Revista Exame

A geração Y no mercado de tecnologia, segundo a SAP

O presidente mundial da multinacional alemã SAP explica como a chegada de uma nova leva de profissionais ao mercado de trabalho está transformando o setor de tecnologia

Bill McDermott,  presidente mundial da SAP, gigante alemã de tecnologia (Sean Gallup/Getty Images)

Bill McDermott, presidente mundial da SAP, gigante alemã de tecnologia (Sean Gallup/Getty Images)

share
DR

Da Redação

Publicado em 27 de março de 2014 às 20h05.

São Paulo - A década de 90 foi marcada por um grande salto na produtividade das empresas gerado pela evolução dos sistemas de tecnologia da informação. Além da popularização da internet, houve o avanço do mercado de soft­wares de gestão empresarial, que digitalizaram tarefas como organizar folhas de pagamentos e emitir notas fiscais.

Uma das protagonistas desse movimento foi a gigante de software alemã SAP. A companhia consolidou-se como líder do mercado de sistemas de gestão empresarial e, em 2012, ficou com 25% das vendas globais, estimadas em 24,5 bilhões de dólares.

A situa­ção seria confortável se esse segmento não estivesse estagnado. Num setor acostumado a taxas de crescimento de dois dígitos, os sistemas de gestão empresarial mal chegam a 3%.

Para virar esse jogo, a SAP elegeu três novas frentes prioritárias: mobilidade, tecnologias de computação em nuvem e sistemas de análise de grandes volumes de dados, o que se convencionou chamar de big data. Tudo para se adaptar às demandas da geração Y — aquela que nasceu dos anos 80 em diante.

No comando dessa transformação está o executivo americano Bill McDermott, que assumiu a presidência da companhia em 2010. Leia a seguir a entrevista que McDermott concedeu a ­EXAME em seu escritório na Filadélfia.

EXAME - Qual era o grande desafio da SAP quando o senhor assumiu a empresa?

Bill McDermott - Tínhamos noção da importância da SAP para o mercado de tecnologia, mas sabíamos que estávamos longe de ser uma marca de consumo, como a Apple ou o Google. Até então não havia problema em ser uma companhia que se relacionava apenas com outras empresas. Mas o mundo mudou.

A geração Y começou a chegar às empresas e trouxe uma familiaridade com a tecnologia que antes estava concentrada nas áreas­ de TI. O desafio foi começar a aproximar a SAP desse novo público. 


EXAME - O que difere os profissionais da geração Y dos profissionais das gerações anteriores?

Bill McDermott - São jovens que cresceram com um celular na mão e que se relacionam por meio de redes sociais. Acostumaram-se, nos tempos de escola, a fazer perguntas para o Google e a receber como resposta gráficos complexos e informações em tempo real.

Quando chegaram às empresas, eles começaram a exigir ferramentas similares às que utilizavam no computador de casa. As pessoas sabem exatamente como as tecnologias do Google ou da Apple podem ajudá-las em seu dia a dia na empresa. Quando falo em nos aproximarmos de uma marca de consumo, é nesse sentido.

EXAME - Quais são as tecnologias que estão liderando essa nova fase da SAP?

Bill McDermott - Os investimentos da companhia estão concentrados em mobilidade, em computação em nuvem e em soft­wares de análise de grandes volumes de informação. São três áreas que conversam entre si. Qualquer empresa de tecnologia hoje precisa ter seus soft­wares funcionando em dispositivos móveis, como smartphones e tablets.

Para isso, é necessário que esses produtos estejam acessíveis em qualquer lugar, o que só foi possível com a computação em nuvem. Por fim, entram as tecnologias de big ­data, que permitem que os profissionais consigam tomar decisões de negócio importantes e em tempo real.

EXAME - Quais são as evidências de que a mudança de estratégia da SAP está dando certo?

Bill McDermott - Os números recentes da empresa comprovam que estamos sendo bem-sucedidos. Hoje, 70% da receita da SAP vem de softwares que lançamos nos últimos três anos.

As tecnologias de computação em nuvem nos permitiram criar softwares mais simples, que podem ser instalados a distância, o que nos aproximou do segmento de pequenas e médias empresas. Antes, uma implementação da SAP levava meses. Hoje, dependendo do porte da empresa, é feita em poucos dias. 


EXAME - Qual é o cenário que o senhor imagina para o setor de TI na próxima década?

Bill McDermott - O volume de dados existente no mundo dobra a cada 18 meses, e mais de 90% das informações geradas ainda não são analisadas pelas empresas. ­Isso vai mudar.

O maior avanço virá na forma como a tecnologia vai melhorar o entendimento que as companhias têm de seus consumidores. O momento da virada ocorrerá quando as empresas puderem prever o comportamento de seus clientes antes mesmo de lançar seus produtos.

EXAME - Mas as empresas já não conseguem, em certa medida, prever o comportamento de seus consumidores com as ferramentas disponíveis atualmente? 

Bill McDermott - Sim. Mas isso é feito por meio da análise de dados estruturados, como histórico de vendas e pesquisas de mercado, que nem sempre conseguem prever comportamentos inesperados. O que veremos são tecnologias que decifram o que grandes massas de consumidores estão pensando nas redes sociais.

Muitas vezes, o que se vê é um efeito manada. As pessoas têm reações positivas ou negativas a determinado estímulo de consumo não por razões objetivas, mas pela influência de determinado grupo. Saber dessa reação com antecedência é crucial para empresas que lidam diretamente com o consumidor. É nessa área que deveremos ter os maiores avanços.

EXAME - Qual a importância do mercado brasileiro para a SAP hoje?

Bill McDermott - O Brasil é um dos dez maiores mercados da SAP no mundo. Nos primeiros nove meses de 2013, a receita da operação local cresceu 38%, enquanto o faturamento global da SAP avançou 5%.

Conseguimos crescer no Brasil, mesmo tendo um concorrente de peso local, que é a Totvs. Nosso objetivo agora é brigar pelo segmento de pequenas e médias empresas, que ainda é pouco explorado no Brasil e tem um potencial enorme.

Acompanhe tudo sobre:Edição 1057EmpresasEmpresas alemãsempresas-de-tecnologiaEntrevistasMercado de trabalhoSAPTecnologia da informação

Mais de Revista Exame

"Somos uma marca alemã, isso define quem somos", diz CEO da Rimowa

Forte captação em crédito reduz potencial de retorno e desafia gestoras em busca por ativos

Elas já estão entre nós

Desafios e oportunidades