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A bolsa foi do medo à euforia, mas há riscos no horizonte à frente

Existe uma onda de otimismo com a bolsa brasileira, mas os riscos que rondam o país merecem atenção. Veja quais são as ações mais indicadas

Bolsa brasileira, a B3: Movimento de IPOs deve ganhar tração já a partir de fevereiro (Germano Lüders/Exame)

Bolsa brasileira, a B3: Movimento de IPOs deve ganhar tração já a partir de fevereiro (Germano Lüders/Exame)

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Da Redação

Publicado em 6 de dezembro de 2018 às 05h52.

Última atualização em 6 de dezembro de 2018 às 05h52.

Fazia alguns anos que gestores de fundos e assessores financeiros não se mostravam tão otimistas com as perspectivas para a bolsa brasileira. Nos últimos meses, muitos ampliaram, ou recomendaram ampliar, os investimentos em ações. A empolgação levou o Ibovespa, principal índice da bolsa, a subir bastante em outubro: mais da metade da valorização no ano ficou concentrada naquele mês. O indicador começou novembro praticamente no zero a zero, mas passou a subir e quase bateu um novo recorde de pontuação. Para quem está avaliando onde investir, ficam as dúvidas: será que a bolsa já ganhou o que tinha para ganhar? Não é melhor esperar o início do governo para decidir se vale a pena comprar mais ações? Ou quem fizer isso poderá perder a chance de comprar papéis baratos?

Entre o risco de perder dinheiro e o de perder oportunidades, os especialistas consultados por EXAME têm optado pelo primeiro. Apesar das incertezas que rondam o governo de Jair Bolsonaro e das ameaças que vêm do exterior, e podem prejudicar a economia brasileira, a maioria acredita que este é o momento de comprar ações aqui. “É claro que há riscos, mas a história mostra que os mercados emergentes podem se recuperar rápido, e é preciso estar posicionado para se beneficiar disso”, diz o investidor Mark Mobius, um dos principais especialistas em mercados emergentes, que acaba de fundar sua gestora, a Mobius Capital (leia a entrevista nesta edição).

Além de acreditar que a economia brasileira vai começar uma trajetória de recuperação, investidores como Mobius têm uma visão positiva sobre a situação das empresas brasileiras.Para atravessar a recessão, as companhias tiveram de cortar custos, melhorar processos e se tornar mais eficientes. “Houve um movimento de seleção natural. Quem sobreviveu provou que é muito bom e pode ter resultados melhores”, diz Eduardo Camara, responsável pela área de portfólios globais do banco Itaú. Além disso, os juros baixos ajudam a melhorar a rentabilidade. Na projeção do Bank of America Merrill Lynch, o lucro das companhias abertas no Brasil deverá aumentar, em média, 25% neste ano mais 25% em 2019. “As empresas, de forma geral, reduziram o endividamento e estão com o caixa elevado. Isso abre espaço para um aumento do nível de investimentos”, diz David Becker, chefe de economia e estratégia do Bank of America. Segundo ele, as companhias deverão investir 4% mais em 2018 e 8% mais em 2019.

Esse é o cenário-base, e ele considera que o governo adotará medidas para reduzir o déficit fiscal. A principal delas é a reforma da Previdência. Se nada, ou pouco, for feito, a crise tende a continuar, porque faltará confiança para investir. “Era como as empresas estavam antes da eleição, paralisadas pelas incertezas”, diz Becker. Caso o governo consiga aprovar uma reforma da Previdência completa, com o aumento da idade mínima para a aposentadoria, e adote outras medidas de redução do gasto público, o PIB tenderá a crescer e o Ibovespa deverá fechar o próximo ano em torno de 110.000 pontos, uma alta de cerca de 20% em relação ao patamar atual. Se, além disso, houver um avanço nos planos de privatização e em outras reformas, o Ibovespa deverá passar dos 120.000 pontos. Mas, se tudo der errado e o governo tiver dificuldades para sair do lugar, a bolsa poderá cair mais de 20% — uma probabilidade considerada baixa, segundo os especialistas ouvidos por EXAME.

Vale lembrar que, ainda que o governo entregue o que prometeu durante a campanha, o cenário externo continuará influenciando o desempenho da bolsa. A tensão comercial entre os Estados Unidos e a China, a desaceleração da economia chinesa, o aumento dos juros americanos, nada disso ajuda os mercados emergentes. Quanto maior o risco, mais os investidores costumam ser conservadores e aplicar em ativos considerados seguros, ainda mais se o rendimento tiver aumentado, como é o caso dos títulos americanos. Em outubro e novembro, os investidores estrangeiros sacaram 9 bilhões de reais da bolsa brasileira, em parte por medo de que a economia mundial degringole, em parte por ter decidido esperar para ver o que será, de fato, o governo Bolsonaro.

Se o país melhorar realmente, esse dinheiro poderá voltar. “Os estrangeiros estão leves no que diz respeito à alocação em bolsa. Existe espaço para aumento caso o governo mostre que há solução para o grave problema fiscal do país”, diz Carlos Sequeira, chefe da área de análise e pesquisa do banco BTG Pactual. Se isso acontecer, deverá provocar uma onda de valorização do mercado local, já que os fundos internacionais respondem por metade do volume de negócios da bolsa. “Meus colegas conservadores vão perder essa alta”, diz James Gulbrandsen, responsável por investimentos na América Latina da gestora americana NCH Capital, que tem cerca de 500 milhões de r-eais em ações brasileiras — o volume aumentou 20% desde setembro.

Os brasileiros também continuam investindo pouco em ações, apesar de o volume ter aumentado recentemente. Do patrimônio total dos fundos locais, apenas 9% estão aplicados na bolsa. É um patamar que faz sentido quando os juros estão altos, e é difícil competir com a renda fixa. Hoje, com taxas menores, a recomendação é diversificar. “Aumentamos em 50% a parcela do patrimônio dos clientes que, na nossa opinião, deveria ser aplicada em renda variável”, diz Otavio Vieira, sócio da assessoria financeira Taler. “Se o Brasil der certo, esse é o ativo que terá o melhor desempenho, por anos.”

Para quem decidir comprar ações diretamente, as melhores opções, na opinião de 16 bancos e corretoras consultados por EXAME, estão em setores voltados para a economia doméstica, como o bancário e o de varejo. Os entrevistados também estão otimistas com empresas estatais, porque acreditam que haverá uma preocupação em melhorar a governança delas no próximo governo (veja acima a lista dos dez papéis mais indicados para 2019).

Quem estiver disposto a arriscar um pouco mais  poderá partir para ações de empresas de menor porte. Para Gullbrandsen, da NCH, é aí que estão as verdadeiras pechinchas do mercado. “As ações do Itaú não estão caras, mas há oportunidades melhores. Os papéis do Banrisul estão mais baratos e o banco tem boa rentabilidade”, diz. Também é possível investir na bolsa por meio de fundos, e deixar  a escolha dos papéis com quem entende do assunto. Para ganhar dinheiro, é preciso, claro, escolher um bom gestor — e não se desesperar com os altos e baixos que, certamente, ocorrerão. 

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