneos, como as mudanças climáticas.
Não só o agro, mas o planeta como um todo, tem desafio duplo pela frente: ampliar a produção global de alimentos para atender a demanda de uma população em crescimento, ao mesmo tempo em que precisa implementar políticas de combate ao aquecimento global.
Pesquisas recentes focadas na questão climática dimensionam o custo de uma eventual inação. O estudo ‘O compromisso econômico das alterações climáticas’, publicado pela revista Nature, alerta que as mudanças climáticas devem causar um impacto em torno de US$ 38 bilhões, ou 20% do PIB global, até 2050, um custo seis vezes maior que o preço de limitar o aquecimento global a 2ºC.
Os pesquisadores chegaram a esta conclusão após descobertas empíricas em 1.600 regiões em todo o mundo, realizadas ao longo dos últimos 40 anos. A distribuição espacial dos danos se mostrou mais intensa em regiões de maior vulnerabilidade econômica. Danos decorrentes do aumento da temperatura média anual são negativos em quase todo o mundo, mas excepcionalmente maiores em latitudes mais baixas, em regiões nas quais as temperaturas já são mais altas.
O documento diz que os impactos do clima irão provocar uma perda média de renda em todo o mundo de 19% até 2049, independentemente das escolhas futuras de emissões, em comparação com uma linha de base sem os impactos do colapso climático. Nos Estados Unidos e na Europa a redução será de cerca de 11%, enquanto na África e no sul da Ásia será de 22%, com alguns países individuais muito acima disso. É bom anotar que o Brasil é um dos países mais fortemente impactados, com perda de 21%, segundo o estudo.
As reflexões trazidas neste estudo devem nos mover a uma outra forma de produzir e desenvolver o agronegócio. Não se trata, portanto, de notabilizar a contribuição das tecnologias para o avanço do agro. É preciso entender que a questão ambiental e em particular as questões climáticas, esta sim, é um dos maiores desafios da humanidade e o seu impacto é dramático para a agricultura. Toda a inovação tecnológica perde força quando não gera impactos positivos frente o aquecimento global e para o meio ambiente.
A solução para esse desafio passa necessariamente pela tríade “Ciência, Tecnologia e Inovação”. É a única rota possível para viabilizarmos o desenvolvimento de tecnologias e práticas agrícolas sustentáveis para enfrentar o aumento de eventos climáticos extremos, como secas, enchentes e tempestades e, ademais, para superar desafios imensos no campo.
O Brasil tem o conhecimento e os recursos naturais necessários para liderar a revolução sustentável no agro. São Paulo, com uma produção diversificada e um dos estados líderes de exportação, tem o potencial de ser um dos protagonistas no cenário nacional.
Essa posição está associada à tradição do Estado em pesquisa para o desenvolvimento da agricultura, com destaque para os Institutos de Ciência e Tecnologia (ICTs), da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (Apta) - com o mais antigo arcabouço de conhecimento técnico-científico da America Latina e um dos mais antigos do planeta –, assim como à atuação do AptaHub, uma rede de ambientes criada para acelerar a inovação baseada em pesquisa científica na agricultura tropical e agroalimentar e para o cumprimento da agenda climática. Ancorada na inovação aberta, estes espaços vêm fomentando parcerias entre empresas, pesquisadores e empreendedores para gerar soluções tecnológicas sustentáveis para a agricultura e a pecuária e com potencial para expandir a produtividade no campo.
Estudo conduzido este ano pelo Centro de Gestão e Estudos Estratégicos, entidade vinculada aos ministérios da Ciência e Tecnologia e Inovação (MCTI) e da Educação (MEC) , destaca a confiança do brasileiro em soluções científicas para reduzir graves problemas sociais. Acreditamos que a ciência pode nos ajudar a evitar futuros problemas ambientais advindos das mudanças climáticas e eventos extremos.
É com ciência e tecnologia adequadas para os diferentes sistemas de produção que o agro irá contribuir para mitigar os impactos ambientais que afetam a temperatura do planeta e para garantir a segurança alimentar global em um mundo em constante mudança. A pesquisa e o desenvolvimento, atrelados à gênese de bons negócios, garantirão o crescimento consciente da agricultura brasileira, fazendo com que ela se imponha cada vez mais no cenário global. O caminho para um novo ciclo do mercado de alimentos está sendo pavimentado. Ciência, Tecnologia e Inovação continuam sendo uma fórmula vencedora.
Sergio Tutui , líder de Inovação da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios
Ana Eugênia de Carvalho Campos , diretora-geral do Instituto Biológico