Rita Lee: ouça ao álbum póstumo da cantora (Marcos Artoni - LaMotta filmes/Divulgação)
Publicado em 1 de novembro de 2024 às 17h22.
No dia 8 de maio de 2023, o mundo perdeu uma das pessoas mais icônicas da história da música brasileira: morreu Rita Lee, a rainha do rock nacional, aos 75 anos. Pouco mais de um ano depois, no entanto, o público terá uma nova oportunidade de ouvi-la: Roberto de Carvalho lançou nesta quinta-feira, 31, o primeiro álbum póstumo da cantora: “Uma Noite No Luna Park (Ao Vivo)”.
“Tudo começou com a gravação do ‘Bossa and Beatles’, esse disco que tem cover dos Beatles, e nos foi sugerido gravar na Argentina”, comentou o marido de Rita Lee, em uma conversa com a imprensa promovida pela Deezer. “Fizemos uma tarde de autógrafos, a coisa foi se intensificando e acabamos fazendo um show. Aí veio o nome, ‘Luna Park’, e eu fiquei seduzido, achei que era romântico”.
As 17 faixas contém os sucessos mais marcantes da carreira de Rita, incluindo versões de clássicos dos Beatles, gravados em um show feito na Argentina, no Luna Park, em 2002. O disco ao vivo é inédito.
Na conversa com a imprensa, bastante marcada pela emoção e por um sentimento de saudade coletiva, Roberto relembrou alguns dos grandes momentos que viveu ao lado da esposa, e os bastidores por trás da gravação. “A gente não gostava de fazer shows fora do Brasil, não era uma coisa frequente, não. Mas teve algo a mais nesse show. A primeira vez que eu fui à Argentina, tinha 17 anos e eu fiquei encantado com um pãozinho chamado ‘media luna’, açucarado. A mítica disso com o Luna Park me atraiu e atraiu a Rita também”.
A faixa favorita, revelou, é “Besame Mucho”. “Na concepção do João Gilberto, e nesse álbum, toda a harmonia dela me marcou muito”, brincou ele. “Foi uma noite realmente inesquecível para nós dois”.
Em suas lembranças mais frequentes, o musicista relatou que o processo de viver o luto ainda é complexo e contínuo.
O lançamento do álbum evidencia o sentimento. “Ainda é um momento muito difícil para mim, tem muita terapia envolvida, muito antidepressivo, tem altos e baixos [...]. Mas tem muitos projetos sobre ela vindo por aí, tem a peça que traz uma representação da Rita, que é uma forma do público se manter conectado com ela — e isso é bom. Mas a original nunca mais vai existir. Não haverá no mundo outra mulher como Rita Lee”.
No prédio da Deezer, em São Paulo, Roberto anunciou que a história de Rita ainda está longe de acabar: além do lançamento de uma autobiografia dele que a citará, ele também revelou que há dois documentários em produção sobre a cantora, bem como um filme de ficção no estilo de cinebiografia. Os projetos não têm data de lançamento.
“Os dois documentários já estão praticamente prontos, isso é meio que um segredo, eu não posso falar muito sobre porque tem cláusulas contratuais que me impedem”, revelou entre risos. “Estou escrevendo um livro de pouco em pouco [...]. Vai existir filme também, de ficção”.
Até o dia 8 de dezembro, a peça teatral “Rita Lee: uma autobiografia musical” está em cartaz na capital paulista. Serão, ao todo, mais de 100 apresentações — todas esgotadas. “Vendo isso, entendo ainda mais o quanto ela era uma pessoa realmente muito amada”, salientou Roberto.
Rita Lee tem duas autobiografias publicadas. A primeira, “Rita Lee: uma autobiografia”, lançada em 2016, aborda o começo de sua vida e carreira, a luta dos narcóticos e o relacionamento com a família. A segunda, “Rita Lee: outra autobiografia”, lançada em 22 de maio, dias após a morte da cantora, na data de Santa Rita, sobre sua relação com o câncer de pulmão e a terceira idade.
Ao longo do bate-papo com jornalistas e fãs, Roberto abriu o coração sobre os segredos por trás do casamento de 47 anos com a ‘Rainha do Rock’. O compositor também deixou claro que houve altos e baixos — como em qualquer relação —, mas a vida ao lado de Rita foi marcada por diversão incessante e muitos aprendizados.
“Adotamos diversas estratégias orgânicas de convivência. Houve muito amor, muito carinho e união. Praticamente uma alquimia. É algo difícil de explicar. Foi como tomar um ácido e deixar acontecer”, brincou.
“Com a Rita, aprendi tantas coisas. Eu comecei a formatar música, porque até então só elaborava temas que não tinha começo, meio e fim. E a Rita ouvia aquilo e percebia que eu não me fixava naquele trabalho. Eu tocava muitos instrumentos acústicos, a guitarra não era meu estilo. Mesmo assim, me apeguei à disciplina e à metodologia capricorniana dela. Além disso, a Rita tinha a capacidade de trazer à tona o melhor das pessoas. Isso é fato, não constatação minha”.
Quase em lágrimas, Roberto também compartilhou os aspectos que mais amava na cantora: “A presença marcante, a voz, a doçura que ela tinha com todos os animais. Eu costumava dizer que ela era a própria ‘Mãe Natureza’. Nela, havia uma bondade muito grande, que foi herdada da mãe dela [Romilda Padula Jones], uma mulher muito especial”.
E acrescentou: “de qualquer forma, o carisma da Rita era algo excepcional. Quando viajávamos para fora do Brasil, eu percebia que todos que olhavam para ela e entendiam que se tratava de uma pessoa especial. Ela tinha uma força de atração magnética”.
“Uma Noite No Luna Park (Ao Vivo)” já está disponível na Deezer e nas demais plataformas de streaming de música. Conta com vocais de Rita e instrumental de Roberto.