Revista Exame

O Brasil precisa de mais fontes de energia

O presidente da GDF Suez, maior geradora de energia do mundo, defende a redução da dependência das usinas hidrelétricas para garantir o abastecimento

Mestrallet: para ele, o Brasil deve mudar a lei para o setor privado investir em energia nuclear (Leandro Fonseca/EXAME)

Mestrallet: para ele, o Brasil deve mudar a lei para o setor privado investir em energia nuclear (Leandro Fonseca/EXAME)

share
DR

Da Redação

Publicado em 29 de janeiro de 2014 às 05h00.

São Paulo - O Brasil precisa investir em novas maneiras de gerar energia para evitar o risco de racionamentos. Construir alternativas é o objetivo da nova estratégia da francesa GDF Suez no Brasil, diz Gérard ­Mestrallet, presidente mundial do grupo.

Para ele, as novas hidrelétricas têm reservatórios pequenos, que reduzem a segurança do sistema. A seguir, os principais trechos da entrevista concedida por ele durante uma visita ao país.

1) EXAME - Qual a perspectiva para o investidor em infraestrutura no Brasil hoje?

Gérard ­Mestrallet - Nós, pelo menos, não temos do que reclamar. A regulação do setor elétrico é clara para a construção de usinas. Não fomos afetados pela mudança nas concessões que vencerão nos próximos anos porque nossos contratos vão terminar só a partir de 2028. Em nosso caso, as regras são claras e têm sido respeitadas. Por isso, continuamos a investir no país.

2) EXAME - Mas o Brasil não tem um potencial de crescimento muito inferior ao de países da Ásia, por exemplo?

Gérard ­Mestrallet - O Brasil cresceu pouco no ano passado, mas acho que essa é uma situação conjuntural. O país tem crescimento populacional, melhora nos níveis de educação e gera mais empregos qualificados. Tudo isso incentivará taxas de crescimento maiores no futuro.

3) EXAME - Por que a GDF Suez começou a investir em gás natural no Brasil?

Gérard ­Mestrallet - Em outros países, temos grandes operações na área de gás. No Brasil, temos quase só hidrelétricas e queremos ser mais diversificados.

Em novembro, compramos uma participação nos campos da Vale na bacia do Parnaíba e também ganhamos seis blocos no Recôncavo Baiano no leilão da ANP. A ideia é construir usinas termelétricas onde houver gás e montar uma operação integrada.

4) EXAME - Qual a lógica desse investimento?

Gérard ­Mestrallet - O Brasil vai precisar de diversificação de suas fontes de energia. Não é possível mais confiar apenas nas hidrelétricas, que agora têm reservatórios menores e vão depender muito mais das chuvas e do fluxo dos rios. É preciso ter uma margem de segurança maior.

5) EXAME - Que outras fontes poderiam ser usadas?

Gérard ­Mestrallet - As renováveis são interessantes, mas é preciso lembrar que a energia solar e a energia eólica são fontes intermitentes. A geração nuclear seria uma alternativa.

6) EXAME - O governo brasileiro tem intenção de retomar o investimento em usinas nucleares?

Gérard ­Mestrallet - Um bom sinal foi a decisão de terminar a construção da Angra 3. Se houver uma decisão favorável sobre novas usinas além da Angra 3, estamos muito interessados em participar. Temos um acordo com a estatal brasileira Eletronuclear há quatro anos e experiência na área.

Controlamos usinas nucleares na Bélgica e ganhamos, na Turquia, a única concorrência internacional para novas usinas realizada desde o acidente no Japão.

7) EXAME - Mas como, se a Constituição determina que as usinas nucleares são monopólio do Estado no Brasil?

Gérard ­Mestrallet - Queremos investir na condição de controladores, como somos no projeto das quatro usinas que ganhamos na Turquia. Hoje, com as restrições legais, isso não é possível no Brasil. Acho que o governo deveria considerar uma mudança para incentivar o investimento privado.

Acompanhe tudo sobre:Edição 1057Energia elétricaEntrevistasHidrelétricasInfraestrutura

Mais de Revista Exame

"Somos uma marca alemã, isso define quem somos", diz CEO da Rimowa

Forte captação em crédito reduz potencial de retorno e desafia gestoras em busca por ativos

Elas já estão entre nós

Desafios e oportunidades