Revista Exame

No turismo, o Brasil já perdeu a Copa

O executivo que comanda a rede hoteleira Accor no Brasil lamenta a falta de planejamento do governo para divulgar o turismo antes do início da Copa do Mundo


	Orla de Copacabana, no Rio: “O Brasil não vai explorar todo o potencial da Copa no turismo”, afirma Roland Bonadona:
 (Creative Commons)

Orla de Copacabana, no Rio: “O Brasil não vai explorar todo o potencial da Copa no turismo”, afirma Roland Bonadona: (Creative Commons)

DR

Da Redação

Publicado em 16 de abril de 2014 às 06h00.

São Paulo - Roland Bonadona é um francês que conhece como poucos o turismo brasileiro. Há 20 anos mora no país e comanda há quase uma década a ­Accor no Brasil, maior rede de hotéis no país, com mais de 30 000 leitos. Desde 2013, Bonadona acumula também a direção da rede para as Américas.

Para ele, a realização da Copa do Mundo seria a chance de ouro para ampliar significativamente o número de turistas que visitam o país anual­mente. “Infelizmente, não tivemos um time de especialistas que pudessem ajudar o Brasil a aproveitar todo o potencial da Copa”, diz. Confira a seguir trechos da entrevista.

1) EXAME - O que significa para o turismo de um país a realização da Copa do Mundo ou da Olimpíada? 

Roland Bonadona - São oportunidades únicas, e o potencial de ambos os eventos é enorme. A Copa do Mundo é a maior vitrine para o turismo que se pode imaginar.

Antes de o evento começar, a mídia internacional produz conteúdos sobre o país e suas particularidades. Durante os jogos, são centenas de milhões de pessoas absorvendo informações sobre o país.

2) EXAME - E o Brasil soube aproveitar? 

Roland Bonadona - Não. Quase nada foi feito para promover o turismo. O governo preferiu acreditar que o Brasil se venderia sozinho. Não é o suficiente. O país tem recursos naturais, cultura e talvez o maior número de locais tombados pela Unesco.

Mas estamos a 10 horas de voo das principais fontes de turistas do mundo, que são a América do Norte, a Europa e a Ásia. Há muitos países disputando a atenção dos turistas.

3) EXAME - O que foi feito?

Roland Bonadona - Foram construídos hotéis que vão modernizar o parque hoteleiro brasileiro. Os aeroportos melhoraram, ainda que estejam longe do ideal. Isso aumenta a qualidade da recepção aos turistas antes e depois dos jogos. Não podemos dizer que perdemos tudo, que gastamos uma fortuna e não seremos recompensados. Seremos, mas poderíamos ser muito mais. 

4) EXAME - Faltou planejamento? 

Roland Bonadona - A estratégia foi mal definida. Quem cuida da promoção do Brasil no exterior são a Embratur e o Ministério do Turismo. São dois órgãos que deveriam ter especialistas em promoção do turismo, mas não têm. O governo estava mais preocupado em controlar o preço de hotéis e de passagens aéreas. 

5) EXAME - Por que o turismo foi colocado de lado? 

Roland Bonadona - O Ministério do Turismo não é valorizado. A pasta é considerada irrelevante pelos políticos. Isso mostra que nem o governo enxerga o setor como importante. Mas nele há criação de empregos, investimentos e arrecadação de impostos.

6) EXAME - Quais países conseguiram um legado para o turismo com a Copa do Mundo?

Roland Bonadona - A Alemanha fez um belo trabalho. Promoveu o destino e a ideia de que os alemães são acolhedores. A França também soube impulsionar o turismo. De quebra, ambos conseguiram alavancar a autoestima da população.

7) EXAME - O que ainda pode ser feito? 

Roland Bonadona - Faltam cerca de 60 dias para a Copa. É muito pouco para fazer algo de grandes proporções. Agora o que resta é focar ações de marketing digital em redes sociais, como ­YouTube e Facebook. Não é algo que exige um investimento alto.

O objetivo deveria ser ampliar a permanência dos turistas que vão a uma cidade-sede para assistir a um jogo. Estimulá-los a chegar antes e a voltar depois.

Acompanhe tudo sobre:Copa do BrasilCopa do MundoEdição 1063EntrevistasEsportesFutebolHotéisRevista EXAMETurismo

Mais de Revista Exame

"Somos uma marca alemã, isso define quem somos", diz CEO da Rimowa

Forte captação em crédito reduz potencial de retorno e desafia gestoras em busca por ativos

Elas já estão entre nós

Desafios e oportunidades