(Leonardo Yorka/Exame)
Publicado em 14 de junho de 2023 às 06h00.
Aurélio Pavinato terminou 2022 com a notícia de que a SLC Agrícola, da qual é diretor-presidente, passaria a fazer parte do Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) da B3 a partir de janeiro deste ano. No ano passado, a empresa já havia conseguido integrar outros dois índices importantes da bolsa: o Índice Carbono Eficiente (ICO2) e o IGPTW, que engloba aqueles empregadores com as melhores práticas no mercado de trabalho.
Para Pavinato, fazer parte do ISE foi uma espécie de confirmação de que o caminho das boas práticas de sustentabilidade está na direção certa. Faltavam, segundo o executivo, alguns ajustes específicos.
A partir de 2020 a SLC Agrícola constituiu o comitê ESG no nível de conselho e passou a debater o tema com mais profundidade. “Vimos que, ao discutir, analisar e compreender as ações, a chance de evolução na gestão do tema é muito maior”, pontua o executivo.
Para uma empresa que atua no campo, a relação com o meio ambiente é a questão mais sensível por causa do nível de exposição a riscos como contaminação de água e solo e ocupação de áreas degradadas. Desde agosto de 2021, a SLC Agrícola não expande mais as operações agrícolas, conforme compromisso assumido em sua Política de Desmatamento Zero, aplicável a áreas próprias, aquisições, arrendamentos e joint ventures, até para processos que envolvam terceiros.
Para crescer, é preciso buscar ganhos de eficiência e alavancar a produtividade. Fica fora dos planos da empresa a conversão de novas áreas com vegetação nativa. A exceção, segundo a Política de Desmatamento Zero, é a supressão de fragmentos isolados de vegetação, quando estritamente necessário, em situações como manutenção de estradas, redes de energia elétrica, aceiros para combate ao incêndio em áreas de vegetação nativa e estruturas hidráulicas para captação de água superficial. O compromisso da empresa é ser carbono neutro nos escopos 1 e 2 até 2030.
“Definimos a meta porque vimos que seria possível avançar com a ajuda da tecnologia. Hoje, é possível aplicar insumos, que geram emissões na atmosfera, de forma mais assertiva, com um uso mais eficiente. Além disso, as máquinas estão cada vez mais modernas, o que também contribui para reduzirmos as emissões por meio do uso de diesel”, explica Pavinato.
Segundo o diretor-presidente da SLC, outro caminho para melhorar a relação com o meio ambiente é o aumento do sequestro de carbono. Esse é um tema que vem sendo trabalhado mais recentemente pela empresa, que está desenvolvendo uma metodologia para saber quanto carbono é possível capturar por meio da vegetação nativa e da integração lavoura-pecuária-floresta.
Além dos cuidados no relacionamento com os recursos naturais, segundo Pavinato, a SLC tem se preocupado em fazer investimentos que olhem para dentro da empresa. Um deles é o Programa Educação Inclusiva, voltado para o desenvolvimento dos funcionários na inclusão digital e na Educação de Jovens e Adultos (EJA). Em 2022, a empresa ofereceu salas de aula, material básico e transporte para 414 alunos do curso, que formou 176 colaboradores no ano.
As atividades de diversidade e inclusão possibilitaram à SLC aumentar em cerca de 100% a presença de mulheres em posições de liderança no período entre 2018 e 2022 por meio do Programa Liderança Feminina.
Paula Pacheco
A M. Dias Branco decidiu revisar sua Agenda Estratégica de Sustentabilidade, numa jornada que começou há quase dez anos. Para isso, a empresa líder do mercado nacional de massase biscoitos levou em consideração os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU na definição das metas até 2030. Entre elas está reduzir em 50% o desperdício de alimentos acabados — tema muito caro para o Brasil — e em 25% a perda de insumos no processo produtivo.
A indústria cearense assumiu duas metas em 2022 que tratam do consumo de água. Até 2030, a M. Dias Branco se comprometeu a reduzir o consumo de água para 0,40 metro cúbico por tonelada de produto e atingir 30% de reúso de água.
No ano passado, o Comitê ESG e o conselho de administração aprovaram os temas prioritários, indicadores, metas e governança propostos. Na prática, a M. Dias Branco vem buscando mobilizar funcionários e fornecedores para o tema. Por exemplo, com a realização do Encontro de Sustentabilidade nas unidades fabris para disseminar o papel da inciativa. No I Workshop para Fornecedores, a empresa mostrou formas de capturar sinergias e de abordar o tema ESG.
Paula Pacheco
O Grupo Heineken, fabricante de bebidas, teve um 2022 intenso na agenda ESG. Logo no início do ano, Mauro Homem assumiu a vice-presidência de sustentabilidade e assuntos corporativos, criada para aumentar a prioridade do tema nas reuniões do conselho de administração. Algumas semanas depois, em abril, o grupo anunciou a criação do primeiro instituto da companhia no mundo, operado no Brasil, com foco em ambulantes, catadores de material reciclável e jovens em situação de vulnerabilidade. “A vice-presidência coloca a agenda ESG em um nível de maturidade mais elevado na companhia e reforça os compromissos públicos.”, diz Mauro Homem.
Na agenda ambiental a companhia tem focado iniciativas como a neutralização de emissões pelo uso de energia renovável. O consumidor final é envolvido no tema por meio de iniciativas como a Energia Verde em Casa, com 20.000 participantes e 500.000 interessados. Na frente de água, essencial para os negócios do grupo, foi anunciada a implementação de tecnologias na unidade de Igarassu, em Pernambuco, para torná-la referência em eficiência hídrica ao reduzir o consumo de água na produção em 30% em até três anos. Nas marcas, o grupo trabalha em iniciativas sobre equidade racial com a Devassa, causa animal com a Lagunitas e diversidade LGBTQIA+ com a Amstel. A empresa tem o compromisso de ocupar 40% das posições de liderança com pessoas negras até 2030 e 50% com mulheres até 2026.
Marina Filippe