Mudança de paradigma

hero_Menos inglês, mais soft skills: o novo perfil de estagiário que as empresas querem

Jovens (Getty Images/Getty)

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Menos inglês, mais soft skills: o novo perfil de estagiário que as empresas querem

Pesquisa exclusiva mostra que, em meio a questões como diversidade e home office, companhias buscam jovens com outras competências

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Menos inglês, mais soft skills: o novo perfil de estagiário que as empresas querem

Pesquisa exclusiva mostra que, em meio a questões como diversidade e home office, companhias buscam jovens com outras competências

Jovens (Getty Images/Getty)

Por Luciana Lima

Publicado em 24/04/2023, às 18:12.

Última atualização em 09/08/2023, às 16:14.

Mudança de paradigma

Nem inglês fluente nem intercâmbio. Hoje, estudantes universitários que demonstram proatividade, boa comunicação e perfil colaborativo estão sendo mais valorizados pelas empresas na hora de contratar estagiários.

Quem diz isso é a pesquisa Panorama do Mercado de Estágio no Brasil, realizada pela Companhia de Estágios, que entrevistou 100 profissionais de Recursos Humanos que atuam diretamente na contratação de jovens.

De acordo com o estudo, ser colaborativo é a principal característica buscada pelas empresas, sendo a escolha de 83% delas. Na sequência, está “demonstrar a busca por aprendizado constante”, com 82%.

São também pontos positivos e decisivos na hora de recrutamento o candidato ser proativo (81%) e demonstrar habilidades comportamentais (75%).

Habilidades que antes eram quase sinônimo de garantia de uma vaga, principalmente em grandes empresas, ficaram na lanterna. Apenas 48% dos RHs citaram o domínio de ferramentas como Excel ou Power BI (48%), fluência em inglês (24%) e ter feito intercâmbio (10%) como habilidades que impactam na hora de escolher um estagiário.

Metas ESG contribuíram para eliminar barreiras

O resultado da pesquisa é reflexo de mudanças profundas que aconteceram no mercado de trabalho nos últimos anos. A primeira delas, mais visível, é o aumento de empresas com metas para a contratação e promoção de profissionais de grupos minorizados, como pessoas negras, com deficiência ou mulheres.

Isso porque muitas delas perceberam que, para essas metas saírem do papel, era preciso começar revendo seus processos e políticas, identificando quais os entraves que sequer permitiam que profissionais desses grupos fossem contratados. Outras também apostam nos programas de estágio para formar talentos diversos desde a base.

" Antes era comum a exigência de coisas absurdas. Quem não estudava em uma instituição considerada de primeira linha ou morava muito distante do centro era rapidamente descartado em processos seletivos. "Tiago Mavichian, CEO e fundador da Companhia de Estágios.

"A discussão sobre diversidade ajudou a jogar luz para esses filtros que impediam que esses profissionais sequer avançassem para além das primeiras etapas”, afirma.

O especialista cita que, com menos barreiras nas primeiras fases dos processos seletivos, aumentou também o número de estagiários mais velhos: contratações de profissionais com mais de 40 anos para vagas de estágio realizadas pela Companhia de Estágios mais que dobraram nos últimos dois anos.

Tempestade perfeita

Mesmo assim, apenas a agenda de diversidade e inclusão não foi a única responsável por puxar essas mudanças: a pandemia e os novos modelos de trabalho, com o crescimento do híbrido e home office, também foram determinantes.

“Com o remoto, habilidades comportamentais, que sempre foram vistas, ganharam mais relevância. Os estagiários hoje precisam de mais autogestão, além de proatividade, para conseguir navegar com mais facilidade nesse contexto”, diz Mavichian.

O crescimento de plataformas de educação on-line também permitiu que mais empresas criassem estruturas de Universidade Corporativa com custos menores, trazendo mais ferramentas para que os estagiários corrijam eventuais lacunas técnicas.

“Antes era mais caro criar uma universidade corporativa que atendesse todos os níveis de uma organização. Com o digital, isso mudou. Então, muitas empresas contratam alguém tem habilidades comportamentais e permite que eles desenvolvam as competências que faltam depois”, afirma o especialista.

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Os dilemas do remoto

O que não ficou necessariamente mais fácil foi desenvolver competências comportamentais. Isso porque algumas delas são mais bem absorvidas por meio da observação de colegas seniores ou de conexões que acontecem em momentos como o cafezinho no escritório. Algo que se tornou mais complicado de pôr em prática em meio a reuniões no Zoom e grupos de conversas no Slack.

Não à toa, 56% das oportunidades conduzidas pela Companhia de Estágios em 2022 eram no formato presencial, 41% no modelo híbrido e apenas 3% de forma totalmente remota.

“Os jovens já não estudam presencialmente, não se relacionam presencialmente. Então, de fato, ficou mais difícil desenvolver essas competências. Muitos deles, segundo as nossas pesquisas, não querem o trabalho 100% home office exatamente por essa preocupação em entender melhor o ambiente corporativo, algo que o presencial facilita”, diz Mavichian.

Mesmo assim, o especialista salienta que a saída não é obrigar o retorno 100% presencial, algo que pode, inclusive, prejudicar a marca empregadora e a atração de talentos. “O modelo híbrido tem se consolidado com a melhor alternativa para conciliar ambas as necessidades: flexibilidade e conexão”, diz.

A busca maior pelas habilidades comportamentais em profissionais em tão início de carreira também pode parecer incoerente. Afinal, além dos desafios adicionais do remoto, encontrar profissionais com essas habilidades é difícil mesmo entre aqueles que já estão há anos no mercado.

Entretanto, segundo Mavichian, a ideia é mais identificar talentos em potencial do que exigir que eles estejam 100% completos. “O processo seletivo sempre teve como foco identificar e avaliar algumas aptidões. Cada vez mais empresas entendem que o candidato perfeito não existe. E no caso as soft skills é entender quais dessas características eles já possuem minimamente e podem ser aperfeiçoadas”, afirma.

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Menos viés de proximidade

A pesquisa também aponta que as próprias empresas estão aprendendo a lidar melhor com o cenário do mundo híbrido e diminuindo o chamado viés de proximidade, ou seja, a tendência de valorizar mais os profissionais que atuam presencialmente em detrimento daqueles que não são ‘vistos’ no escritório.

De acordo com o relatório, em 2022, 39% dos líderes de RH disseram que os estagiários desempenham melhor as suas atividades no modelo presencial em detrimento do remoto. No ano passado, esse mesmo número era de 50%.

“As empresas estão aprendendo a navegar melhor no modelo híbrido. Além disso, existem mais ferramentas que ajudam as empresas a medirem a produtividade e as entregas. É uma curva de aprendizado que vai acontecendo conforme os novos modelos ficam mais maduros”, afirma Mavichian.

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Créditos

Luciana Lima

Luciana Lima

Repórter de Carreira

Formada pela PUC-SP, cobre mercado de trabalho e Recursos Humanos há sete anos. Foi editora-assistente da VOCÊ S/A e VOCÊ RH e repórter do Jornal Primeiramão. Na EXAME é Repórter de Carreira e apresentadora do podcast Entre Trampos.

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