Revista Exame

"Não somos um site de empregos”, diz presidente do LinkedIn

O americano Jeff Weiner, presidente do LinkedIn, explica o bom desempenho das ações da empresa na Nyse e conta como a rede social evoluiu de um repositório de currículos online para uma poderosa ferramenta de RH

Weiner, do LinkedIn: “O Brasil é nosso terceiro maior mercado em número de usuários”
 (Stephen Lam/Getty Images)

Weiner, do LinkedIn: “O Brasil é nosso terceiro maior mercado em número de usuários” (Stephen Lam/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 29 de agosto de 2013 às 13h37.

Mountain View - A trajetória das grandes empresas de internet que abriram o capital nos últimos anos não é das melhores no mercado financeiro. As ações do site de compras coletivas Groupon, que estreou na Nasdaq em novembro de 2011, valiam 26 dólares na abertura e hoje penam para romper a barreira dos 10 dólares.

O badalado Facebook, que debutou na bolsa em maio de 2012, só agora conseguiu que seus papéis igualassem os 38 dólares do dia de abertura. A exceção do setor é o Linked­In, rede social voltada para profissionais, fundada nos Estados Unidos em 2003. Desde 2011, quando o capital foi aberto, as ações da companhia quase triplicaram. 

Um dos principais responsáveis por esse desempenho é o americano Jeff Weiner, um jovem executivo de 43 anos que assumiu a dianteira da empresa em 2009. Desde então, o número de usuários do LinkedIn quintuplicou, chegando a 238 milhões. O faturamento atingiu quase 1 bilhão de dólares em 2012, com lucro de 22 milhões.

Além de criar formas para convencer mais profissionais a publicar currículos online, Weiner transformou o site numa ferramenta de recrutamento para empresas como Google, Ford e HSBC. Atualmente, 3 milhões de companhias têm páginas oficiais dentro da rede social. Em sua pequena sala na sede da companhia em Mountain View, na Califórnia, Weiner falou a EXAME. 

EXAME - Das três grandes empresas de internet que abriram o capital nos últimos três anos, o LinkedIn foi a única que viu suas ações valorizar. A que o senhor atribui esse bom desempenho? 

Jeff Weiner - Costumo dizer que dirigir uma companhia em “hipercrescimento”, como é o caso das grandes empresas de internet, é como mandar um foguete para o espaço. Se você errar por centímetros na hora do lançamento, terá de corrigir um problema a quilômetros de distância, quando ele entrar em órbita.

Por isso, antes de abrir o capital, houve um trabalho árduo para definir de forma clara para nós mesmos e para o mercado quais eram os objetivos de longo prazo do LinkedIn. Isso exigiu tempo e um esforço importante dos executivos e ajudou a criar os alicerces necessários para dar mais previsibilidade aos investidores.

Desde a nossa abertura de capital, em 2011, a preocupação é que cada passo que a gente dê esteja de acordo com a estratégia pensada lá atrás. Não tomamos atitudes só para garantir a receita do próximo trimestre.

EXAME - Qual é essa visão de longo prazo? 

Jeff Weiner - A população economicamente ativa do mundo soma 3,3 bilhões de indiví­duos. Atualmente temos 238 milhões de usuá­rios no LinkedIn e a meta de chegar a 600 milhões nos próximos anos. Essa é a base total do que chamamos de “profissionais do conhecimento”, que têm pelo menos um nível básico de qualificação.


Nosso objetivo final é criar o que chamo de “gráfico econômico”. Com base nas informações de usuários e de empresas que fazem parte do LinkedIn, conseguiremos ma­pear, por exemplo, quais são as regiões do mundo com profissionais mais qualificados, em quais países existe escassez de trabalhadores para determinada área e onde estão as melhores oportunidades para cada carreira.

O objetivo é que os governos possam utilizar essas informações para criar políticas públicas mais eficientes, que as empresas definam onde irão abrir novas fábricas e escritórios, entre outras aplicações práticas. 

EXAME - Muita gente ainda vê o LinkedIn como um repositório de currículos online. Ou seja, um local para fazer um cadastro e voltar apenas se quiser trocar de emprego. O que vocês têm feito para engajar seus usuários?

Jeff Weiner - Diria que, até há algum tempo, o Linked­In era um lugar para colocar seu currículo online. Mas isso mudou. Não somos um site de empregos. Há alguns anos, percebemos que teríamos mais valor como negócio se investíssemos também em conteúdo voltado para profissionais.

De nada adianta criar uma ferramenta tecnológica útil, capaz de atrair centenas de milhões de usuários, se ela não consegue fazer com que essas pessoas voltem com frequência a seu site e compartilhem conteúdo de forma espontânea. Atualmente, além de ajudar as pessoas a encontrar um emprego, fornecemos informações para que nossos usuários se tornem profissionais mais qualificados.

EXAME - Que tipo de informação?

Jeff Weiner - O primeiro passo foi criar uma revista online, o LinkedIn Today. Com base nas informações do currículo do usuá­rio, como sua formação e as empresas nas quais já trabalhou, reunimos as últimas notícias do setor, estatísticas e outros dados relevantes que o ajudem a tomar decisões de negócios.

Também temos uma ferramenta de grupos em que os profissionais se reú­nem por área de interesse. Hoje são mais de 2,1 milhões de grupos, que reúnem de duas a 500 000 pessoas. Estamos também criando uma rede de articulistas. São 250 influenciadores, como Richard Branson, fundador do grupo britânico Virgin, e Bill Gates, da Microsoft.


O artigo mais recente de Gates, “Três coisas que aprendi com Warren ­Buffet”, foi acessado por mais de 1 milhão de pessoas em apenas dois dias.

EXAME - As gigantes de internet tornaram-se negócios bilionários por ter revolucionado a vida das pessoas. Qual foi o paradigma que o LinkedIn quebrou?

Jeff Weiner - O grande impacto do LinkedIn ocorreu no setor de recursos humanos. Foi a primeira ferramenta que permitiu a empresas buscar profissionais sem que eles estivessem procurando emprego. Antes, isso acontecia apenas para cargos mais altos, por causa do alto custo que envolvia a contratação de um headhunter.

Agora, um analista de RH consegue fazer esse recrutamento em larga escala. É possível fazer a busca por meio de vários filtros, como candidatos que falam determinados idiomas e empresas onde já trabalharam. Muitas vezes, o profissional ideal para uma vaga não é o que está buscando emprego, mas sim quem já está empregado.

As pessoas estão atua­lizando o currículo no LinkedIn mesmo quando não estão procurando um trabalho. Até pouco tempo, isso não fazia o menor sentido.

EXAME - Como o LinkedIn ganha dinheiro?

Jeff Weiner - A maior parte do nosso faturamento vem da ferramenta de recrutamento, que responde por 56% da receita do LinkedIn. Outra fonte importante são os anúncios, que representam em torno de 30% do faturamento. Com base nas informações do perfil dos usuários, as empresas oferecem publicidade personalizada.

O restante vem da venda de assinaturas Premium, que permitem que os usuários tenham acesso a algumas funções a mais do que na conta gratuita, como enviar mensagens a contatos fora de sua rede e saber quais foram as pessoas que visitaram seu perfil.

EXAME - Qual a importância do Brasil para o LinkedIn?

Jeff Weiner - O Brasil é o terceiro maior mercado em número de usuários, atrás dos Estados Unidos e da Índia. É importante porque a base de usuários continua a crescer a taxas elevadas. Hoje são 13 milhões de brasileiros no LinkedIn, o dobro do que tínhamos no ano passado. Para reforçar esse avanço, estamos investindo. Em julho, inauguramos um novo escritório em São Paulo.

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