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Há muitas chances em telecom, diz presidente do grupo Algar

Para Luiz Alexandre Garcia, presidente do grupo mineiro Algar, há muito espaço para empreendedores que ajudem a atender às demandas do setor — as atuais e as que ainda vão surgir


	Luiz Alexandre, ao centro: "Quando a Algar começou, em Uberlândia não se podia fazer mais de um interurbano por vez."
 (Fabiano Accorsi/EXAME.com)

Luiz Alexandre, ao centro: "Quando a Algar começou, em Uberlândia não se podia fazer mais de um interurbano por vez." (Fabiano Accorsi/EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 2 de agosto de 2013 às 18h27.

São Paulo - Tudo teve início em 1956, quando Alexandrino Garcia, então presidente da Associação Comercial de Uberlândia, juntou-se a outros empreendedores para criar uma companhia de telecomunicações que ligasse a cidade, no Triângulo Mineiro, à capital do estado.

"Os interurbanos eram feitos com a ajuda de uma telefonista", diz Luiz Alexandre Garcia, de 48 anos, neto do fundador e presidente do grupo Algar (além de telecomunicações, o Algar tem presença no agronegócio, em TI e em turismo). Quase 60 anos depois, palavras como interurbano e telefonista caíram em desuso — e termos como banda larga e fibra óptica entraram no léxico comum.

"A evolução nas telecomunicações é, de longe, a maior entre todos os setores de infraestrutura", afirma Garcia. "Mas ainda há muito a ser feito." Nesta entrevista a Exame PME, Garcia fala sobre os desafios nesse mercado. 

EXAME PME - De que forma uma estrutura de telecomunicações ruim atrapalha o desen­volvimento econômico?

Luiz Alexandre Garcia - Quando a Algar começou, em Uberlândia não se podia fazer mais de um interurbano por vez. Vamos supor que, para tomar uma decisão, um empreendedor dependesse de ligar para o Rio de Janeiro. A telefonista poderia fazer a ligação 15 minutos, 1 hora, um dia depois. Tudo dependia de quantas pessoas estivessem na fila. Era um entrave enorme para desenvolver a região.  

EXAME PME - E avançou muito? Ainda há muitos problemas de comunicação no Brasil. A ligação do celular cai, a internet sai do ar. 

Luiz Alexandre Garcia - A evolução nas telecomunicações é, de longe, a maior entre todos os setores de infraestrutura. O problema é que, embora a capacidade de transmissão de dados aumente exponencialmente, o consumo aumenta mais ainda.

Hoje, o consumidor quer enviar uma fotografia, o que consome certa banda. Amanhã, ele vai querer enviar um filme, que consome 100 vezes mais. Depois de amanhã, haverá mais pessoas fazendo a mesma coisa. E ninguém está disposto a esperar muito mais para transmitir o filme do que para enviar a fotografia — o que aumenta a percepção de que os serviços são ruins.  


EXAME PME - Por que minha internet vive saindo do ar? Já mudei várias vezes de operadora. 

Luiz Alexandre Garcia - Provavelmente porque há um número muito grande de usuários fazendo download ao mesmo tempo. É como o encanamento num edifício.

Se muita gente toma banho ao mesmo tempo, vai cair pouca água nos chuveiros. Nesses momentos, fica evidente que a infraestrutura não dá conta — nenhum estudo, pelo menos que eu já tenha visto, conseguiu prever o crescimento exponencial da utilização de banda larga. 

EXAME PME - Como consumidor, o senhor acha que os serviços das operadoras são bons?

Luiz Alexandre Garcia - Eu sou suspeito, né? Mas faça essa pergunta para meus filhos — um tem 14 e o outro 16. Eles vão dizer que a internet é muito lenta, pois os joguinhos deles precisam de uma velocidade cada vez mais alta. Eu tinha 200 Kbps de velocidade de internet na minha casa. Quando passei a ter 2 mega, achei fantástico.

Hoje tenho 20! Acontece que uma criança de 10 anos quer uma internet mais rápida do que eu. Enquanto estamos lendo e-mails, ela está jogando online com pessoas no Brasil e no mundo inteiro. O que pode estar bom para nós não está bom para os consumidores jovens. 

EXAME PME - Como melhorar? 

Luiz Alexandre Garcia - É preciso remover alguns entraves burocráticos. Hoje, há dificuldade em obter autorização para instalar torres — numas cidades é de um jeito, noutras é diferente.  Há lugares em que o tráfego está congestionado, mas não conseguimos autorização para instalar as antenas de que precisamos. O governo está trabalhando para aprovar uma lei — que chamamos de Lei das Antenas — para regularizar essas permissões. 

EXAME PME - Quais são as oportunidades para empreender no setor?

Luiz Alexandre Garcia - São muitas. Existe espaço para construir empresas de nicho que atuem em determinadas regiões geográficas, hoje desatendidas — é o caso da Gigalink, que aparece na reportagem. Essa empresa está ajudando a vencer um desafio importante no Brasil, que é prover a área rural e pequenos vilarejos sem acesso aos avanços das telecomunicações.


Outra frente é oferecer um serviço específico — um exemplo é a Neger [a empresa, que desenvolveu um sistema que capta o sinal da antena mais próxima e o amplifica, também foi analisada pela reportagem de Exame PME]. 

EXAME PME - O que o senhor achou da Cianet, que ajuda provedores que ainda dependem de ondas de rádio a se modernizar?

Luiz Alexandre Garcia - Há um grande mercado para uma empresa que se disponha a fornecer tecnologia a esses provedores. O rádio não é a tecnologia mais atual, e esses provedores precisam se atualizar para que possam fornecer internet com alta velocidade. Nós, na Algar,  também os queremos como clientes. Temos um projeto para vender tecnologias de vídeo e TV por assinatura a pequenos provedores. 

EXAME PME - Empresas de pequeno e médio porte têm futuro num mercado que parece dominado por grandes operadoras?

Luiz Alexandre Garcia - Há, hoje, mais de 100 operadoras no mercado brasileiro. Várias são bem pequenas, mas elas sempre terão seu espaço. Nos Estados Unidos existem milhares de empresas de telecom atuando em nichos. Acredito muito no potencial desses empreendedores.

As dimensões do Brasil são continentais. Temos uma população de quase 200 milhões de habitantes. Os serviços de telecomunicações são estratégicos para o desenvolvimento econômico de um país. As pequenas e médias empresas de telecom têm um papel fundamental para ajudar a suprir as necessidades atuais — e as muitas que ainda vão aparecer, trazidas  pelo surgimento de novas tecnologias. 

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