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Repórter de agro e macroeconomia
Publicado em 9 de julho de 2024 às 06h30.
Última atualização em 9 de julho de 2024 às 07h09.
Quatro mil propriedades atendidas e mais de 11 milhões de animais que passaram pela base de dados. Esse é o resultado dos nove anos de trabalho da JetBov, agtech catarinense que desenvolve ferramentas para produtores de gado de corte. Depois de levantar mais de R$ 8 milhões no ano passado com SP Ventures e ACE Ventures para o desenvolvimento de sua plataforma de gestão de pecuária de corte, a startup acaba de lançar no mercado uma ferramenta de inteligência artificial para complementar seu portfólio de serviços.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o abate de bovinos cresceu 13,7% em 2023 em comparação com 2022, alcançando 34,06 milhões de cabeças. Esse número representa o segundo maior resultado já registrado na série histórica da pesquisa, ficando atrás apenas do recorde registrado em 2013. Além disso, a produção de 8,95 milhões de toneladas de carcaças também atingiu um novo recorde.
Chamada de Jay, a inteligência artificial desenvolvida pela JetBov quer possibilitar que o pecuarista tenha mais agilidade e praticidade no acesso a dados do rebanho, como peso, tamanho da área, saúde do animal e situação do solo na pastagem, por exemplo. A ideia, ainda em tese, é aumentar a capacidade analítica e melhorar a tomada de decisão — mais rapidamente.
O desenvolvimento da tecnologia foi feito com parte dos recursos de R$ 1,74 milhão captados com 'vaquinha virtual', realizada no final de 2023, com objetivo de acelerar novas estratégias comerciais e fortalecer a presença da startup no setor.
"Trata-se de um aplicativo pensado exclusivamente para os gestores e tomadores de decisão das fazendas e que pode ser usado de qualquer lugar, sem a necessidade de acessar o computador, se assemelhando a um chat – o que foi pensado para facilitar a conexão com os profissionais do campo. A gestão pecuária é complexa e mais desafiadora do que a agricultura devido à quantidade de variáveis envolvidas, além do ciclo mais longo dos animais, que é influenciado por mudanças de mercado ao longo de anos", diz Xisto Alves, cofundador e CEO da JetBov.
De acordo com o Agtech Report 2023, o uso de inteligência artificial no agronegócio deverá crescer 300% até 2024 no campo. Quando se menciona inteligência artificial, é comum fazer comparações com o ChatGPT, um modelo desenvolvido pela OpenAI que interage por meio de chat e responde a diversas questões. No entanto, a JetBov destaca que sua IA não se limita a fornecer respostas aos produtores.
"Em nosso produto, utilizamos não apenas a inteligência artificial generativa, como o chatGPT, mas também implementamos outras tecnologias próprias de inteligência artificial, como machine learning e ferramentas de predição de dados. Essas tecnologias são desenvolvidas internamente e integradas ao produto para trabalhar em conjunto com a tecnologia generativa mencionada", defende Alves.
Nesse primeiro momento, a Jay foi lançada com três funcionalidades principais para os produtores. A primeira permite ao produtor solicitar relatórios configurados na plataforma na nuvem sobre seu rebanho, e criar visualizações personalizadas, como gráficos de desempenho por raça de animais. A inteligência artificial interpreta essas necessidades e apresenta os relatórios diretamente no chat.
A segunda é responder dúvidas sobre produção animal, pecuária de corte e sobre a própria JetBov, funcionando como um suporte técnico. Ela utiliza o conteúdo da empresa para fornecer respostas embasadas. A terceira e última função permite aos produtores solicitar a criação de tarefas para os funcionários de campo, como realizar rondas em determinados lotes para inspeção. A Jay se integra com o aplicativo de coleta de dados da JetBov, facilitando a comunicação e execução de ações no campo.
Para que o pecuarista tenha benefícios com a Jay, ele precisa ter toda a plataforma funcionando, o que inclui dados instalados e uma operação em pleno funcionamento. "Já estamos em contato com os primeiros clientes, e o feedback principal é que a Jay facilitará significativamente o acesso às informações de forma unânime", diz Alves.
Questionado sobre o retorno financeiro que o produtor pode obter ao utilizar a Jay, o CEO afirma que ainda não desenvolveu estudos sobre o assunto, já que a IA é algo ainda muito novo na agetch. No entanto, a empresa aposta na velocidade que sua inteligência artificial oferece ao pecuarista como estratégia para conseguir novos usuários.
"Isso se refere à capacidade de agir mais rapidamente em resposta aos eventos ou informações recebidas. Acreditamos que isso pode impactar diretamente na produtividade, evitando atrasos significativos na identificação e resolução de problemas, como o desempenho insatisfatório de um lote devido a questões na dieta ou manejo", diz Alves.
Segundo JetBov, o serviço oferecido é direcionado exclusivamente para fazendas de bovinos de corte, oferecendo um software de gestão no modelo SaaS (Software as a Service). Nesse modelo, o software é contratado como um serviço por meio de assinatura, permitindo que o pecuarista utilize a plataforma por um período determinado, renovando conforme necessário.
"Conseguimos resolver um grande problema relacionado à digitalização de registros, especialmente em relação aos animais, vacinas, rastreabilidade, utilizando o smartphone para todas essas funcionalidades. Além disso, nosso aplicativo funciona offline, o que é crucial devido às limitações de internet no campo. Ele também integra-se com praticamente todos os equipamentos disponíveis no mercado para automatizar a coleta de dados, como os brincos eletrônicos que fazem identificação via rádio", afirma o CEO.
Além do “JetBov do Gestor”, a empresa também conta com o aplicativo “JetBov de Campo", que permite que o produtor tenha em mãos informações, como inserção de um novo animal, pesagem com troca de lote e o “JetBov de Pasto”, app que possibilita ao pecuarista visualizar o mapa da fazenda e a divisão das áreas em piquetes.
Sem citar os números, Alves afirma que neste ano o faturamento deve registrar uma alta de 40%. "Nos planos para o futuro, o foco principal é tornar nossa plataforma cada vez mais preditiva na gestão da pecuária de corte. Isso significa aplicar tecnologia para tornar as ações mais proativas e menos reativas, priorizando medidas preventivas em vez de correções após o problema ocorrer", diz o CEO.