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A luz do vizinho é mais verde

A americana Opower ajudou clientes a economizar energia suficiente para abastecer 200 000 pessoas por um ano. Como? Mostrando quem no bairro estava jogando dinheiro fora


	Barack Obama: negócio bom para o meio ambiente e para a economia do país
 (Getty Images)

Barack Obama: negócio bom para o meio ambiente e para a economia do país (Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 13 de setembro de 2012 às 16h09.

São Paulo - O que significa para uma família gastar 200 quilowatts-hora por mês na conta de luz? Para um leigo, a informação de consumo não quer dizer muita coisa. É um gasto excessivo? Está dentro da média de consumo de residências similares?

Foram dúvidas assim que inspiraram os americanos Alex Laskey e Dan Yates, ex-colegas da Universidade Harvard, a fundar em 2007, na cidade americana de Arlington, a Opower. A empresa traduz a conta de luz de 15 milhões de residências em cinco países — Estados Unidos, Canadá, França, Reino Unido e Austrália.

Nos últimos três anos, a companhia ajudou os consumidores a economizar cerca de 1 terawatt-hora de energia, o suficiente para abastecer uma cidade de 200 000 habitantes por um ano.

O conceito é simples: um sistema online reúne as informações colhidas por relógios de energia nas residências, componentes básicos do que se convencionou chamar de redes elétricas inteligentes. O diferencial do soft­ware da Opower, que lê e processa esses dados, é o nível de detalhamento de sua análise.

Ele compara o consumo de determinada residência com o gasto médio de casas semelhantes nas redondezas. Se o usuário estiver gastando muito, a empresa indica os horários com tarifas mais baixas, junto com um aviso escrito na conta: “Você usou 49% mais energia do que seus vizinhos no último mês. Isso lhe custará um extra de 558 dólares por ano”, como descreve o material promocional da empresa.

“Essas informações fazem muitas pessoas tomarem uma atitude mais sustentável”, diz o americano Michael Sachse, vice-presidente da Opower, que tem contrato com 75 fornecedoras de energia, sendo que oito estão entre as dez maiores dos Estados Unidos. A expectativa é que mais 1 te­rawatt-hora seja poupado nos próximos 12 meses, ou 120 milhões de dólares em contas de luz.

Pode soar estranho as fornecedoras de energia se aliarem a uma empresa que faz seus clientes gastar menos. Mas elas também saem ganhando. Os horários variam, mas todas as empresas de eletricidade do mundo sofrem com os picos de consumo. Em países frios, os relógios de energia giram mais rapidamente das 17 às 19 horas, quando as pessoas chegam em casa e ligam o aquecedor.


No Brasil, o consumo sobe das 18 às 21 horas, período em que vários eletrodomésticos e chuveiros são acionados. Para atender a essas variações, as empresas gastam muito na construção de usinas e de linhas. Se conseguem que os consumidores evitem os picos com tarifas diferenciadas, as empresas também reduzem a necessidade de ampliar a capacidade de geração e transmissão. 

É nesse ponto que entram empresas como a Opower, que mostram quais são as casas e os horários em que as pessoas estão gastando acima da média. Por que não programar a máquina de lavar louça para funcionar na madrugada, quando o preço da energia é menor?

Estima-se que, se ao menos 10% do consumo dos americanos em horários de pico fosse transferido, o ganho seria de cerca de 23 bilhões de dólares, ou o equivalente a um ano de geração de energia no país. A Opower, como era de esperar, não está sozinha nesse mercado.

Enfrenta concorrentes de peso, como o Google, que lançou em 2009 uma ferramenta chamada PowerMeter, e a americana SilverSpring Networks, que desde sua fundação, em 2002, recebeu mais de 200 milhões de dólares em investimentos.

Por enquanto, a Opower está concentrada nos países em que opera, mas acompanha o que acontece no Brasil e não descarta um desembarque por aqui. Recentemente, a distribuidora CPFL Energia, com sede em Campinas, no interior de São Paulo, assinou um contrato para comprar medidores da eMeter, fabricante de leitores inteligentes do grupo Siemens.

Já a Light, presente no estado do Rio de Janeiro, começou um projeto que prevê a instalação de 100 000 medidores até o fim deste ano. Aos poucos, as tecnologias que conseguem aliar redução de custos para as empresas de energia a um consumo mais responsável por parte dos usuários começam a se disseminar.

No caminho, atraem cada vez mais investimentos privados e aplausos no meio político. Em visita recente à sede da Opower,  Barack Obama resumiu o sentimento geral: “Empresas assim são boas para a economia, para o meio ambiente e para o país”.

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