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O homem mais rico da China tenta criar uma Hollywood no país

Wang Jianlin, o homem mais rico da China, fez fortuna construindo prédios de mais de 60 andares. Agora investe num projeto de 8 bilhões de dólares para criar Chollywood, a meca do cinema chinês


	Wang Jianin: o homem mais rico da China tem fortes ligações com os membros do Partido Comunista Chinês
 (Reprodução/Youtube)

Wang Jianin: o homem mais rico da China tem fortes ligações com os membros do Partido Comunista Chinês (Reprodução/Youtube)

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Da Redação

Publicado em 16 de dezembro de 2013 às 05h00.

São Paulo - Foram necessários mais de 20 anos para que a abertura econômica da China, iniciada por Deng Xiaoping no fim dos anos 70, produzisse o primeiro bilionário do país. O feito foi alcançado em 2003 por William Ding, fundador da empresa de jogos eletrônicos NetEase.

Desde então, outros 167 chineses já se juntaram ao clube do bilhão, tornando a China o segundo país em número de super-ricos, atrás apenas dos Estados Unidos. No topo da lista chinesa está Wang Jianlin, que em outubro passou a ser o homem mais rico da China, com fortuna estimada em 14,1 bilhões de dólares.

O presidente do grupo Dalian Wanda, uma das empresas de construção mais importantes do país, é dono das maiores redes de hotéis cinco estrelas e shopping centers da China. Primeiro cidadão chinês a ter um jato privado, acabou de comprar por 28 milhões de dólares o quadro Claude et Paloma, de Pablo Picasso.

Há cinco anos, Wang nem constava entre os 30 mais ricos da China. Hoje, além de conhecido, ele tem um dos projetos mais ambiciosos do país.

Em setembro, diante de celebridades internacionais, como John Travolta, Nicole Kidman e Leonardo DiCaprio, o bilionário anunciou a construção do maior estúdio de cinema do mundo. Será na cidade de Qingdao e terá capacidade para produzir 130 filmes por ano. O investimento no projeto, batizado informalmente de Chollywood, é de 8 bilhões de dólares, considerado o maior da história da indústria cinematográfica.

“Wang é o melhor exemplo de como a economia chinesa está em profunda e rápida transição”, diz Rupert Hoogewerf, presidente da Hurun Report, que publica uma lista dos super-ricos chineses. Como acontece com boa parte dos empreendimentos da iniciativa privada chinesa, o estúdio de Wang está em linha com as diretrizes do Partido Comunista — que vê no cinema uma forma de exportar seus valores e avançar no que os especialistas chamam de soft power, ou o poder de influenciar a opinião pública mundial.

A inspiração em Hollywood é descarada. A partir do pós-guerra, a indústria cinematográfica americana tem sido um importante instrumento de política externa. Influenciada pelos filmes, boa parte da população mundial sonha consumir marcas dos Estados Unidos, falar inglês e agir como os americanos.

Desde 2006, o governo chinês tem dado mais atenção ao soft power. Inspirado pelo Conselho Britânico e pela Aliança Francesa, criou o Instituto Confúcio, instituição presente em mais de uma centena de países que promove o ensino de mandarim e a cultura chinesa, geralmente ligado a universidades locais. Uma Chollywood aumentaria em muito o poder de fogo dessa estratégia.


A recém-conquistada fama de Wang tem aumentado a curiosidade sobre suas ligações com o governo. No começo de novembro, a agência americana de notícias Bloomberg teria deixado de publicar uma reportagem que trata do envolvimento de Wang com o enriquecimento de familiares da ­cúpula do Partido Comunista.

De acordo com o jornal The Financial Times, a Bloomberg teria optado pela autocensura, pois corria o risco de ser expulsa da China. Tal como o pai, Wang fez carreira no Exército chinês. Depois de 16 anos no serviço militar, em 1986, foi nomeado chefe do distrito de Xigang, na cidade de Dalian, e sempre negou ter sido favorecido pela proximidade com os políticos. Mas o fato é que, depois que assumiu o distrito de Xigang, Wang não parou mais de prosperar.

Em 1988, fundou uma construtora para trabalhar com obras públicas e edifícios comerciais e residenciais. Vinte anos depois, ingressou no ramo de shop­ping centers e hotelaria. Atualmente, suas empresas faturam 23 bilhões de dólares — número que Wang pretende elevar para 40 bilhões até 2017 com um empurrão de suas investidas no exterior.

A primeira grande tacada do empresário fora da China aconteceu no ano passado, quando comprou a rede americana de cinemas AMC por 2,6 bilhões de dólares. Com a aquisição, a Wanda Cinemas saltou de 730 para cerca de 6 000 salas de exibição, tornando-se uma das maiores redes de cinema do mundo.

Em junho, o empresário comprou o fabricante de iates britânico Sunseeker, conhecido por aparecer nos filmes de James Bond. O processo de diversificação do maior empreiteiro da China é sintomático. A guinada de Wang ocorre num momento em que o setor imobiliário começa a dar sinais de bolha.

Os números mais alarmantes vêm das cidades menores, algumas delas com imensos estoques de apartamentos vazios. “Alguns municípios longe das metrópoles estão construindo até dois grandes centros comerciais sem que haja uma demanda no curto prazo”, diz Daniel Yao, economista da consultoria Jones Lang LaSalle baseado em Xangai.

Ao abrir uma nova frente na área do entretenimento, Wang torna seu grupo mais forte para enfrentar qualquer crise que possa ocorrer no mercado de construção. Uma de suas maiores preo­cupações atuais é firmar parcerias com estúdios de Hollywood para já começar a produzir filmes destinados ao público chinês e ao internacional. Isso antes mesmo de Chollywood ficar pronta, o que deverá acontecer somente em 2017 devido ao tamanho do projeto.

Além dos estúdios, o plano é construir dois museus — um sobre filmes e outro de cera — e um gigantesco parque temático. Por ora, Wang decidiu montar uma operação em Hong Kong  e dar início às produções. Que não fique nenhuma dúvida: a ambição do bilionário chinês é coisa de cinema.

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