Revista Exame

Banco Santos altera sua estratégia

Gribel, o presidente, fala em reduzir peso das empresas médias no balanço do ano que vem

EXAME.com (EXAME.com)

EXAME.com (EXAME.com)

share
DR

Da Redação

Publicado em 8 de janeiro de 2013 às 12h22.

O adjetivo "suntuosa" pode ser aplicado sem exagero à sede do Banco Santos, na zona sul de São Paulo. O edifício de oito andares em estilo neoclássico, que abriga uma galeria de arte no térreo, é amplo e fartamente decorado. Apesar do conforto, a cúpula do Banco Santos ameaça mudar-se para um endereço mais modesto no início do ano que vem.

"O aluguel custa 1,2 milhão de reais por mês", diz Ricardo Gribel, recém-homologado presidente do Santos pelo Banco Central (BC). "Queremos cortar esse gasto pela metade. Se não conseguirmos, vamos mudar."

Enquanto correm as negociações com a incorporadora paulista JHSF, proprietária do prédio de 11 600 metros quadrados, o banco encomendou a construção de um novo edifício a alguns passos da sede atual, com pouco mais de 1 000 metros quadrados de área útil, para acomodar o banco se o atual senhorio não baixar o aluguel. Procurada por EXAME, a incorporadora JHSF prefere não comentar o assunto, mas confirma a existência da negociação.

A diferença das proporções entre a sede atual e o provável novo endereço é uma boa amostra das mudanças em andamento no banco. O Santos iniciou suas atividades em 1969, na cidade litorânea paulista de mesmo nome, como uma corretora de mercadorias.

Tornou-se um banco 20 anos mais tarde, ao final do governo de José Sarney, e especializou-se em atender empresas de médio porte. Sua história confunde-se com a atuação profissional de seu fundador e principal acionista, o banqueiro Edemar Cid Ferreira. Agora Edemar se afasta do dia-a-dia e assume o conselho de administração.

O comando passa para Gribel, ex-presidente da Visa do Brasil. Ele tem duas tarefas na agenda. A primeira é aumentar a eficiência do banco. A segunda é inserir o Santos no competitivo mercado de pessoas físicas de alta renda.

A busca por eficiência já provocou mudanças internas no banco, que contratou a consultoria Trevisan para auxiliá-lo no processo. "Dispensamos 80 pessoas, reduzindo nossa estrutura para 600 funcionários", diz Gribel. Outra mudança foi a injeção de capital de 41 milhões de reais, também autorizada pelo BC no dia 24 de setembro.


Os novos recursos servem para melhorar o índice Basiléia do Santos, que era de 11,5% no fim do primeiro semestre. Esse índice mede a relação entre o patrimônio líquido e os ativos de um banco e, quanto maior, melhor. O BC determina que o mínimo seja de 11%. "O número do Santos está muito perto do piso, o que pode dificultar a expansão do crédito", disse Erivelto Rodrigues, sócio da empresa de avaliação de risco Austin Rating, ao comen tar os números do primeiro semestre.

Os novos recursos também vão facilitar a busca por novos clientes. "Estamos muito concentrados em alguns setores", diz Gribel. A qualidade dos empréstimos provocou um comentário dos auditores no balanço do primeiro semestre, publicado no dia 4 de agosto. "Operações de crédito do banco no montante de 186,5 milhões de reais foram classificadas em nível de risco médio/baixo, de acordo com a Resolução no 2.682 do Banco Central.

A análise desses créditos, baseada na documentação suporte, seguindo os critérios da citada resolução, recomendaria sua classificação em nível de risco mais conservador", diz o 5o item do parecer assinado por Orlando Octávio de Freitas Júnior, sócio da Trevisan. Procurado, Freitas não quis comentar seus comentários. O que diz o banco? "Essa nota foi motivo de muita discussão com a auditoria, mas nosso balanço é consistente", diz Gribel. "Mesmo assim, uma de nossas metas é elevar a qualidade da carteira de crédito, que sempre pode ser melhorada."

O segundo item na agenda de Gribel é inserir o Santos no varejo sofisticado. A mudança estratégica proposta elege as pessoas físicas de alta renda como alvo preferencial. "Hoje temos cerca de 3 000 clientes pessoa física", diz Gribel. "Esperamos aumentar esse número para 70 000 em dois anos."

A estratégia é procurar locais onde há grande concentração de pessoas com o perfil desejado, como as empresas com as quais o banco faz negócios, clubes e associações. "Temos de ganhar escala sem elevar os custos", diz Gribel. É uma mudança significativa. O banco é especialista em captar dinheiro de grandes investidores, como fundos de pensão, e repassá-lo a empresas de médio porte. "Operar nesse mercado exige sensibilidade para saber quando emprestar e quando dizer não", diz Rodrigues, da Austin.

"O Santos sempre soube trabalhar muito bem nesse mercado, mas o segmento de pessoas físicas é uma novidade para ele." Enquanto os resultados não aparecem, a Austin colocou a boa classificação de risco do banco em observação no dia 10 de setembro.

"Esse é um movimento ousado", diz Rodrigues. "O banco era muito focado e agora está diversificando sua atuação para uma nova atividade, o que aumenta o risco de os custos saírem de controle." Segundo Rodrigues, os números do Santos serão observados com atenção nos próximos quatro meses.

"Esse período vai decidir se o reposicionamento do banco alcançará as metas planejadas pela direção." De seu lado, o presidente Gribel garante que a mudança será para melhor. "Estamos no caminho certo", diz.
 

Acompanhe tudo sobre:Banco SantosBancosBancos quebradosConstrução civilEdemar Cid FerreiraEmpresasJHSF

Mais de Revista Exame

"Somos uma marca alemã, isso define quem somos", diz CEO da Rimowa

Forte captação em crédito reduz potencial de retorno e desafia gestoras em busca por ativos

Elas já estão entre nós

Desafios e oportunidades