Smartphones no Brasil: estima-se que cerca de um quinto dos smartphones vendidos na região sejam provenientes deste comércio paralelo (Freepik)
Vice-Presidente da Samsung América Latina
Publicado em 26 de março de 2024 às 11h53.
Última atualização em 26 de março de 2024 às 16h42.
*Por Mario Laffitte, Vice-Presidente da Samsung América Latina.
O panorama da venda de smartphones na América Latina enfrenta um desafio crescente e preocupante: o avanço do mercado ilegal. Esta prática, que consiste na entrada ilícita de dispositivos no país, vem ganhando terreno de forma alarmante, representando não apenas uma ameaça para as empresas e toda a cadeia produtiva do setor, mas também para os consumidores e para a economia como um todo.
Dados recentes divulgados pela Canalys – consultoria global de análise de mercados de tecnologia – revelam uma tendência alarmante na América Latina: o volume de celulares que entram ilegalmente na região tem aumentado consideravelmente. Segundo o estudo atualizado, Brasil, México e Colômbia são os três os países mais afetados pelo mercado ilegal de smartphones na América Latina. Estima-se que cerca de um quinto dos smartphones vendidos na região sejam provenientes deste comércio paralelo.
E em apenas um ano, houve um aumento significativo no ingresso de celulares de forma ilegal no Brasil, sendo que cerca de 90% dos smartphones contrabandeados no país são comercializados por meio de marketplaces, apresentando um valor médio de venda aproximadamente 38% inferior ao praticado no mercado oficial, de acordo com dados da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee).
A IDC, uma empresa renomada em inteligência de mercado, consultoria e eventos na indústria de Tecnologia da Informação e Comunicação, ainda pontua que a proporção de dispositivos ilegais em relação ao mercado total de telefones celulares no país saltou de 10% em 2022 para 25% no último trimestre de 2023. Esse crescimento culminou em um total de 6,2 milhões de unidades vendidas no país ao longo do ano.
Com isso, ao longo de 2023, o Fórum Nacional Contra a Pirataria e Ilegalidade (FNCP) estima que o país pode ter deixado de arrecadar entre R$3,2 bi e R$3,9 bi em impostos*. Para 2024, as projeções da Abinee indicam que o governo federal poderá deixar de arrecadar cerca de R$ 4 bilhões devido à evasão fiscal decorrente desse cenário que, além de comprometer a integridade do setor, traz consigo uma série de malefícios para os consumidores.
Apesar de atratividade devido a preços mais baixos, a falta de homologação da Anatel, ausência de pagamento de tributos, taxas, e a inexistência de assistência técnica e garantia são apenas alguns dos problemas associados aos dispositivos provenientes do mercado ilegal. Quem adquire produtos ilegítimos fica desamparado em caso de problemas técnicos, além de contribuir - muitas vezes, sem nem saber - para a evasão fiscal e o enfraquecimento da indústria local, que gera empregos e desenvolvimento para o país.
A indústria de eletroeletrônicos é um importante gerador de empregos no Brasil, contribuindo significativamente para a economia e o desenvolvimento do país. A falta de regulamentação deste mercado prejudica diretamente o setor, reduzindo os investimentos e oportunidades de emprego para os brasileiros. Vale destacar, ainda, que a entrada de produtos no país sem o pagamento dos devidos tributos fiscais é uma atividade ilícita, que alimenta a corrupção e contribui para o aumento da violência em nossas fronteiras.
Desta forma, enquanto enfrentamos os desafios do mercado ilegal, empresas que possuem atuação no Brasil como a Samsung têm investido ativamente na capacitação de profissionais locais em diversas regiões do Brasil. Através de programas de treinamento e parcerias com instituições educacionais, nós, da Samsung, temos contribuído para o desenvolvimento de habilidades técnicas e conhecimentos necessários para a área de tecnologia. Essas iniciativas não apenas beneficiam os profissionais envolvidos, mas também fortalecem a indústria local e promovem o crescimento sustentável da economia.
Além disso, a Samsung conta com um extenso suporte pós-venda no Brasil e na América Latina, incluindo 1.600 Centros de Serviços, que oferecem assistência técnica especializada aos clientes. Produtos ilícitos, por sua vez, não contam com esse suporte, deixando os consumidores desamparados em caso de necessidade.
Assim, entendemos o quão fundamental é reconhecer a gravidade desse cenário e agir de forma proativa para combatê-lo. A recente proposta da Anatel de formar uma aliança com a Receita Federal para combater o contrabando de celulares é um primeiro passo na direção certa. No entanto, é necessário um esforço conjunto de todas as partes interessadas para enfrentar esse desafio de maneira eficaz.
E nesse contexto, junto com a Abinee e demais órgãos e associações responsáveis na América Latina, empresas como a Samsung têm um papel crucial a desempenhar. Além de buscar continuamente inovações tecnológicas e oferecer produtos de qualidade aos consumidores, é também nossa responsabilidade contribuir para a promoção da comercialização justa e regulamentada. Estamos comprometidos em colaborar com as autoridades e com outras empresas do setor para combater o mercado ilegal e proteger os interesses dos consumidores.
É importante ressaltar que o combate a essa prática não é apenas uma questão mercadológica, mas também uma questão de cidadania. Todos nós, enquanto consumidores e membros da sociedade, temos o dever de nos informar e tomar decisões conscientes que promovam a legalidade e a transparência nos negócios.
Em suma, é imperativo que nos unamos para enfrentar o desafio do mercado ilegal de smartphones na América Latina. Somente através de uma abordagem colaborativa e proativa poderemos garantir um ambiente de mercado justo e seguro para todos.
*Dados extrapolados das estatísticas do Fórum Nacional Contra a Pirataria e Ilegalidade (FNCP) que apontam para perdas arrecadatórias de 2,3bi em 2022.