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"O mercado já está olhando para 2015", diz gestor

Para o gestor de mercados emergentes da Aberdeen Asset, o rebaixamento do Brasil pela S&P era esperado. Melhora na economia? Se vier, só lá na frente

Daly: “A troca de Guido Mantega por Henrique Meirelles provocaria euforia nos mercados”  (Divulgação / EXAME)

Daly: “A troca de Guido Mantega por Henrique Meirelles provocaria euforia nos mercados” (Divulgação / EXAME)

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Da Redação

Publicado em 4 de abril de 2014 às 00h10.

São Paulo - Na última semana de março, a agência de classificação de risco Standard & Poor’s (S&P) rebaixou a nota de crédito do Brasil para BBB-, a menor possível para os países considerados seguros pelos investidores.

Para Kevin Daly, gestor de renda fixa focado em mercados emergentes da Aberdeen Asset, empresa sediada no Reino Unido com 300 bilhões de dólares sob gestão, o mercado já esperava pelo rebaixamento. “Tomara que o governo brasileiro tenha entendido o recado e não perca tempo em tomar as medidas necessárias para restabelecer a confiança dos investidores”, diz Daly.

1) EXAME -  A decisão da S&P foi correta? 

Kevin Daly - Sim. Há oito meses, a S&P deu viés negativo para a nota da dívida, o que era uma indicação de que o rebaixamento poderia ocorrer. Há uma preocupação quanto à capacidade de o governo conseguir cumprir a meta de superávit primário de 1,9% do PIB em 2014. Outra grande dúvida é se Dilma Rousseff, em caso de reeleição, conseguirá fazer os ajustes que não fez nesses últimos quatro anos.

2) EXAME -  O momento do anúncio surpreendeu? 

Kevin Daly - O mercado já tinha antecipado esse rebaixamento. A surpresa foi ele ter vindo antes das eleições. Foi um alerta para o governo. Se for reeleito, que faça logo as reformas necessárias para melhorar a situação fiscal. O governo fica falando em dívida líquida baixa, mas não adianta reclamar. O que a S&P olha é a dívida bruta, e ela está subindo.

3) EXAME -  Qual é a visão dos investidores sobre o Brasil? 

Kevin Daly - É muito negativa. Consultamos vários economistas brasileiros sobre a meta de superávit primário deste ano. Todos disseram que é otimista demais. O baixo crescimento vai afetar negativamente as receitas do governo. Por causa da crise energética, ninguém acredita em crescimento maior do que 1,5% em 2014.

O que importa agora para o mercado é o que vai acontecer depois das eleições, pois não há esperança de ajuste antes de outubro. O mercado já olha para 2015.


4) EXAME - Qual é a chance de o Brasil perder o grau de investimento nos próximos anos?

Kevin Daly - Não vejo esse risco. Mantido o atual quadro de deterioração fiscal e de crescimento baixo, a S&P poderia rebaixar o viés da nota de estável para negativa, mas só daqui a dois anos. Por enquanto, o grau de investimento está garantido.

5) EXAME - Quanto a Aberdeen tem investido no Brasil? 

Kevin Daly - Temos 130 bilhões de dólares em mercados emergentes. No Brasil, são 13,5 bilhões de dólares.

6) EXAME - Quais são suas preocupações no longo prazo?

Kevin Daly - Se reeleita, será que a presidente Dilma vai conseguir fazer a economia crescer num ritmo mais elevado, com menos inflação e com o ajuste fiscal necessário? Difícil dizer.

7) EXAME - Há quatro anos o senhor criticou a permanência de Guido Mantega como ministro da Fazenda. O senhor mudou de ideia?

Kevin Daly - Uma troca no Ministério da Fazenda seria algo positivo. As projeções que Mantega e sua equipe fazem são irrealistas. As medidas que ele toma são sempre vistas como inconsistentes.

Já Alexandre Tombini, presidente do Banco Central, tem uma imagem melhor. Sabemos que não é possível, mas, se Dilma trocasse Mantega por Henrique Meirelles, haveria uma corrida dos investidores por ativos brasileiros. Meirelles tem muita credibilidade no mercado.

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